Quebra na safra da Bahia faz disparar a importação de cacau

0

A falta de chuvas que se prolonga há nove meses no Nordeste já compromete mais uma safra de cacau na Bahia e tem levado a indústria processadora a aumentar as aquisições da matéria-prima no mercado internacional. Desde o início de 2016 até maio, as indústrias compraram no exterior – sobretudo de Gana, na África – mais de três vezes a quantidade de cacau importada em todo o ano passado, depois da quebra da safra principal de 2015/16 e do atraso na colheita do cacau temporão (do ciclo 2016/17) no Estado.

As processadoras receberam, até maio, 37 mil toneladas de cacau de fora do país, 3,5 vezes mais que todo o volume importado em 2015, de 11 mil toneladas, conforme levantamento feito pelo Valor no Agrostat, sistema de estatísticas do Ministério da Agricultura. Essas importações custaram US$ 116,9 milhões, 3,3 vezes mais que no mesmo período de 2015. No ano passado, as importações ocorreram apenas entre janeiro e maio, já que a safra abasteceu a demanda industrial no restante do ano.

O mesmo não deve se repetir neste ano. O estresse hídrico provocado pela seca na Bahia não apenas tem comprometido a produtividade das plantações como já matou uma parcela das árvores no Estado. Nos cálculos de Thomas Hartmann, diretor da TH Consultoria, de Salvador, os produtores baianos devem colher 42 mil toneladas de cacau temporão. Isso representa uma queda de 56% ante a última safra temporã no Estado, que somou 96 mil toneladas.

E essa produção escassa, cuja colheita já deveria ter começado em maio, só deve começar a chegar às portas das indústrias entre julho e agosto. Desde o início oficial da safra 2016/17, em maio, até 12 de junho, o volume de cacau da Bahia entregue às indústrias foi de 12,3 mil toneladas, 60% a menos que em igual período da safra passada.

Como se não bastasse a quantidade menor, a qualidade do cacau baiano também está pior. “O tamanho das amêndoas diminui na seca porque os frutos não se desenvolvem sem a umidade suficiente”, afirma Hartmann.

Vice-líder na produção nacional de cacau, o Pará não deve sofrer uma quebra de safra na mesma proporção, já que a região produtora do Estado começou a receber chuvas mais cedo que na Bahia. Porém, a TH Consultoria levantou que os “outros Estados” – categoria que exclui a Bahia e inclui o Pará — entregaram 78% menos cacau às indústrias desde o início nas seis primeiras semanas desta safra, totalizando 2,9 mil toneladas.

Para agravar o aperto entre oferta e demanda, a indústria estima que vai consumir um volume maior de cacau neste ano, mais uma vez apostando na demanda do mercado externo.

Eduardo Bastos, diretor executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), acredita que serão moídas neste ano 230 mil toneladas da amêndoa no país, 4,8% mais do que no ano passado, quando foram processadas 219,332 mil toneladas de cacau. Com uma capacidade instalada de 250 mil toneladas, as indústrias operaram no ano passado com uma utilização de 88%.

Segundo Bastos, o aumento só será possível por causa da demanda internacional, que no ano passado absorveu cerca de 20% dos cerca de US$ 1 bilhão que a indústria gerou de derivados, como manteiga de cacau, além de líquor, pó e torta de cacau. “Este ano tende a crescer a fatia do mercado externo pela demanda em volume e pelo preço [dos derivados de cacau]em dólar, que está muito bom”, afirmou o diretor da AIPC.

De fato, as exportações de derivados de cacau já têm crescido neste ano. De janeiro a maio, os embarques de cacau em pó, manteiga e pasta de cacau já renderam US$ 150,4 milhões. Esse faturamento já supera o relativo aos embarques do mesmo período do ano passado e a receita necessária para as importações da matéria-prima, gerando um saldo de US$ 33 milhões da balança comercial do setor até o momento.

Para aumentar as importações de cacau, porém, a indústria está buscando outras origens além de Gana, que hoje é principal fornecedora da amêndoa do país. Segundo Bastos, a AIPC tem negociado com o governo a possibilidade de retirada do embargo criado há quatro anos que proibiu a importação do produto da Costa do Marfim. “Estamos trabalhando para reabrir este ano. Estamos conversando com o Ministério da Agricultura, a embaixada, o Itamaraty e os próprios produtores”, atestou.

Valor

Compartilhar:

Deixar um Comentário