Açúcar, aos poucos, volta aos holofotes

0

 


À sombra do álcool nos últimos três anos, o açúcar começa a ganhar novamente destaque no cenário internacional, sobretudo após a lenta – e ainda inconsistente – recuperação dos preços da commodity nas bolsas de Nova York e Londres. Engana-se, porém, quem pensa que o açúcar foi jogado para escanteio por conta do boom do etanol – que motivou pesados investimentos no Brasil e nos EUA com o forte potencial de demanda pelo combustível.


O governo brasileiro trabalha nos bastidores para colocar o açúcar em evidência, travando uma nova batalha com a União Européia (UE) para garantir o acesso do produto a dois países recém-incorporados ao bloco. O último grande evento internacional da commodity ocorreu em 2004, quando o Brasil ganhou junto com a Tailândia e Austrália processo na Organização Mundial do Comércio (OMC), questionando a política de subsídios da UE ao produto.


O país negocia atualmente com a UE cotas de compensação para que o produto seja introduzido na Romênia e Bulgária. Juntos, os países importam mais de 500 mil toneladas de açúcar por ano. Antes da entrada deles na UE, mais de 300 mil toneladas vinham do Brasil. “Com a entrada desses dois países no bloco europeu, o Brasil deverá perder espaço”, disse Leonardo Bichara, analista da Organização Internacional do Açúcar (OIA).


Elisabete Serodio, especialista em açúcar e sócia da consultoria Serodio & Braga, lembra que a Romênia até há poucos anos figurava entre os principais importadores do açúcar brasileiro. “O açúcar não foi preterido por conta do álcool. O governo trabalha para garantir acesso ao produto na União Européia e em outros mercados”, disse.


Ao Valor, fontes do governo confirmaram a negociação em andamento com o bloco. Por conta da entrada da Romênia e Bulgária na União Européia no ano passado, esses dois países têm de se adequar ao regime açucareiro do bloco, que importa açúcar dos países ACP (Ásia, Caribe e Pacífico) e de países pobres da África.


Mas pelo tratado de acesso ao mercado, previsto pela OMC, esses dois países não podem mudar do dia para noite sua política comercial após a adesão à UE. “Por isso, o governo negocia cotas de compensação para o Brasil continuar exportando para esses dois mercados”, afirmou Elisabete.


Até 2005, a UE era a segunda maior exportadora mundial de açúcar, mas depois de perder o processo movido pelo Brasil tornou-se a maior importadora global do produto, ultrapassando a Rússia.


Desde que atingiu o pico de preços em fevereiro de 2006, quando bateu quase 20 centavos de dólar por libra-peso, na bolsa de Nova York, os preços do açúcar começaram a desabar, acumulando desvalorização de quase 40% até o fim de 2007. Mas, uma recuperação lenta tem sido observada desde o início deste ano, e o açúcar já acumula aumento de 11,6% até sexta-feira, embora os fundamentos continuem negativos para o produto, por conta da safra recorde de cana do Brasil e super oferta de açúcar na Índia.


Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a paridade do açúcar e do álcool está mais favorável ao etanol nesta safra comparada ao mesmo período do ciclo anterior .


O movimento de recuperação dos preços do açúcar no mercado internacional, impulsionado por compra de fundos, apesar dos fundamentos ainda negativos, já leva analistas a preverem uma nova guinada da commodity no médio e longo prazo. A Índia, que registrou aumento de oferta nos últimos dois anos, deverá reduzir a produção. O Brasil continua firme no seu propósito de destinar boa parte da cana para o álcool combustível.


Valor Econômico

Compartilhar:

Deixar um Comentário