Cana ajuda a elevar eficiência no pasto

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O avanço da cana-de-açúcar sobre áreas de pastagens pode não ser “o bicho-papão” que se desenha. Segundo estudo da Agripoint Consultoria Ltda, o impacto é mínimo em termos de área. E a cana pode ajudar a aumentar a produtividade da pecuária – leiteira e de corte. “A grande característica da pecuária é a ociosidade”, afirma Miguel da Rocha Cavalcanti, analista da Agripoint. Segundo ele, a atividade ainda tem espaço para aumentar a eficiência, isso porque, de acordo com dados do setor, a taxa de lotação animal por hectare no Brasil é de 0,86 – na Argentina é de 2,5.


 


“Do lado da oferta de carne, o impacto da cana será nulo”, diz. Ele argumenta, no entanto, que microrregionalmente, as conseqüências podem ser grandes – isso porque a cana tende a provocar a migração da pecuária para outros locais, a aumentar o confinamento e até mudar o perfil produtivo da atividade. Cavalcanti acrescenta que o País é o único no mundo que tem capacidade de aumento de oferta – os principais concorrentes teriam restrições. E cita como exemplo o estado de São Paulo que, nesta década, a área de pastagem diminuiu cerca de 600 mil hectares, mas o rebanho se manteve em 13,9 milhões de bovinos. “Muda o perfil produtivo. Aumenta-se o confinamento ou deixa-se de ter cria e fazer apenas engorda na região”. O analista diz que a realidade brasileira abre a possibilidade da integração lavoura-pecuária e, neste contexto é que a cana-de-açúcar entraria. É o caso de Frutal (MG), em que a instalação de uma usina sucroalcooleira está ocorrendo em parceria com os criadores locais. A atividade pecuária ainda é a principal do município – cerca de 60 mil hectares ou 30% da área agricultável – mas a cana avança. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Frutal, Mauri José Alves, existem aproximadamente 40 mil hectares com a lavoura. “A cana é mais uma cultura a ser explorada. É uma novidade positiva ao produtor”, avalia. Para a instalação da Usina Cerradão, as terras de pecuária do grupo e de produtores locais foram revertidas em cana, ao mesmo tempo em que se cria um grande confinamento, abastecido com bagaço da lavoura, além de outros resíduos.


 


Desta forma os produtores que quiserem usar a totalidade de suas propriedades e, mesmo assim, continuarem criando gado, têm uma alternativa. Florêncio Queiroz, diretor agrícola da usina, diz que estão sendo investidos R$ 180 milhões – 70% com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – para construção da unidade que irá moer 1 milhão de toneladas de cana no primeiro ano. O projeto abrangerá 30 mil hectares até 2012. No confinamento serão 30 mil bovinos. “A gente acredita que integrando as duas atividades só temos a ganhar”, afirma Queiroz. Segundo ele, a rentabilidade da cana é o dobro da pecuária: R$ 400 por hectare para o fornecedor, R$ 300 por hectare para o arrendador e R$ 200 por hectare para o gado de corte. Foi isso que atraiu o ex-pecuarista Marcelo Queiroz, que arrendou 95% de sua fazenda e deixou a atividade. Após o período de arrendamento – de seis anos – ele pretende também ser fornecedor. “Somos primários na cultura, tínhamos de aprender”, explica. Já o pecuarista Louribal Francisco de Souza vai deixar entre 60% a 70% de sua área para a cana e, no restante, cultivar abacaxi e criar gado. “É uma opção para diversificar a cultura”, diz. Souza tinha um plantel de 1,4 mil animais e o reduziu para 900 ao ceder as terras à cana. Mas pretende aumentar o seu rebanho, usando o confinamento. Em dois anos terá 500 animais a pasto e número igual no cocho. “A cana está me obrigando a profissional a atividade pecuária”, diz.


 


Pelos seus cálculos com a lavoura sucroalcooleira ele terá uma rentabilidade 50% superior à de cria, ao mesmo tempo em que terá insumo para os animais e, dependendo do preço da entressafra, com o boi gordo oriundo de confinamento, pode ter uma renda maior que a atual na atividade pecuária.


 


 


Gazeta Mercantil – SP


 

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