O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Governo Britânico (Defra) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciaram hoje investimentos de 30 milhões de libras, cerca de R$ 150 milhões, para oferecer capacitação técnica e recursos financeiros não reembolsáveis diretamente a pequenos e médios produtores para implementação de agricultura de baixa emissão de carbono e recuperação e proteção de florestas em suas propriedades.
Os recursos serão aplicados na segunda etapa do projeto Rural Sustentável, em que agricultores recebem compensação pela adoção de práticas sustentáveis e tecnologias de agricultura com baixa emissão de carbono, além de apoio financeiro para assistência técnica e a capacitação necessária para que adotem essas medidas.
O projeto é financiado pelo Defra por meio do Fundo Internacional para o Clima (IFC) do governo do Reino Unido. O Mapa é o beneficiário principal deste projeto, e a execução e administração dos recursos estão a cargo do BID. A primeira fase contou com o apoio técnico do Banco do Brasil e da Embrapa e implementação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS).
A primeira etapa do projeto segue em execução e já capacitou a 10.700 produtores dos biomas Amazônia e Mata Atlântica nos últimos dois anos. Para a segunda etapa serão selecionados municípios nos biomas Cerrado e Caatinga e, com as práticas implementadas, estima-se reduzir até 10.71 milhões de toneladas equivalente em emissões de carbono nessa área nos próximos 20 anos.
Segundo o cônsul britânico do Rio de Janeiro, Simon Wood “Mitigar os efeitos das alterações climáticas é uma prioridade global. O Brasil é um país de grande importância para o clima e o ecossistema do mundo – possui um terço das florestas tropicais do mundo e é um dos maiores produtores agrícolas. O Reino Unido está investindo em projetos para melhorar regulamentos e tecnologias e trabalhar com organizações brasileiras para desenvolver agricultura e infraestrutura sustentáveis, combater o desmatamento e impulsionar o reflorestamento. Estamos muito satisfeitos por trabalhar em parceria tanto com o Brasil quanto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento”. comentou o diplomata, que é o líder de meio ambiente da Missão Diplomática Britânica no Brasil.
O representante do BID no Brasil, Hugo Flórez Timorán, aponta que a abordagem do projeto é pioneira na região. “O aprendizado que vem sendo construído junto a todos os parceiros neste projeto está na vanguarda de ações práticas para a mitigação dos impactos da mudança climática. Vários países da América Latina e do Caribe podem se beneficiar adotando essa metodologia, que pode ser facilmente adaptada”, disse.
O pesquisador Renato de Aragão Rodrigues é o coordenador da Embrapa, instituição responsável pela avaliação técnica do programa. Ele conta que um dos benefícios é a possibilidade de identificar o potencial de compatibilidade entre a produtividade com redução das emissões, subsidiando políticas públicas e ajudando o produtor a decidir as melhores opções em termos de rentabilidade.
Na primeira fase do projeto foram alcançados três estados na Amazônia: Mato Grosso, Rondônia, Pará e quatro na Mata Atlântica: Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Bahia. Os pesquisadores utilizaram experimentos para calcular o potencial de mitigação de cada uma das tecnologias, avaliando como impactam em termos de emissão de carbono. Três tecnologias foram testadas: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, recuperação de pastagens degradadas e florestas plantadas. Os resultados surpreenderam positivamente, com impactos acima do esperado. Em um dos casos, na cidade de Sinop, Mato Grosso, uma fazenda teve produtividade 11 vezes maior que a média nacional com a mesma emissão de carbono.
Hoje são quase duas mil fazendas que usam as tecnologias indicadas pela Embrapa e que tiveram a proposta técnica aprovada pelo Rural Sustentável, com avaliação das instituições envolvidas e garantia técnica da Embrapa.
Com um papel protagonista no alcance da meta internacional de estabilização do clima, que inclui o compromisso em reduzir as emissões de carbono em 43% até 2030, o Brasil abriga a maior parte das florestas primárias do mundo, assim como um quinto da água doce e cerca de 20% da biodiversidade mundial.