Entrevista publicada na Revista Campo Vivo – Edição 42 – Junho/Julho/Agosto 2019
Após visita ao Espírito Santo, ministra da agricultura Tereza Cristina conversou com exclusividade com a Revista Campo Vivo
Indicada por um grupo de 20 integrantes da Frente Parlamentar Agropecuária, o presidente eleito Jair Bolsonaro anunciou, no fim de 2018, que Tereza Cristina seria a futura ministra do Ministério da Agricultura.
Engenheira agrônoma, no Mato Grosso do Sul, foi secretária de Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo. Também atuou como executiva de empresas do setor de alimentos em São Paulo e participou da diretoria da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso do Sul (Aprosul), da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), e dos sindicatos rurais de Sonora, Terenos e Campo Grande.
No dia 24 de maio, a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, visitou o Espírito Santo para participar do evento que marcou o início da colheita do café. O evento aconteceu no município de Águia Branca, região noroeste do Estado.
Após cinco meses no comando do ministério, e posterior a sua vinda ao Estado, a ministra conversou com a equipe da Revista Campo Vivo em uma entrevista exclusiva que você confere abaixo:
Campo Vivo – Qual está sendo seu principal desafio no início dos trabalhos no Ministério da Agricultura?
Tereza Cristina – Eu diria que não é só um desafio, são desafios, pois o ministério ficou mais encorpado, com mais funções. É um novo ministério, transformado, com desafios como o de avançar no disputado mercado mundial, no atendimento ao produtor familiar, que precisa de crédito, acesso à capacitação e a novas tecnologias. E queremos avançar no autocontrole, sistema em que as empresas passam a se responsabilizar pelos produtos que colocam no mercado, seja interno ou externo.
Precisamos também atrair investimentos em infraestrutura, desde redes de transporte e portos, até armazenagem. É uma forma de reduzir, de baratear os custos de produção que limitam a produção agropecuária.
CV – Quais os principais temas que serão trabalhados na política agrícola nacional?
TC – Vamos ter agora, em junho, o novo Plano Agrícola, dando ênfase especial ao aumento no seguro agrícola para que mais produtores se beneficiem, reduzindo os riscos de prejuízos causados por fatores climáticos. E também vamos assegurar que os médios e pequenos obtenham crédito dos bancos oficiais, pois são os que mais precisam do olhar do governo.
CV – O seguro rural será fortalecido e melhorado para atender, de fato, o setor produtivo?
TC – Sim, essa foi uma preocupação desde que cheguei ao governo. Tivemos muito apoio do presidente Jair Bolsonaro, muitas conversas com a equipe econômica para aumentar os recursos destinados ao seguro rural. E isso está assegurado.
CV – No Espírito Santo há uma demanda pela renegociação das dívidas dos agricultores duramente afetados pela crise hídrica nos últimos anos. Como está esse tema no governo federal?
TC – Sim, as reuniões para tratar do assunto no governo ainda estão acontecendo. Não há ainda definição, mas o MAPA tem realizado encontro com lideranças do estado, incluindo parlamentares, com o objetivo de chegar a uma solução que amenize a situação de dificuldade pela qual passam os produtores.
CV – A política de preço mínimo da Conab baseada nos custos de produção do café conilon é bem incoerente com a realidade praticada no Espírito Santo. O tema está sendo revisto no Ministério?
TC – Não é uma coisa fácil mexer quando o preço está vigente. Há regras, leis, mas nós achamos que é procedente o pedido, é justo e nós estamos fazendo cálculos, novas fórmulas na Conab para ter um preço mínimo de referência e ver se a gente consegue mudar um pouco a situação que a cafeicultura brasileira vem vivendo, não só no Espírito Santo, mas no Brasil todo.
Nós vivemos num mercado globalizado e quando a gente tem excesso de produção, acontece isso, baixa no preço. Nós temos um problema a corrigir e vamos juntos achar uma solução para os produtores brasileiros, para que a gente ache um caminho e que todos possam continuar morando no campo, pois é isso que a gente quer.
CV – Como serão as ações voltadas para o crédito fundiário?
TC – Com a reformulação e a desburocratização que estão acontecendo, o programa de concessão do crédito passa a ter seis etapas, não mais 18, como acontecia. Também está prevista a permissão para que profissionais liberais habilitados e credenciados pelo MAPA elaborem propostas, evitando que a seleção do beneficiário fique condicionada a uma declaração de elegibilidade de sindicato. O MAPA dará a palavra final sobre a contratação e encaminhará ao banco.
Outra novidade é que o programa vai propor a linha “Pronaf Mais Jovem”, voltada para os jovens que tenham concluído ou estejam cursando o último ano em escolas técnicas de nível médio ou ensino superior nas áreas de ciências agrárias, para que eles acessem o crédito e desenvolvam sua atividade de forma mais efetiva.
Considerando o momento de transição, foi publicada no dia 3 deste mês, no Diário Oficial da União, resolução do Conselho Monetário Nacional, permitindo que os bancos contratem no formato antigo as propostas que já estão aptas. As demais propostas serão adequadas ao novo procedimento, a partir do ponto em que se encontram, simplificando o processo.
CV – Qual será a política de fortalecimento das exportações agrícolas?
TC – Temos agendadas novas missões oficiais, além da participação em feiras no exterior para buscar acordos e parcerias. Nosso objetivo é ganhar escala nas exportações e tratar com previsibilidade o mercado. Buscamos parcerias longas e políticas conjuntas com os países, antigos e novos parceiros. Precisamos do lado privado agregar maior valor aos nossos produtos. Defendemos sempre, em nossas agendas internacionais aqui e no exterior, a qualidade de nossa produção. Podemos aumentar a nossa importância no fornecimento de alimentos ao mundo.
CV – Qual a impressão que teve na visita que fez recente ao estado capixaba?
TC – Fiquei muito feliz de visitar esse estado, que tem uma produção admirável, uma bancada atuante e que produz um café muito especial, café gourmet, que faz o maior sucesso no exterior, como acabei de constatar em viagem ao Japão e à China. A agricultura familiar com o uso de tecnologia tem grande parte do mérito pela conquista dos consumidores desses países.
Redação Campo Vivo