Um estudo feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que o desmatamento segue a flutuação do mercado de commodities, especialmente carne e soja. A queda do preço nos últimos anos teria ajudado a controlar a derrubada nos últimos três anos. Da mesma forma, a recuperação do mercado teria impulsionado a retomada do desmate em 2007.
A ligação entre os fatores foi levantada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O estudo foi apresentado ao MMA pelo autor, Paulo Barreto, há algumas semanas.
Por meio de nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) “repudia totalmente” a ligação entre os fatores e afirma que “o grande proprietário de terras na região é o próprio governo federal, detentor de 76% das áreas na Amazônia Legal, devendo a este o ato de cuidar de suas próprias terras”.
A análise feita por Barreto compara, de 1994 a 2006, a área desmatada na região, medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com o preço anual médio deflacionado da saca de soja e do boi. “A relação com o gado é mais consistente”, diz Barreto. Ela é de 1 para 0,82 (1 para 1 é o coeficiente padrão) para a carne e 1 para 0,50 para o grão.
O autor explica que floresta, quando derrubada com corte raso do jeito que é detectado pelo satélite, recebe melhor pasto do que grão, uma vez que o solo ainda sente o impacto do desmate. “A soja usa pastagem antiga. Além disso, ela demanda uma infra-estrutura melhor, com estradas que permitam o escoamento da produção, relevo plano e um regime de chuvas específico. No caso do gado, as exigências são mais brandas.”
Barreto, contudo, afirma que a soja pode pressionar o gado a avançar sobre novas áreas e, em casos de preços muito altos, derrubar para plantar é vantajoso. É o que teria ocorrido entre 2001 e 2004 – nesse ano, 27.379 km2 foram desmatados, quando o preço do gado estava em queda. Esse é o segundo maior índice já registrado pelo Inpe. O primeiro, de 29.059 km2, coincide com o lançamento do Plano Real, em 1º de julho de 1995.
A ação das madeireiras não teria sido determinante para o repique do desmatamento. As regiões mais afetadas, como centro-norte de Mato Grosso e oeste do Pará, tiveram as árvores de maior valor comercial retiradas há mais de uma década. “As atuais fronteiras (de desmate) já passaram pelo ciclo da madeira”, diz Barreto.
O Estado de São Paulo