Os mercados na semana que se encerra deram demonstrações do quão dependentes estão das políticas de expansão monetária dos três principais bancos centrais do mundo.
Nos Estados Unidos o FED não surpreendeu, manteve os juros como estão, mas sutilmente suprimiu da declaração da reunião a linha que mencionava dos riscos provenientes do mercado financeiro. A leitura foi de que os juros devem ficar inalterados por mais alguns meses, mas eventualmente não até dezembro.
A surpresa mesmo veio do Banco Central Japonês, de quem se esperava mais uma injeção de dinheiro e eventualmente taxas ainda mais negativas de juros, o que não aconteceu e provocou uma valorização acentuada do Iene e uma queda forte do índice Nikkei, contaminando as bolsas europeias e americanas.
O índice do dólar (DXY) cedeu para o mais baixo nível desde 24 de agosto de 2015 ajudando os três mais seguidos índices de commodities a fazer uma nova alta no ano. O CRB teve cinco de seus componentes subindo mais de 5%, como a prata, o açúcar demerara e o petróleo. Apenas três matérias-primas da cesta cederam, o gás natural, o café arábica e o suco de laranja.
O contrato “C” de novo tomou um tombo feio em uma sessão, na quarta-feira, voltando a ficar próximo dos US$ 120.00 centavos por libra. Nem mesmo o RealBrasileiro firmando para os patamares de fim de agosto último e o Peso Colombianono seu mais forte nível desde novembro conseguiram impedir uma onda de vendas de especuladores. Se convertido nas duas moedas, o arábica da ICE, negocia a R$ 417.68 centavos por libra e a COP 3461.58 centavos por libra – preços de julho e novembro passado, respectivamente.
No tocante ao clima as chuvas na Colômbia amenizaram as preocupações, enquanto no Vietnã as erráticas precipitações diminuem a percepção de um eventual problema. Ainda assim vimos 10,000 lotes de compras de call-spreads (aposta levemente altista) no mercado Londrino, com o preço de exercício da perna compradora sendo US$ 1,700 /ton. No Brasil a conversa climática foi sobre a primeira frente fria que chegou ao Paraná e Sudeste, notícia que ficou dentro do país com pouca atenção das agências de notícias internacionais.
Duas estimativas de safras brasileiras foram divulgadas recentemente. A Safras & Mercados prevê a produção de 2016/2017 de 56.4 milhões de sacas, sendo 42.8 milhões de arábica e 13.6 milhões de conilon – acima das 50.3 milhões de sacas de 2015/2016 (36.9 + 13.4). A Unicafé revisou para cima sua estimativa para a safra que vai começar em 800 mil sacas, estimando agora uma colheita de 54.8 milhões de sacas, divididas entre 43.1 milhões de arábica e 11.7 milhões de conilon – anteriormente o número da respeitada exportadora era de 54 mln (41.8 e 12.2).
Apareceram algumas amostras de café novíssimo colhidos na região de Boa Esperança confirmando um percentual alto de grãos graúdos, depois de uma safra 2015/2016 bem miúda. No Espírito Santo também foram reportadas a chegada das primeiras amostras do conilon com rendimento e peneiras bem baixas, dentro da esperada quebra que já se fala há algum tempo.
Os diferenciais de reposição para a safra corrente de qualidades finas firmaram com a queda do terminal, mas no FOB as ofertas para cafés menos nobres enfraqueceram levemente, principalmente para o segundo semestre do ano. A Flavour Coffee citou em seu relatório que o prêmio de cafés graúdos contra os miúdos está diminuindo para os embarques de junho em diante, efeito da expectativa de a safra ser volumosa de peneira 2017/2018.
O terminal está tentando recuperar depois da queda da semana e o incremento de contratos em aberto servem de indicador de um renovado interesse de compra nos atuais patamares. Os fundos, segundo o COT, liquidaram mais uma porção de suas posições compradas e acredito já estarem levemente vendidos (líquido) considerando o movimento das últimas três sessões.
A desvalorização do dólar americano é outro ponto positivo que deve encorajar ainda mais compra de commodities (sabe-se lá até quando) e talvez contribuir para um respiro de Nova Iorque para eventualmente buscar os US$ 130.00 centavos por libra, basicamente se mantendo dentro do mesmo intervalo de preços que vimos durante o mês de abril.
A indústria cafeeira se reunirá no Guarujá de quarta a sexta-feira para trocar suas opiniões sobre o quadro mundial de café e, claro, negociar cafés.
Rodrigo Corrêa da Costa
Consultoria/Extensão Rural