O jogo de xadrez climático começou ontem em Bali, na Indonésia. No primeiro dia da Conferência das Nações Unidas, a Austrália movimentou suas peças, para o ataque. Os Estados Unidos, isolados, jogam na defensiva.
O novo primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, assinou ontem, em Canberra, seu primeiro documento no posto.
Como havia prometido na campanha, ele ratificou a intenção do país em entrar no Protocolo de Kyoto. Formalmente, a Austrália precisa esperar por 90 dias para ser um membro efetivo do grupo.
Imediatamente, na Indonésia, os delegados australianos não apenas anunciaram o ato, como disseram que o país estava assumindo uma meta de cortar suas emissões em 60% até 2050 -além de ter 20% de energia renovável em 2020. A medida recebeu um minuto de aplausos. “As pessoas apreciaram a coragem do governo da Austrália de tomar essa posição que é dramaticamente diferente”, disse Yvo de Boer, secretário-executivo da convenção.
Sem aparentemente se intimidar com a decisão, que isolou os Estados Unidos como o único país anti-Kyoto, um dos líderes da delegação norte-americana, Harlan Watson, disse que seu país não está ali para ser um obstáculo às negociações. “Nosso objetivo é sermos flexíveis e trabalhar de forma construtiva na criação do “mapa do caminho” de Bali”, afirmou.
“Nós respeitamos a decisão dos outros países, mas também pedimos, claro, que os outros respeitem a nossa.” A posição norte-americana de não aderir ao protocolo foi tomada em 2001 pelo presidente George W. Bush. Na visão do dirigente, o acordo custaria vagas de emprego aos EUA. Além disso, para ele, foi um erro o acordo ter excluído os países em desenvolvimento do grupo dos que deveriam assumir metas.
“Os Estados Unidos investiram bilhões de dólares em novas tecnologias, que vão desde o carvão limpo até o hidrogênio”, afirmou ontem, em Bali, Watson. “O corrente regime legal de metas não está fazendo a sua parte. Apenas alguns países estão conseguindo reduzir suas emissões de forma significativa”, disse o negociador dos Estados Unidos, referindo-se principalmente ao Reino Unido e a Alemanha.
Segundo os números divulgados pelo norte-americano, enquanto a população dos Estados Unidos cresceu 5% entre 2000 e 2005, e a economia 12%, as emissões de carbono subiram apenas 1,6%. Mesmo assim, as emissões do país comandado por Bush ainda estão 16% acima dos índices de 1990, ano base de Kyoto.
Tanto é verdade que o próprio Senado americano já estuda uma forma de, via legislação, fazer o país adotar as metas.
Folha de São Paulo