Os últimos meses de 2015 estão sendo marcados por intensa movimentação na cafeicultura capixaba. Diversas são as ações das quais a equipe de cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) participa.
A produção, a produtividade e a qualidade da cafeicultura capixaba avançaram sobremaneira graças aos resultados obtidos com o planejamento e, principalmente, com a integração entre pesquisa, assistência técnica e extensão rural, promovidos pelo Incaper. Estes avanços foram observados não apenas no Espírito Santo, mas atraíram a atenção também de instituições de diversas partes do Brasil e do mundo.
“Isso mostra a visibilidade e o reconhecimento do trabalho contínuo que o Incaper faz com o café. Já existe o reconhecimento brasileiro e internacional de que o Espírito Santo e o Incaper se constituem numa referência em termos de planejamento, pesquisa, assistência técnica e extensão rural. Isso tem dado certo no desenvolvimento e na evolução da cafeicultura do Estado. Por isso tanta gente quer entender como é construído esse resultado, tem curiosidade de conhecer e também de adaptar isso nas suas regiões ou nos seus países”, disse Romário Gava Ferrão, pesquisador do Incaper e coordenador do programa estadual de cafeicultura.
Segundo Ferrão, o ano todo da cafeicultura é movimentado assim. A seguir, apresentamos algumas das principais ações realizadas nos últimos meses.
– Feira Internacional do Café em Belo Horizonte, MG.
A cafeicultura capixaba estava representada. “Foi importante porque teve oportunidade de estar no espaço de cafés especiais do Espírito Santo. Teve também um fórum de discussões ligado à evolução da qualidade não só do arábica mas também do conilon” disse Ferrão.
– Treinamento de extensionistas
Um número expressivo de extensionistas do Incaper, 75 ao todo, participou de um treinamento sobre boas práticas agrícolas. Eles foram capacitados justamente para orientar o produtor rural de base familiar a respeito da sustentabilidade. O treinamento é a base para a cafeicultura sustentável no Estado.
– Apresentação na Assembleia Legislativa
O planejamento, os avanços e os principais desafios da cafeicultura capixaba foram apresentados à Assembleia Legislativa, durante uma reunião da Comissão de Agricultura, presidida pela deputada Janete de Sá.
– Palestra sobre melhoramento genético
Rotineiramente, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) convida profissionais da pesquisa, do ensino, para falar de temas considerados relevantes. Romário Gava Ferrão fez palestra para 60 alunos de mestrado e doutorado, além de professores. “Eles tomaram conhecimento do programa de melhoramento genético desenvolvido pelo Incaper, que foi muito importante para a cafeicultura do Espírito Santo. No fim, houve uma discussão a respeito do programa, dos resultados e o que se pretende para o futuro. Tivemos também a oportunidade de conhecer a estrutura de laboratórios, e isso abriu a possibilidade de uma parceria da pesquisa na área de café”, animou-se Ferrão.
– Seminário Fapes/Cnpq
“No ES, existem 17 projetos nas diferentes áreas do conhecimento financiados pela Fapes e pelo CNPq. O projeto de melhoramento genético do café realizado pelo Incaper foi apresentado no seminário da Fapes/CNPq, realizado para esta finalidade. A avaliação e os resultados obtidos nesses projetos foram considerados muito positivos por todos que participaram e pela banca examinadora. O projeto foi considerado destaque, porque alcançou os objetivos e metas propostos. Isso abre possibilidade para que esses projetos sejam refinanciados. É muito interessante porque, além demostrar resultados, teve o reconhecimento por ter cumprido metas e abre possibilidade de renovação.”, pontou Ferrão.
– Intercâmbio Rondônia
“Rondônia busca uma aproximação muito forte com o Espírito Santo. Vários setores do Governo, secretarias, Ministério da Agricultura, Embrapa Rondônia já estiveram no Estado, acompanham o desenvolvimento da cafeicultura capixaba e percebem que Rondônia tem potencial, mas está em latência, está adormecido. Setores organizados querem dar dinamicidade, movimentar a cafeicultura em Rondônia” explicou Ferrão. Quatro pesquisadores do Incaper foram a Rondônia para dar um treinamento teórico e prático sobre cafeicultura. Foram apresentadas ações de aspectos tecnológicos e de transferência de tecnologia, com ênfase na integração entre pesquisa, assistência técnica e extensão rural. “Treinamos praticamente quase todos os técnicos que atuam na cafeicultura de Rondônia. E aproveitando essa oportunidade, conhecemos a principal base de pesquisa deles. Conhecemos as fazendas da Embrapa Rondônia e traçamos em conjunto um plano de trabalho. Uma das coisas que nos chamou atenção é intercâmbio de materiais genéticos como estratégia de melhoramento. Tem material de Rondônia que nos interessa, que pode ser avaliado e até utilizado em cruzamentos com materiais aqui do Espírito Santo”, disse Ferrão.
