Após ter sido recusada pela União Européia (UE), a lista de propriedades rurais no Brasil aptas a exportar carne bovina ao bloco econômico será refeita. O Ministério da Agricultura anunciou ontem o enxugamento da relação entregue no fim de janeiro às autoridades européias composta por 2.681 fazendas. Novas auditorias serão realizadas por órgãos federais e estaduais e, de acordo com o ministro Reinhold Stephanes, o número deverá cair para cerca de 600 estabelecimentos. Na quarta-feira, Stephanes irá à Comissão de Agricultura do Senado para dar explicações sobre o boicote à carne brasileira.
Na avaliação do governo, a revisão não causará danos à imagem do Brasil. Stephanes reconheceu que na lista original foram incluídas fazendas que não tinham a documentação completa, o que fortaleceu o argumento da UE de que a série elaborada pelo país apresentava fragilidades. O ministro ressaltou, no entanto, que a falta de dados secundários ou o excesso de burocracia dos clientes europeus não poderiam colocar em xeque a comercialização da carne para o Velho Continente.
Embora reduzida, a listagem indicada pelo governo ficará bem acima do limite que a Europa se dispõe a aceitar. Desconfiados do sistema de rastreabilidade bovina implantado pelos brasileiros, os europeus só cogitam importar carne de 300 propriedades e, mesmo assim, depois de verificar in loco as condições dos criatórios. Para o ministro brasileiro, no entanto, isso não é problema. “Acreditamos que a lista será aceita e, à medida que mais análises forem sendo concluídas, vamos pedir para que outras fazendas sejam incluídas no processo”, disse Stephanes. A previsão oficial é encaminhar o documento no dia 14.
A nova relação será analisada por representes dos 27 países que integram a UE e servirá de base para uma missão que chegará ao Brasil até o dia 25 deste mês. Os técnicos da Europa vão inspecionar propriedades em vários estados. Elas são apontadas pelo Ministério da Agricultura como modelos para a criação de bovinos. Terminada a checagem, os emissários da UE indicarão de quais fazendas pretendem comprar.
Força-tarefa
Ontem, o ministro Reinhold Stephanes se reuniu com secretários de agricultura dos estados autorizados a exportar carne bovina para a Europa. O encontro serviu para unificar o discurso e os procedimentos que serão adotados a partir de agora e durante o período de revisão da lista de fazendas consideradas prontas para vender o produto à UE. Os secretários de Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo concordaram em reavaliar as indicações encaminhadas ao ministério e se mostraram dispostos a colaborar. O único estado que não enviou representante foi o Rio Grande do Sul.
O secretário de agricultura de Minas Gerais, Gilman Viana Rodrigues, afirmou que a seleção feita pela UE será aleatória e que os padrões ainda não são totalmente conhecidos. Segundo ele, a primeira lista – com 2.681 unidades rurais – foi feita com “muita honestidade”, mas os critérios estão sendo aprimorados. “A fragilidade de algumas informações enviadas à UE ocorreu em função da pressa. O prazo que foi dado ao Brasil foi curto. Com a nova lista tenho certeza de que isso não acontecerá”, explicou.
As portas da Europa estão fechadas para a carne bovina in natura brasileira desde o início deste mês. Os europeus contestaram os métodos usados pelos órgãos sanitários federais e estaduais e colocaram em dúvida as auditorias realizadas nas fazendas indicadas pelo país como aptas a exportar àquele mercado. Em nota, o Ministério da agricultura classificou a decisão como “injustificável e arbitrária”. A posição brasileira foi referendada junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Há cerca de 50 dias, a UE impôs uma série de restrições aos pecuaristas brasileiros. Entre as principais está a de embarcar apenas cortes de animais rastreados que usam brinco identificador. Os bois ainda têm de ser criados em áreas livres de doenças como a febre aftosa e só devem ser abatidos em indústrias reconhecidamente preparadas.
Antes da mudança nas exigências, 10,2 mil propriedades rurais podiam exportar carne para qualquer lugar do mundo. Agora, somente estabelecimentos rurais integrados ao modelo de produção conhecido como Sisbov, e que respeitam as disposições da UE, podem ingressar na região. Principal importador de carne bovina brasileira, a UE comprou em 2007 o equivalente a US$ 1,4 bilhão. Rússia, Países Baixos, Egito e Estados Unidos completaram o ranking de maiores importadores. No ano passado, as exportações totais de carne de boi representaram US$ 4,4 bilhões e 2,5 milhões de toneladas.
Preço sobe no exterior
Os consumidores europeus já sentem no bolso os reflexos do embargo da União Européia (UE) à carne brasileira. Em alguns países do bloco, os preços subiram até 20% como reflexo da suspensão imposta ao produto brasileiro no final do mês passado, segundo Sérgio De Zen, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), especialista em pecuária de corte.
O Brasil exportou em janeiro US$ 146 milhões em carnes para a UE. Em 2007, as exportações de carne brasileira para o bloco totalizaram US$ 1,08 bilhão, de acordo com números do governo. Para o pesquisador, os preços da carne continuarão subindo no mercado europeu. “A expectativa é de novas altas. O Brasil é um grande fornecedor e nenhum outro país tem condições e capacidade para ocupar esse espaço no curto prazo”, disse De Zen. Para ele, a pressão para o fim do embargo à carne brasileira virá dos consumidores europeus. “Não será possível agüentar essa situação (de aumento de preços) por muito tempo”, afirmou.
Correio Braziliense