Brasil é o único país capaz de expandir produção para atender ao mercado global, diz Laeven. O mercado mundial de leite está desabastecido. A seca na Austrália, o aumento do consumo e a estagnação da produção na Europa e a entrada da China comprando leite em pó em grandes volumes levou à escassez do produto e a uma alta histórica nos preços. “Isso nunca aconteceu. Os produtores querem comprar vacas leiteiras e sêmen sexado para aumentar a produção mas a procura é bem maior do que a oferta”, declara Guus Laeven, diretor da Lagoa da Serra, a maior central de inseminação artificial da América Latina, localizada em Sertãozinho (SP).
Segundo Laeven, o aumento dos preços ocorreu principalmente nos últimos oito meses. Segundo o IPCA 15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, medido pelo IBGE), uma prévia do índice oficial da inflação, o leite pasteurizado subiu 13,91% só em agosto. No acumulado do ano, a alta é de 52,16%. “Uma vaca leiteira, cujos preços históricos ficavam entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil, hoje vale de R$ 4 mil a R$ 6 mil. Mas não tem oferta”, afirma Laeven.
Os reflexos na Lagoa da Serra, cujo exercício fiscal encerra-se em 31 de agosto, foram um aumento de 15% nas vendas de sêmen, que chegarão a 1,6 milhão doses. Se considerarmos só o sêmen sexado para a pecuária leiteira, as vendas subiram 30%, puxada pelo resultado dos últimos meses, informa Laeven.
Com baixos níveis de estoque de sêmen, a Lagoa da Serra prepara-se para aumentar a produção. No final de 2005, a empresa inaugurou o primeiro grande laboratório de sexagem de sêmen bovino do País, com quatro citômetros de fluxo para a produção de pelo menos 600 doses de sêmen “sexado” por dia. “Estamos decidindo quantas novas máquinas compraremos”, diz Laeven. Segundo informa, cada unidade custa US$ 800 mil. As máquinas produzem sêmen sexado com média de acerto do sexo do bezerro de 92%.
Laeven explica que o Brasil é um dos poucos lugares que podem produzir leite o suficiente para abastecer o mercado global. A questão é que, para mudar o patamar da produção nacional, hoje de 26 bilhões de litros por ano, seriam necessários pelo menos três anos de investimentos. “São nove meses de gestação mais dois anos de cria”, afirma. Os criadores, acostumados com crises, preparam-se para investir, depois que o preço médio do leite pago pela indústria ao produtor saltou 40% em média neste ano, para R$ 0,70.
Além de genética basicamente importada da Holanda, EUA e Nova Zelândia, a Lagoa da Serra, pertencente ao grupo holandês CVR, começará a desenvolver touros no Brasil. A empresa também passará a oferecer aos produtores do País o programa holandês IRES. “Ele acompanha o desempenho individual e calcula o valor genético de cada vaca. É uma ferramenta importante para ajudar no manejo e na seleção genética”, diz Laeven.
Gazeta Mercantil