– Simpósio de qualidade e identificação geográfica
Uma parceria entre Incaper, Ifes (Venda Nova do Imigrante, Alegre e Ibatiba), Ministério da Agricultura, Embrapa e Sebrae visa unir esforços para reforçar o programa de produção de cafés especiais no Espírito Santo. “Durante esse ano tivemos a oportunidade de fazer reuniões com esses parceiros e levamos um seminário para discutir os avanços e as estratégias para promover essa qualidade com mais agilidade. Uma das questões, já em operacionalização, é colocar os cafés do Espírito Santo, tanto o arábica das montanhas quanto o conilon, como área de indicação geográfica. Com esses trabalhos podemos ter no futuro a indicação geográfica para esses cafés. Isso dá visibilidade à cafeicultura, agrega valor, faz marketing desse café, promove a qualidade do café e a região. No simpósio, foram dados os encaminhamentos para o estabelecimento da indicação geográfica”, explicou Ferrão.
– África
Uma missão formada por técnicos de países sul-africanos esteve no Espírito Santo. Representantes do Quênia, Costa do Marfim, Uganda e Tanzânia visitaram a cafeicultura capixaba. “São países em que o robusta e o conilon têm grande importância. Eles vieram conhecer a evolução da cafeicultura e ficaram impressionados com o planejamento, o trabalho conjunto e contínuo em todas as áreas do conhecimento. Ficaram impressionados, também, com a integração entre pesquisa, assistência técnica e extensão rural. Saíram daqui com o propósito de tentar fazer acordo de cooperação técnica entre esses países e o Espírito Santo. Eles apresentaram a cafeicultura de seus países e nós verificamos que um dos pontos importantes é o intercâmbio de germoplasma, uma vez que a África é o berço do café. A gente percebe que é uma cafeicultura que precisa de planejamento, organização, pesquisa…, os números que eles apresentaram mostram que é uma cafeicultura um pouco estagnada em termos de produtividade. É importante o aspecto econômico e social, mas precisa de profissionalização com planejamento, pesquisa, assistência técnica contínua para promover desenvolvimento mais adequado do café para esses países. E foi essa experiência que eles vieram buscar na cafeicultura capixaba”, disse Ferrão.
– Visita técnica México
O México tem uma grande área dedicada ao cultivo de café, mas uma baixa produção. A cafeicultura mexicana ocupa 1/3 da área cafeicultura do Brasil, mas representa apenas 10% da produção brasileira. “Nossa cafeicultura é muito diferente da deles. Eles têm cafeicultura muito focada no aspecto ambiental. É sombreada, feita por mini produtores, com um nível tecnológico muito diferente do nosso em termos de variedade, espaçamento. É totalmente orgânica, não usam insumos químicos. É muito natural. Eles chegaram aqui e tiveram o impacto de uma cafeicultura modernizada, com amplo desenvolvimento, mais acelerado. Ficaram impressionados com a forma como o café é plantado, manejado e com nosso nível de produtividade. E a lição que deixaram, e que foi bastante discutida, é que nesse momento de mudanças climáticas, as técnicas de preservação ambiental são muito importantes. Eles produzem café sustentável e conseguem agregar valor. Como o café mexicano é orgânico e de boa qualidade, mesmo tendo uma produtividade que é 1/5 da nossa, eles chegam a vender por mais que o dobro do preço que a gente vende aqui. E tem mercado garantido”, pontuou Ferrão. Os mexicanos vieram conhecer o arábica e o conilon. Fizeram visitas técnicas de campo, aulas práticas sobre implantação, manejo, produção de mudas, clonagem, tecnologia voltada para construção e manejo de viveiros e jardins clonais, irrigação… “Eles saíram daqui impressionados com a nossa cafeicultura de montanhas, tanto no aspecto tecnológico como também no perfil do produtor. Ficaram encantados com a beleza da região, a história… gostaram muito de todo o processo de produção de café de qualidade, realizado pelos pequenos produtores de base familiar. Como 97% da produção do café deles é de arábica, eles ficaram mais impressionados com o arábica. Eles só têm 3% de conilon, mas existe demanda da indústria de solúvel no México, o consumo vem crescendo. Eles precisam aumentar a produção de café conilon para atender a demanda da indústria de seu país. Vieram conhecer as tecnologias e os processos visando adaptar ao México. E sinalizam a possibilidade de um acordo de cooperação técnica com o Incaper”, finalizou Ferrão.
Juliana Esteves