Na última semana, viveiristas realizaram visitas a duas unidades demonstrativas (UD`s) de combinações de porta-enxertos e variedades-copa de citros nos municípios de Alegre e Jerônimo Monteiro. Tais unidades fazem parte do Projeto de Difusão de Tecnologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e tem como objetivo difundir seis cultivares de laranjas recomendadas pela pesquisa estadual.
As unidades foram implantadas na propriedade do senhor João Cesar de Souza, a 620 metros de altitude, em Celina, no município de Alegre; e, na propriedade do senhor Dair Nascimento, a 105 metros de altitude, na Comunidade de Boa Sorte, em Jerônimo Monteiro.
Os viveiristas são Antônio Camargo, representante da Camargo Citros de São Paulo e Erli Röpke, da empresa Frucafé de Linhares. Ambos foram acompanhados pela Coordenadora do Polo de Laranja, Marianna Abdalla Prata Guimarães que apontou os resultados observados com o trabalho desenvolvido nas unidades.
Segundo o pesquisador do Incaper, Flávio de Lima Alves, a finalidade do projeto é utilizar as cultivares em ações de diversificação agrícola nas pequenas propriedades rurais, em dez municípios do Território da Cidadania do Caparaó, na Região Sul do Estado. Para isso, o uso de combinações de porta-enxertos e variedades-copa de citros adaptadas as diferentes regiões do Estado do Espírito Santo, poderão reduzir os riscos de ataques de pragas e doenças, bem como agregar características desejáveis, como escalonamento da colheita, aumento da produtividade e melhor qualidade dos frutos para atender às exigências do mercado, seja de mesa ou para indústria.
O pesquisador do Incaper, Marlon Dutra Degli Esposti, acrescentou que os resultados observados servem para alertar aos produtores sobre a necessidade de haver maior diversificação dos porta-enxertos nos próximos anos, pois os cavalos – onde são enxertadas as mudas – ao promoverem maior tolerância ou resistência das plantas às pragas e doenças, ampliam a vida útil dos pomares; informou, ainda, que os diferentes porta-enxertos proporcionam pequenas alterações nas épocas de maturação dos frutos, aumenta na época de produção e a safra de citros na região. Outro detalhe apontado, é que os uso de diferentes cavalos também induzem diferenças na resistência na casca do fruto e isso contribui para conservar a fruta na pós colheita e nos supermercados.
“Com os resultados observados nas unidades esperamos que haja maior diversificação dos porta-enxertos nos próximos anos, ampliando a vida útil dos pomares e promovendo maior tolerância nas plantas para as pragas e doenças. Além disso, observamos haver uma pequena alteração nas épocas de maturação dos frutos, conforme alteramos o porta-enxerto. Isso poderá ampliar um pouco mais a época de produção de citros na região. Outra coisa importante verificada, foi maior resistência física na casca do fruto. Isso poderá aumentar o tempo de prateleira da laranja”, explicou Marianna Abdalla.
Difusão de Tecnologia
O projeto em questão foi implantado em 2010 e foi financiado com recursos do “Programa Mais Alimentos”, coordenado coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) – atual Secretaria de Agricultura Familiar (Sead) e gerenciado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) – Transferência de Tecnologia.
Segundo os pesquisadores do Incaper, Flávio de Lima Alves e Marlon Dutra Degli Esposti, as unidades foram constituídas pelas cultivares: ‘Salustiana’ e as laranjas de “umbigo”, do tipo ‘Bahia’, ‘Navelina’, ‘Navelate’ e ‘Lanelate’, que não possuem sementes, sendo aptas para o consumo in natura. Além delas, foram utilizadas outras duas cultivares de laranja ‘Pera’ – a mais plantada em todo o país, por ser a mais preferida nos diferentes mercados brasileiros e a preferencial para a extração de suco.
