Na contramão do Brasil, a Bahia segue aumentando sua área de algodão e, com isso, poderá ser o maior produtor da fibra em, no máximo, cinco anos. Atualmente, o estado ocupa a segunda colocação.
Estimativas da Safras & Mercado para o plantio da temporada 2007/08 indicam que a área cultivada com a oleaginosa no Brasil será 0,7% menor que a registrada na colheita passada. No entanto, os baianos vão semear 10,1% a mais. “Se a Bahia continuar neste ritmo, em quatro a cinco anos passa Mato Grosso”, diz Miguel Biagai Júnior, analista da Safras & Mercado. A logística favorável, a qualidade e produtividade da fibra baiana explicariam este movimento.
Na temporada 2000/01, Mato Grosso já era o maior produtor nacional de algodão, enquanto a Bahia ocupava a quinta colocação, com 61,4 mil toneladas de plumas. Em sete anos, a produção do estado aumentou mais de 600%, para pouco mais de 45% de crescimento registrado no primeiro lugar e cerca de 60% de incremento na média nacional.
Para o analista de algodão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Djalma Aquino, o aumento sistemático da área na Bahia deve-se à melhor localização do estado, que está entre duas importantes regiões consumidoras: Nordeste e Sudeste. “Há um diferencial de frete, que aumenta a rentabilidade baiana”, afirma Aquino. Segundo ele, a diferença de frente em relação a Mato Grosso é de R$ 0,40 por arroba.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Algodão da Bahia (Abapa), Walter Horita, o crescimento da Bahia acima das taxas de Mato Grosso deve-se às condições do estado para o cultivo da fibra. Segundo ele, as terras planas favorecem a mecanização e o clima é bom para a lavoura. “Com isso, temos um diferencial de produtividade e qualidade”, diz. Além disso, segundo ele, nos últimos anos, em Mato Grosso tem diminuído o número de produtores que migra da soja para o algodão – pelo contrário, há um movimento inverso. “Só planta algodão em Mato Grosso quem já tem investimento para isso”, acrescenta. Em sua avaliação, ser primeiro é uma condição natural, mas ele argumenta que o “estoque de terras” de Mato Grosso ainda é maior que o da Bahia.
A colheita 2006/07, que está praticamente finalizada, foi a melhor da história, na média nacional. Segundo a Conab, a produção chegou a 1,5 milhão de toneladas de pluma – 46,9% a mais em relação à anterior. “A produtividade foi muito boa”, diz Biegai Júnior.
Apesar do fim da colheita, os preços pagos ao produtor não cederam. Em agosto, a cotação da fibra aumentou 4,2%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), avaliada em R$ 1,19 a libra-peso – depois de queda consecutivas em junho e julho. “Há uma menor pressão de pronta-entrega porque houve muita venda antecipada”, afirma Lucílio Alves, do Cepea/USP.
Gazeta Mercantil