A prolongada estiagem que atingiu boa parte do Brasil neste segundo semestre, reduziu a oferta de boi de pasto esperada para o mês de outubro e inflacionou os preços da arroba em todo o País. Com frigoríficos pagando mais pelo boi e recebendo menos em dólar na exportação, a tendência é que a indústria recue nas vendas externas de carne e direcionem o produto ao mercado interno, que está remunerando melhor.
Paulo Molinari, da Safras & Mercado, explica que é provável que, na exportação, os frigoríficos estejam trabalhando em novembro com margens muito pequenas ou negativas. Além de absorverem a alta da arroba do boi de 24%, entre outubro e novembro, os frigoríficos tiveram que arcar com a desvalorização do dólar no período – 1,8 entre outubro e novembro e de, 15,7% no ano – , condições que espremeram a margem da venda externa. “A exportação pode ter perdido um pouco de fôlego a partir de novembro, condição que pode se estender até a entrada de mais oferta de boi no mercado, a partir de janeiro”, diz Molinari.
Ele lembra que em outubro, os preços médios da carne bovina no mercado externo atingiram o maior da história, de US$ 3,1 mil por tonelada. “No entanto, naquele momento, a arroba estava entre R$ 65 e R$ 66, valor que hoje é de R$ 77”, pondera. Como na exportação os contratos são feitos com muita antecedência, não há como repassar essa alta do boi para a carne, explica Molinari, diferente do mercado interno, onde o atacado já tenta repassar a inflação do boi.
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) concorda que o câmbio desfavorável à exportação aliado à alta do preço do boi contribuíram para que apenas alguns cortes estivessem com remuneração mais competitiva do que o mercado interno. Mas ele considera também que qualquer redução na oferta externa – com o direcionamento para o mercado interno – pode provocar uma alta externa e, conseqüentemente, a retomada da competitividade na exportação, frente ao mercado nacional.
“Também precisamos considerar que ao frigorífico também vale a máxima de que não compensa sair do mercado externo por uma situação que vai ser normalizar. A relação comercial e a perenidade na oferta ao cliente têm que ser mantidas”, avalia Camardeli. Além disso, esse é um momento de retomada de mercado na Rússia para onde o Brasil deve bater recorde de exportação em novembro. “Vai passar de 50 mil toneladas. É o maior volume exportado a esse país até hoje”, comemora Camardeli.
A plena regularização da oferta de boi no mercado deve ocorrer mesmo a partir de março, segundo Molinari. Alguma melhora já será verificada a partir de janeiro. Além da estiagem, que reduziu pasto para engorda, outro fator que provocou alta significativa nos preços do boi foi a própria conjuntura da atividade. Depois de mais de cinco anos com remuneração em baixa, pecuaristas de todo País reduziram rebanho, enquanto que os frigoríficos aumentaram capacidade instalada para atender a forte demanda dos mercados interno e externo.
“A produção no campo este ano está 3% menor que em 2006. Por outro lado, alguns frigoríficos aumentaram em 50% a capacidade de abate. E todos eles abateram com capacidade acima de 80%, enquanto a média de anos anteriores é de 60%”, compara Molinari.
Concorrência
Com a alta do boi em São Paulo – de 24% desde outubro – e a falta de oferta de animal confinado – outubro inicia a entressafra do confinamento – os frigoríficos de São Paulo tiveram que buscar oferta em outros estados. “Até poucos dias, os abatedouros da região de Cuiabá (capital de Mato Grosso) estavam pagando entre R$ 66 e R$ 68 a arroba do boi. Chego um frigorífico de São Paulo ofereceu R$ 70 e elevou o patamar de preço”, explica Maria Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria. Uma das maiores altas ocorreu no Triângulo Mineiro, onde a arroba teve preço elevado em 29% desde outubro, de R$ 57 para R$ 74. Em novembro do ano passado, a cotação era 32% menor (R$ 55,70).
Gazeta Mercantil