O delegado da Polícia Federal de Uberaba (MG), Ricardo Ruiz da Silva, disse ontem que o presidente da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) confirmou, em depoimento, que a empresa usava soda cáustica no leite longa vida integral.
O delegado se recusou a fornecer o nome do presidente da cooperativa, mas a Folha apurou que ele se chama Luis Galberto Ribeiro Ferreira.
O presidente é um dos 27 suspeitos presos durante a operação Ouro Branco, realizada anteontem pela PF nas cidades de Uberaba e Passos. Dos 27, 14 foram liberados ontem.
A ação tinha o objetivo de desbaratar uma quadrilha que, segundo a PF, adulterava leite longa vida (de caixinha) no Triângulo Mineiro para aumentar o prazo de validade e o volume do produto.
Além da Copervale, uma segunda cooperativa, a Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro), de Passos, estaria envolvida. Juntas, as duas produziriam 400 mil litros de leite por dia.
Segundo a investigação, além da soda, outros produtos impróprios para o consumo, como água oxigenada e citrato de sódio, eram adicionados ao leite. A soda cáustica pode, por exemplo, danificar a mucosa intestinal, causando até perfurações. A água oxigenada pode gerar esofagite e gastrite.
Depoimento
“O presidente da empresa confirmou o uso da soda cáustica. Ouvimos funcionários desde os que faziam análise química do leite até o coordenador de todo o processo e a maioria também confirmou o uso da soda. Também disseram que não tomavam o leite porque poderia fazer mal”, disse Silva.
Além do presidente da Copervale, continuam presos em Uberaba três diretores, um químico e um fiscal do Ministério da Agricultura, suspeito de facilitação. Seus nomes não foram revelados pelo delegado.
O químico seria o responsável pela fórmula adicionada no leite. Ele negou em depoimento, segundo o delegado, ter sido responsável pela fraude.
Silva disse ainda que a PF vai investigar a possibilidade de o químico ter passado a fórmula para outras cooperativas. “Por isso é necessário analisar amostras de todas as marcas.”
“Começamos a receber ligações de funcionários de outras empresas do país dizendo que há vários locais colocando soda cáustica no leite”, disse.
As superintendências da PF no Paraná, no Rio Grande do Sul, no Espírito Santo e em Pernambuco já iniciaram a coleta de amostras de leite. Em São Paulo, a PF coletou amostras em Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Cruzeiro.
Ontem, o Ministério da Agricultura divulgou nota dizendo que “encontrar indícios de fraudes em duas cooperativas não significa que a qualidade de todo o leite produzido no Brasil esteja comprometida”.
Folha de São Paulo