Foi utilizada a laranja ‘Pera – IAC’, que é um clone premunizado com vacina contra a doença do “Vírus da Tristeza dos Citrus – CTV”, vírus este disseminado em todo país, que matam as plantas cítricas antes de completatrem 10 anos de idade. Este clone foi desenvolvido na década de 1970, no Centro de Citricultura Sílvio Moreira do Instituto Agronômico de Campinas (SP). A outra cultivar utilizada foi a laranja ‘Pera Jetibá’, originada de uma planta de um experimento da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura Tropical, de Cruz das Almas (BA), conduzido pelo Incaper (antiga EMCAPA) entre 1980 e 1997, em Alto Possmoser, a 750 metros de altitude, no município de Santa Maria de Jetibá.
“Todas as cultivares de laranjas utilizadas nas unidades demonstrativas vêm apresentando boas produções, com frutos de alta qualidade, com coloração de casca amarela alaranjada intensa, bom rendimento em suco, boa relação entre os teores de açúcar e acidez nos frutos, conferindo um desempenho compatível ao paladar dos consumidores brasileiros. Contudo, o maior interesse dos empresários visitantes foi observar o comportamento das copas de laranjas ‘Pera’ enxertadas sobre os porta-enxertos utilizados nestas unidades; o limão ‘Galego’ ou ‘Cravo’, a tangerina ‘Cleopatra’ mas, principalmente, sobre o híbrido ‘Riverside’”, explicaram.
Segundo os pesquisadores, a partir da mutação do vírus da “Tristeza dos Citros” para uma estirpe mais severa denominada “Marafivirus”, associado à “Morte Súbita dos Citros”, no início dos anos 2000, o único cavalo que se mostrou compatível com a copa de laranja ‘Pera’, e que tem se destacado por sua resistência à esta doença é a tangerina ‘Cleopatra’. Desde então, os viveiristas e citricultores paulistas adotaram a tangerina “Cleopatra” e, as pesquisas científicas do país estudam outros cavalos alternativos para esta cultivar.
Para formação de mudas cítricas, inclusive mudas de laranja ‘Pera’, para plantio na Região Nordeste e outras Regiões do Brasil, a EMBRAPA – Mandioca e Fruticultura Tropical, tem indicado o uso dos porta-enxertos híbridos denominados “Citrandarins”, o Indio, obitido do cruzamento entre a tangerina ‘Sunki’ com a espécie Poncirus trifoliata English, o Riverside (tangerina ‘Sunki x Poncirus trifoliata English), e o San Diego (tangerina ‘Sunki’ x Poncirus trifoliata Swingle); porta-enxertos desenvolvidos pela Universidade da Califórnia, que induzem às copas das variedades cítricas neles enxertadas maior resistência às doenças, como as espécies de “Gomose” Phytophthora citrophthora e Phytophthora nicotianae var. parasitica, à “Tristeza dos Citrus” e à “Morte Súbita”, aos nematóides, entre outras.
“Apesar de auferirem menor produtividade e baixa tolerância à seca nas copas de laranjeiras, tangerineiras, limoeiros e limas ácidas neles enxertadas”, concluíram.
“Fiquei muito satisfeito com os resultados observados, principalmente por ter tido a oportunidade de experimentar alguns frutos de laranja produzidos sobre diferentes porta-enxertos, e que, por sinal, estavam muito saborosos”, apontou o viveirista Antônio Camargo.
Expectativas para o Polo Estadual de Laranja
De acordo com Marianna Abdalla, para 2018, pretende-se iniciar um trabalho sobre melhoria de qualidade das laranjas produzidas em Jerônimo Monteiro, com produtores vinculados à Associação Rural de Jerônimo Monteiro (ARUJEM), visando ampliar o acesso da produção municipal aos mercados regionais.
Além disso, há uma parceria entre Incaper e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em que estão sendo preconizadas a realização de análises físico-químicas em frutos de diferentes variedades, cultivares e clones de laranjas, em diferentes altitudes, com objetivo de determinar os índices de maturação e ampliar o período de colheita de laranja na região.