A Aracruz, a maior fabricante mundial de celulose de eucalipto de mercado, não pára de pensar grande. A empresa, que está terminando os estudos finais dos projetos de ampliação de duas das suas três fábricas, já projeta abrir uma nova frente de investimentos para um quarto pólo industrial.
“Já estamos olhando outros sites”, disse o diretor financeiro da Aracruz Celulose, Isac Zagury. Conforme declarou o executivo, a empresa decidirá por um Estado onde não opera. A fabricante possui unidades no Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul. A decisão, segundo Zagury, será tomada até o fim de 2008. “É o máximo que posso falar [sobre este projeto]”, disse ao Valor. É a primeira vez que a Aracruz comenta os planos de investimentos desta nova fábrica.
A Aracruz e outras fabricantes brasileiras como Votorantim e Suzano pisam fundo nos investimentos para a ampliação da produção de celulose. Elas procuram-se beneficiar da aquecida demanda da China pela matéria-prima para fabricação de papel. Nos próximos cinco anos, apenas a Aracruz prevê investir US$ 3,5 bilhões para aumentar a produção de sua fábrica em Guaíba, no Rio Grande do Sul, e da Veracel, na Bahia, a joint venture que mantém com a sueco-finlandesa Stora Enso.
Os dois projetos da Aracruz, que passarão pelo crivo do conselho de administração a partir de março, adicionarão 2 milhões de toneladas até 2012 à capacidade de produção da empresa, hoje de 3,3 milhões de toneladas por ano.
“Em meados da próxima década, as empresas brasileiras de celulose vão ditar os preços internacionais de celulose”, afirmou Isac Zagury. “Aracruz, VCP e Suzano serão para a celulose o que as mineradoras Vale e a BHP Billiton são para o minério de ferro.”
Nas contas do executivo, essas três empresas deverão produzir 12 milhões a 15 milhões de toneladas de celulose por volta de 2012-2014. O mercado mundial de celulose é estimado por analistas em torno de 50 milhões a 55 milhões de toneladas, das quais a de eucalipto, a especialidade das brasileiras, responde por metade.
A Aracruz, que abriu na sexta-feira a safra de balanços das companhias abertas brasileiras, apresentou queda de 8,9% no lucro de 2007, recuando para R$ 1,045 bilhão. No quarto trimestre, o ganho diminuiu 36%, para R$ 187 milhões, pior do que os R$ 255 milhões previstos por analistas. Os resultados não animaram os investidores. As ações preferenciais caíram 6,92%, a maior queda do índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na sexta-feira.
O resultado foi impacto pela valorização do real. “Em três anos, a apreciação foi de quase 50%”, lembrou o executivo financeiro da Aracruz, que destacou o fato de que margem de 46% da empresa em 2007 – indicador operacional – ter ficado próximo do patamar histórico, de 47%.
A receita líquida teve ligeiro recuo, de 0,22%, para R$ 3,65 bilhões no ano passado. A Aracruz, que acrescentou capacidade de 200 mil toneladas em sua fábrica da Barra do Riacho (ES) em 2007, produziu 3,065 milhões de toneladas, queda de 0,28%. Para 2008, a empresa projeta estabilidade no câmbio – ao redor de R$ 1,80 – aliada à demanda forte de celulose e dificuldades na oferta, principalmente no mercado mundial madeira.
Valor Econômico – SP