A demanda mundial de pescado deve aumentar em 100 milhões de toneladas até 2030, com o consumo saindo de 16 para 22,5 quilos por pessoa ao ano. O Brasil tem potencial para responder por 20% dessa demanda adicional. A estimativa é da Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em relatório que será divulgado no começo de dezembro, segundo o ministro da Aqüicultura e da Pesca do Brasil, Altemir Gregolin.
O ministro revelou que o governo prepara medidas para estimular rapidamente o cultivo em cativeiro, para responder por 80% da do aumento da produção, das atuais 1milhão para 20 milhões de toneladas por ano. A Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap) “formata” com o BNDES uma linha de financiamento para a aqüicultura, que deve ser de no mínimo R$ 500 milhões por ano, para produção em cativeiro.
Além disso, o governo quer criar a “Embrapa da aqüicultura” para melhorar a eficiência da produção e desenvolvê-la de forma sustentável. Um laboratório será inaugurado em São Paulo em fevereiro próximo, com prioridade na reprodução de alevinos de bijupirá, peixe de água salgada que, segundo o ministro da Pesca, “pode se tornar o salmão brasileiro”.
Ele conta que uma empresa dos EUA que produz salmão no Chile está interessada na produção na Bahia desse peixe que alcança até cinco quilos. Duas empresas brasileiras também já pediram à Seap cessões para iniciar a produção em cativeiro de algumas espécies em São Paulo e em Pernambuco.
Na Bahia, duas companhias já estão com projetos em andamento para criação do peixe, segundo Gitonilson Tosta, assessor de projetos institucionais da Bahia Pesca. A brasileira Aquafish e a Bahia Aqüicultura, subsidiária da britânica Johnson Sustainable Seafoods, pretendem produzir, cada uma, 5 mil toneladas da espécie por ano.
O interesse de empresas estrangeiras em produzir em cativeiro no Brasil tem crescido recentemente, depois que o governo federal autorizou a Seap a conceder o direito de exploração de águas da União a pescadores e empresas e definiu as normas para a sua liberação. Só a espanhola Pescanova pediu cessão de 300 hectares de costa em Pernambuco. Outras empresas querem focar na produção de tilápias, para atender a demanda dos EUA, que o utiliza no sanduíche McFish.
Um edital também já foi divulgado para cultivo em cativeiro na hidrelétrica de Itaipu, mas apenas para produzir 50 mil toneladas de pacu. Os pescadores locais querem produzir tilápia, mais rentável, mas há problemas com o Ibama. Além disso, o tratado entre o Brasil e o Paraguai proíbe esse peixe na barragem, considerado exótico.
A demanda de pescado cresce no mundo inteiro, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão por uma produção sustentável. Daí a preocupação ambiental, até para que a produção futura possa ser comercializada em mercados como o europeu e o americano.
Segundo Gregolin, o consumo no Brasil está crescendo 20% ao ano devido às vendas em grandes redes de supermercados. E o governo quer estimular a pesca oceânica para captura de sardinhas, corvina, camarão, lagosta, assim como o cultivo em cativeiro de espécies como tambaqui, pirarucu, pintado, pacu, além do bijupirá.
De outro lado, a exportação também será estimulada. Este ano, porém, declina, afetada pelo câmbio. Até outubro, as vendas externas ficaram em US$ 242 milhões, comparado a mais de US$ 300 milhões no mesmo período do ano passado. A exportação de lagosta fica abaixo dos US$ 84 milhões do ano passado, com a introdução de novos controles, mas o potencial é grande para o futuro.
Valor Econômico