O aperto nas ações de fiscalização e um acordo de equivalência firmado com a China reduziram pela primeira vez a entrada de defensivos agrícolas por meio de contrabando no Brasil. Segundo dados preliminares de um levantamento ainda inédito do Sindicato da Indústria de Defensivos Agrícolas (Sindag), os produtos contrabandeados movimentaram cerca de US$ 210 milhões no ano passado, uma queda de US$ 150 milhões, ou quase 42%, em relação aos US$ 360 milhões de 2006.
Os números podem sofrer pequenas alterações, mas mostram que, enfim, o esforço para coibir a entrada ilegal de defensivos no país começou a dar algum resultado. O trabalho das associações de classe começou timidamente em 2001, mas ganhou corpo a partir de 2004, em ações coordenadas com a Polícia Federal.
O primeiro levantamento formal do rombo causado pelos defensivos contrabandeados foi feito em 2005. Naquele ano, os produtos que entraram no país de forma ilegal movimentaram US$ 300 milhões, ou 7,2% do faturamento do setor, de US$ 4,1 bilhões. No ano seguinte, o mercado do contrabando, sempre puxado por produtos chineses, cresceu 20%, para US$ 360 milhões – os ilegais corresponderam a 9,2% do setor, que teve faturamento total de US$ 3,9 bilhões em 2006.
Em 2007, segundo os dados prévios do sindicato, a indústria acumulou vendas de pelo menos US$ 4,5 bilhões, o que, somado à queda da entrada de produtos ilegais no Brasil, derrubou a fatia dos contrabandeados para 4,5%. “Antes [do início dos levantamentos], o crescimento do contrabando era exponencial”, afirma José Roberto da Ros, diretor executivo do Sindag.
O acordo com a China para registro de defensivos agrícolas por equivalência de composição também foi vital para a queda do contrabando e fortalecimento de produtos formais chineses no mercado brasileiro. “O registro de um novo produto chega a demorar mais de 36 meses, mas, com o produto por equivalência, isso pode ser feito em 12 meses”.
Aprovada em 2006, a lei para registro de produtos por equivalência dispensa alguns testes para produtos genéricos com mesma formulação de outros de uso já autorizado. Segundo o Sindag, entre 2000 e 2006 o número de produtos formulados (já prontos) importados da China subiu de 68 para 117. Nesse mesmo período, o total de princípios ativos (formulados nas fábricas brasileiras) passou de 235 para 242.
A entrada de produtos chineses genéricos no mercado brasileiro está em crescimento, mas a balança comercial não registrará mais a importação dos chamados organofosforados, defensivos à base de fósforo que a China deixou de fabricar e comercializar no dia 1º de janeiro. Essa linha inclui o metamidofós, inseticida utilizado no combate ao percevejo e à lagarta da soja.
O consumo do defensivo é de 20 milhões a 25 milhões de litros por ano. Metade vinha da China, mas agora toda a demanda deverá ser atendida pelos fabricantes nacionais, segundo Túlio Teixeira de Oliveira, diretor-executivo da Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas (Aenda).
O custo da versão chinesa, de R$ 6 por hectare, era cerca de 20% menor que o dos produtos nacionais, o que deve significar aumento de custo para os sojicultores. “Mas, como as fábricas nacionais vão aumentar a produção, elas terão ganho de escala, o que deve diluir esse aumento de preço”, afirma Oliveira.
“Não faltará defensivo no mercado”, afirma Michael Haradon, presidente da Fersol, uma das fabricantes nacionais. De acordo com ele, além de aumentar as vendas para o mercado interno, a companhia deve exportar para outros países da América Latina.
Valor Econômico