O desmatamento na Amazônia cresceu nos meses de novembro e dezembro como “nunca visto”. A afirmação foi feita ontem pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao divulgar a dimensão das áreas devastadas entre agosto e dezembro de 2007 na região. No período, foram registrados 3.235 km² de floresta derrubada – dos quais 59,4% (1.922 km²) apenas nos últimos dois meses do ano. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) atribui o crescimento ao período de estiagem no fim do ano. Marina alegou que os dados acenderam o “sinal de alerta” no governo.
O levantamento foi feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por meio do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter). O desmatamento detectado em novembro foi de 974 km² e, em dezembro, de 948 km². Na comparação com o último período de estiagem, em 2004, a área desmatada subiu assustadoramente. Há três anos, novembro havia registrado 419 km² de desmatamento e dezembro 140 km². “É motivo de preocupação para o governo e a sociedade”, enfatizou Marina.
O aumento atípico para o período é um balde de água fria na queda anual consecutiva que o Meio Ambiente vinha registrando no índice de desmatamento da Amazônia. O dado fica mais grave porque os satélites do Deter só detectam cerca de 40% das derrubadas. Os estados de Mato Grosso e Roraima lideram a devastação da floresta representando, respectivamente, 53,7% e 16% do total desmatado de agosto a dezembro.
Coordenador técnico do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, estima que o desmatamento tenha sido maior no período, chegando a 7 mil km². “Na pior das hipóteses”, ressaltou. Apesar da alta, Capobianco não considera a situação uma “grande preocupação”. O secretário se ampara na avaliação anual. A taxa de desmatamento na Amazônia caiu de 27 mil km², em 2003-2004, para 11,2 mil km² em 2006-2007, o que representa uma queda de 59% nos índices de derrubadas.
Reunião de emergência
Alertado pela ministra ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou para hoje cedo uma reunião de emergência para discutir o assunto. Além da ministra, devem participar do encontro os ministros da agricultura, Reinhold Stephanes, da Justiça, Tarso Genro, da Defesa, Nelson Jobim, e da Casa Civil, Dilma Rousseff. “O governo não quer pagar para ver”, disse Marina.
As discussões prometem ser extensas. Além da estiagem prolongada, a ministra atribuiu o desmatamento à alta do preço nas commodities – produtos primários negociados em bolsas de valores, como a carne bovina e a soja. Na semana passada, porém, o ministro Stephanes foi taxativo ao dizer que “o desmatamento que ocorre no Brasil hoje não tem relação com o aumento da produção”.
Na sexta-feira, o ministério divulgará uma relação com 31 municípios proibidos de desmatar. São Félix do Xingu (PA) está no topo do ranking como o campeão de desmatamento. Também fazem parte da lista Cumaru do Norte, Altamira e Novo Progresso, no Pará e no Mato Grosso, Colniza, Marcelândia e Querência.
Correio Braziliense