A safra que está sendo plantada agora promete ser a maior da história do país, com recuperação dos preços dos principais cultivos. Já a pecuária, após três anos de maus resultados, também se recupera e avança. Assim, o Brasil ruma para seu melhor momento no campo, que deve trazer novo ciclo de prosperidade ao interior, pulverizado em diferentes regiões. As ameaças vêm de eventuais problemas climáticos e incertezas nos mercados financeiros, que já abalaram os preços das commodities. E especialistas e autoridades dizem que se deve aproveitar este bom momento para corrigir erros do passado e reduzir o socorro governamental ao setor.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, diz que estudos de sua pasta apontam para um quadro positivo de médio e longo prazos, com demanda mundial aquecida e o avanço dos biocombustíveis. Mas o ministro pede cautela no planejamento dos produtores para que não repitam os exageros do último ciclo de expansão do setor agropecuário, nos primeiros anos da década. A recuperação dos preços de vários setores deve colocar no bolso dos produtores, no próximo ano, pelo menos R$ 33 bilhões a mais do que neste, estimam especialistas no setor.
Nessa lista de recuperação de preços, primeiro veio a cana-de-açúcar. Depois, soja e milho. Agora, a pecuária. Entram na lista, ainda, arroz e carnes suína e de frango. No setor de grãos, a expansão de soja, milho, arroz e trigo, se confirmadas, elevam a safra do país para 140 milhões de toneladas no próximo ano. Neste ano, fica em 132 milhões de toneladas. Heron do Carmo, economista da Fipe, diz que “a recuperação do agronegócio é importante porque ativa a economia de todo o país, não se limitando aos grandes centros”. Deve ser uma recuperação sem pressão inflacionária, afirma.
“O próximo ano seguramente vai ser um período de preços maiores, e o setor agropecuário volta a movimentar as cidades, criando empregos e elevando as compras de máquinas e implementos”, afirma Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, de Curitiba. Gervásio Castro de Rezende, pesquisador do Ipea e professor da UERJ, também visualiza um cenário bom, mas acha necessária a adoção de uma política diferente para o setor, sem envolver o governo como único financiador da produção.
Entre as mudanças propostas pelo pesquisador, está o envolvimento maior das indústrias de máquinas e equipamentos nos riscos do setor. Além disso, sugere ao governo adotar juros variáveis. “Quando a atividade é boa e rentável, paga-se mais. No período ruim, pagam-se menos juros.”
Victor Abou Nehmi, do Instituto FNP, diz que “o papel mais importante do agronegócio será o de estabilidade econômica, graças à reserva cambial que ele dá ao país”. Na avaliação de Nehmi, “o agronegócio, além de ser um fluxo de dólares garantido, dá uma imagem de segurança à economia”.
Os produtores concordam com o cenário positivo, mas, ressabiados, ressaltam que, do plantio que começa agora à colheita, muitas nuvens podem aparecer. Marco Aurélio Tavares, do setor de arroz, resume o sentimento de vários segmentos: “Não há euforia. Estamos apenas recuperando preços perdidos no passado. No próximo ano, esperamos voltar a ter rentabilidade, apesar dos custos elevados de produção”.
Após conseguir avanços contínuos na produtividade, os produtores também dão mais atenção à comercialização. Aproveitando os bons preços futuros, pelo menos 27 milhões dos 63,3 milhões de toneladas de soja que vão ser colhidos no próximo ano já foram comercializados, segundo avaliação da consultoria Agência Rural. Os produtores de milho, por exemplo, com menor tradição em operações antecipadas, já comercializaram 4 milhões de toneladas da safra de verão, que ainda vai ser plantada, segundo Brandalizze.
Folha de São Paulo