Após uma longa fila de espera, tive a oportunidade de visitar o recém-inaugurado “Museu do Amanhã” localizado na cidade do Rio de Janeiro. Fiz uma visita rápida, sabendo que terei que retornar algumas vezes para aproveitá-lo ao máximo. A primeira impressão que fica é de um museu que, partindo da realidade atual e das projeções futuras, nos leva a pensar sobre qual sociedade queremos no futuro.
Somos uma população com mais de sete bilhões de pessoas. Temos um poder gigantesco de destruição e poluição. Fica claro que a qualidade da vida amanhã, dependerá das respostas que daremos aos temas como consumo, lixo, energia, água e alimentos.
O setor produtivo agrícola brasileiro precisa prospectar sobre o amanhã, especialmente o pequeno e médio produtor rural que, por uma série de fatores, ainda se mantém distante deste tema. Por vivemos em um mundo global, é impossível fugir a esta reflexão que tem na agricultura, e sua relação com o ambiente, a base de toda a projeção do futuro da humanidade. Como falar de alimento sem referir-se à agricultura? Por semelhante princípio, não há como falar de agricultura dissociando-a do ambiente e seus sistemas ecológicos.
Ao contrário da população urbana que se aglutina em grandes cidades, conectadas com a ajuda dos mais diversos meios de comunicação, os diferentes elementos que compõem o ambiente rural são fragmentados e fisicamente isolados. É comum o agricultor considerar seu colega de produção mais como um concorrente que como parceiro com quem precisa se unir para participar das discussões globais. Aqueles que estão no campo precisam deixar de ser espectadores para atuarem também nas discussões sobre o futuro da sociedade.
Estudando vários sistemas de avaliação de sustentabilidade agrícola, pode-se perceber que, de uma forma sutil e inconsciente, o produtor não é considerado no processo. Há clara preocupação com o ambiente, com os trabalhadores e com o consumidor. O produtor é colocado com o explorador da cadeira produtiva. Dele é esperada uma resposta. Por outro lado ele não participou da discussão e nem foi ouvido na elaboração das soluções.
Criou-se um imaginário do produtor explorador. Aquele que suga todo o potencial da terra e a abandona em um processo de desertificação. Um produtor sem compromisso com seu semelhante quer seja o trabalhador ou o consumidor final. Não há dúvida que este tipo de ser humano existe, não só na agricultura, como no comércio, na indústria, na mídia, nas ONGs, na política e em qualquer outra atividade. A questão aqui é que este protótipo foi criado e generalizado, sem direito a defesa e sem força para se defender.
No próximo texto, teremos a oportunidade de refletir um pouco sobre o agricultor de hoje e o que podemos esperar dele. É necessário que seja conhecida a cultura, os anseios, a realidade e as limitações do homem do campo. Ele é peça fundamental para a sustentabilidade da sociedade do amanhã.
Marcelo Barreto da Silva, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), doutor em fitopatologia, pós-doutor em Sistema de Informações Geográficas, coordenador do Programa Agro+: por uma agricultura mais sustentável