ESPECIAL – Mais Leite com cooperação

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Às quatro horas da manhã, Mercelene Belucio Cezana (foto ao lado) já está levando as vacas para o curral para a primeira ordenha do dia. Na propriedade localizada no Córrego Bandeira, no município de São Mateus, norte capixaba, ela é a responsável por esta etapa da produção de leite. O fato se repete a tarde novamente. Os animais recebem a higiniezação das tetas antes de Mercelene colocar a ordenhadeira mecânica para funcionar. “O cuidado com os animais aqui é fundamental. Precisamos estar atentos com a higiene e com o bom funcionamento dos equipamentos”, diz a produtora. Os equipamentos permitiram otimizar o tempo na atividade e foram instalados devido a evolução de produção e aumento de renda da família. 

Esse crescimento teve início em 2008 quando aderiram ao projeto Leite Certo, desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/ES) e pela Cooperativa Veneza. Na época, o produtor Francisco Cezana produzia cerca de 150 litros de leite com suas vinte e cinco vacas, uma média muito baixa nos três hectares. Com a adesão ao projeto, o produtor rural começou a adotar técnicas recomendadas pelos profissionais orientadores do programa, como a adubação correta na pastagem através dos resultados de análises, melhoria no sistema de irrigação e na alimentação dos animais com suplemento. Hoje, em cinco hectares irrigados com rotação de pastagens, a propriedade registra produção de 950 litros de leite por dia e uma média de 25 litros por vaca ao dia, uma das melhores do Espírito Santo. “A assistência técnica foi fundamental para esse resultado. A necessidade de produzir bem me fez entrar no projeto e trabalhar com tecnologia para aprimorar. Não tem outro caminho”, destaca Francisco.

O trabalho na propriedade é acompanhado de perto pelo consultor técnico do projeto, o zootecnista Robson Pereira Santana, da Coopttec, Cooperativa de Tecnologia, Educação e Gestão, contratada pelo Sebrae para desenvolver a ação. Segundo Santana, o sucesso do projeto depende, primeiramente, da vontade do pecuarista em mudar. “É preciso que o produtor queira adotar mudanças no sistema de produção. A partir daí realizamos um diagnóstico na propriedade para ver a situação e planejar as mudanças necessárias. Depois vamos para a execução das ações dentro da porteira”, explica o técnico.

Parceria entre a experiência do produtor Francisco e as orientações técnicas do zootecnista Robson está fazendo a diferença nos resultados da atividade

 

Entre os fatores responsáveis por esses resultados positivos estão a adubação das pastagens, o melhoramento genético do rebanho e a ração balanceada e concentrada. Todas essas práticas são adotadas com o acompanhamento dos técnicos do programa. No campo, o produtor Francisco tem pastagem com as variedades braquiária e tifton e realiza o rodízio dos animais nos piquetes a cada 17 dias. O melhoramento genético é feito com inseminação artificial e a alimentação com o pasto e ração durante todo ano com acréscimo de suplemento a base de cana no inverno. “Com essas técnicas os produtores do projeto estão conseguindo manter boa produção o ano todo com volume elevado e constante. Isso estabiliza a renda na atividade também” diz Robson Santana.

O projeto, que atualmente conta com 285 participantes, tem ajudado os pecuaristas a elevar a produtividade, reduzindo custos, aumentando a receita e melhorando a qualidade do leite produzido. Com o resultado satisfatório apresentado pelo projeto Leite Certo, o novo contrato foi renovado em 2015 para 386 produtores cooperados a Veneza serem atendidos. “Antes da implantação, os produtores tinham uma média de produção de seis litros por vaca a cada dia e atualmente produzem em torno de 10 litros de leite, de acordo com Thiago Martins, analista da Unidade de Atendimento ao Agronegócio do Sebrae/ES e gestor do Projeto Leite Certo,  parceria entre o Sebrae e a Cooperativa Veneza.

Martins afirma que as primeiras metas pactuadas foram atingidas, com destaque para o aumento da produção, frequência na recepção de leite e na gestão dos custos na propriedade. “Já as próximas metas são desafiadoras e estão focadas na eficácia da propriedade, em especial, produzir mais leite com menos animais e em espaços menores, o desafio de preparar e estocar alimento para o gado depois desse período de seca, e, um dos maiores desafios, manter os custos de manejo devidamente controlado visando o equilíbrio econômico do negócio. Isso somente com inovação e gestão”, aponta o analista.

Pais, filhos e técnico comemoram resultados na produção leiteira e no bem estar da família

 

O exemplo de Francisco resume bem o sucesso desse traballho. Antes de ir para o campo, a família morava na cidade. Vendeu o carro e comprou um alqueire de terra que cuidou e vendeu bem para comprar a propriedade que está hoje de cinco alqueires. Com os bons resultados da atividade pecuária, aliada a produção de café e pimenta que também tem, conseguiu aumentar a renda e formou, recentemente, a filha em medicina veterinária. “Vou à cidade só pra resolver minhas coisas. Quero ficar na roça”, diz sorrindo.

 

 

Franco Fiorot

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