Bancos privados e grandes cooperativas de crédito avançam no financiamento ao agronegócio, um dos poucos setores da economia em crescimento – no ano passado, o segmento teve alta de 1,8% no país em relação a 2014, ante queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no mesmo período. Além do Banco do Brasil, responsável por quase 60% do crédito rural do Plano Safra 2015/16, Bradesco, Itaú e Santander têm procurado estreitar as relações com o campo na oferta de linhas para custeio com juros controlados (mais baratos). A participação de instituições privadas no financiamento da produção agropecuária do país cresce num momento de possibilidade de recuo dos volumes subsidiados pelo governo federal em meio ao cenário adverso da economia.
O objetivo é buscar uma fatia maior de financiamento que ainda está concentrada nas mãos de bancos públicos. Este ano, o Banco do Brasil já liberou R$ 1,4 bilhão para o pré-custeio da safra 2016/17. Já a Caixa liberou cerca de R$ 500 milhões, até fevereiro, de um montante total de R$ 8 bilhões previstos para o crédito rural em 2016. Sozinhas, as instituições públicas concederam R$ 34,9 bilhões em empréstimos com juros controlados para operações de custeio e comercialização, no segundo semestre do ano passado, e atingiram fatia de 62% do total liberado com essas finalidades, ante 52% em igual período de 2014, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
De olho nos negócios do campo, o Santander, que reúne 85 mil clientes da cadeia do agronegócio, prevê oferecer este ano 20% a mais em recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e recursos livres (captados pelo próprio banco) na comparação com 2015. “Estamos renovando nossa estratégia e melhorando as ofertas para o agronegócio”, afirma o superintendente executivo de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar. No ano passado, a carteira de financiamentos do banco para clientes da cadeia do agronegócio aumentou 10%, de R$ 40 bilhões para R$ 44 bilhões.
Assim como o Santander, o Itaú BBA, que atua no atacado e pertence ao grupo Itaú Unibanco, vem aperfeiçoando ao longo de dois anos um trabalho de corpo a corpo no campo. Ambas as instituições estão contratando agrônomos para contato direto com os produtores para se adequar às particularidades do agronegócio e ganhar cada vez mais espaço. “O objetivo é atuar tanto no crédito quanto na gestão de risco, que é a frente mais importante em meio a um ambiente de volatilidade e alto endividamento”, diz Antonio Carlos Ortiz, diretor da área de Clientes Produtores Rurais do Itaú BBA.
A coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, afirma que o agronegócio tende a encontrar mais alternativas para financiar suas operações com a maior participação de bancos privados no setor, mas critica as taxas de juros apresentadas aos produtores, reflexo, segundo ela, da deterioração atual da conjuntura econômica. A tarifa prevista para os empréstimos de custeio da agricultura empresarial no Plano Safra 2015/2016 é de 8,75% ao ano. Em 2014, o juro foi de 6,5%. “O produtor não está conseguindo acessar esse crédito, o que acaba diminuindo os investimentos em expansão agrícola”, observa.
INVESTIMENTO MENOR
O governo prevê financiamento do Plano Safra 15/16 abaixo da meta anunciada. O atual cenário da economia e a queda no preço das commodities agrícolas no mercado internacional explicam a baixa no repasse para investimentos. Nesse segmento, o aporte de bancos públicos e privados foi de R$ 13 bilhões entre julho e dezembro, ante R$ 20,4 bilhões no mesmo intervalo de 2014/15.
O diretor-presidente do Bancoob, banco comercial privado, controlado pelas cooperativas centrais do Sicoob, Marco Aurélio Almada, lembra que as fontes de recursos para o setor estão escasseadas. “O dinheiro ficará ainda mais caro e, alheio à nossa vontade, pode faltar recurso. E os juros aumentarão”, observa. Na safra 2014/2015, a instituição registrou aumento de 15% no total de empréstimo ofertado. Já na de 2015/2016, a alta é estimada em 5%.
No Bradesco, o volume de recursos para o próximo ano safra 2016/2017 dependerá da disponibilidade e de regras governamentais, segundo informou o banco.
No caso dos bancos privados, custeio e comercialização receberam 139% mais recursos entre julho e dezembro. Foram R$ 4,14 bilhões em crédito com juros livres no segundo semestre de 2015, ante R$ 1,7 bilhão em igual período do ano agrícola anterior.
A estimativa total de crédito para o Plano Safra 2015/2016, considerando as operações com juros controlados, e dos bancos privados, com taxas livres, é de R$ 187,7 bilhões, incluindo custeio, comercialização e investimentos. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o agronegócio brasileiro utilizou parcela de R$ 76,5 bilhões desse total entre julho e dezembro do ano passado. O Plano Agrícola e Pecuário (PPA) de cada período termina em 1º de julho.
enquanto isso…
…mais uma safra recorde
A safra de grãos no Brasil deste ano deve bater novo recorde. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a segunda estimativa para a colheita deste ano indica produção de 211,3 milhões de toneladas para 2016. O resultado, se confirmado, será 0,9% superior ao de 2015, até então o maior da história, que registrou 209,5 milhões de toneladas. A área plantada é de 58,4 milhões de hectares, com alta de 1,2% na comparação com os dados de 2015 (57,7 milhões de hectares).
Estado de Minas – Online