Enquanto caem a exportação do álcool e o preço da tonelada de cana-de-açúcar paga aos produtores, outro segmento do setor sucroalcooleiro prevê resultados expressivos na produção neste ano. A energia gerada do bagaço de cana e vendida pelas usinas para concessionárias de energia elétrica ou em leilões públicos deve aumentar 50% na próxima safra.
Essa energia, a partir da biomassa, é uma das apostas do governo Lula para evitar nova crise energética no país. No mês passado, o governo anunciou a “reedição” do “seguro-apagão”, ou seja, que iria contratar energia de reserva para dar mais segurança à oferta de energia elétrica pelo sistema nacional.
E a expectativa do governo é que parte dessa energia venha de termelétricas que produzam a partir de bagaço de cana.
Segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), as usinas devem produzir potência excedente de 1.500 MW na safra 2008/09. Na safra passada, foram cerca de 1.000 MW.
Os 1.500 MW equivalem a cerca de 10% do fornecimento da hidrelétrica de Itaipu. “É um resultado altamente positivo. Que mercado cresce 50% ao ano? Você vê um produto valorizado e uma demanda que necessita dessa oferta”, afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.
Outros 3.000 MW a serem gerados deverão servir para consumo próprio das usinas.
O total de energia estimado deve ser produzido por 30 a 40 usinas no país, 70% delas em São Paulo. A previsão é que o setor fature R$ 900 milhões.
A Unica prevê que a produção deva quadruplicar em cinco ou seis anos. O próprio Ministério de Minas e Energia projeta acréscimo de 6.000 MW gerados pelas usinas até 2016.
Mas especialistas questionam o que consideram “otimismo” do setor. Alertam que há alguns nós na produção, como a demora para um projeto de geração de energia ficar pronto e a falta de linhas de transmissão em áreas menos populosas.
Novo leilão de energia de biomassa está previsto para 30 de abril. Na negociação, governo e Unica esperam maior presença de usinas dispostas a vender o excedente de energia.
O governo promete facilidades para novos projetos com linhas de financiamento especiais e a entrada das usinas nos sistemas de transmissão.
“Estamos fazendo planejamento, criando coletores mais próximos. Sistemas de transmissão não serão problema”, disse Iran de Oliveira Pinto, diretor de planejamento energético do ministério.
O setor, entretanto, reclama de preços melhores. Hoje, o mercado paga em média R$ 140 pelo MWh, valor que, segundo Rodrigues, ainda não compensa o investimento em geração.
Folha de São Paulo