Mamão de Linhares, apreciado no mercado internacional, sofre com exportações

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Suspensão de voos internacionais em países consumidores fez o volume de exportação cair pela metade
Conhecida como a Capital Nacional de Exportação do Mamão, Linhares é o maior exportador brasileiro da fruta e segundo maior produtor do Estado. Em 2018, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), foram colhidas no município 60 mil toneladas, o que representa 16,93% de toda a produção capixaba.
Em Linhares são produzidos dois tipos de mamão, o formosa e o solo (papaya), ambos exportados, mas o maior volume é de papaya. O município também abriga a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex). Atualmente, oito empresas produtoras de mamão trabalham com exportação.
O pesquisador do Incaper e coordenador do Centro de Pesquisa Norte, Renan Queiroz, explica que o município tem clima, solo e bastante água, itens favoráveis para o cultivo do mamão. Mas o perfil do produtor local faz toda a diferença.
“Linhares é um município de produtores, em sua maioria, tecnificados, que investem em inovação e acreditam na pesquisa científica. E com os produtores de mamão não é diferente. Toda a cadeia produtiva no município segue o manejo correto, sempre atenta às exigências do mercado, na melhoria dos tratos culturais na produção e pós-colheita”, enfatiza Queiroz.
De acordo com o pesquisador do Incaper, a produção do mamão por si só já exige muita atenção, e para exportação esses cuidados aumentam ainda mais. “A cultura do mamoeiro exige muito conhecimento técnico por parte dos produtores e técnicos que acompanham as lavouras. Em relação à parte fitossanitária, por exemplo, existem diversas pragas e doenças que atacam a cultura, causando danos econômicos. Na parte de adubação e irrigação, excessos ou deficiências de ambos prejudicam diretamente a produção. Já para exportação, sem sombra de dúvida, o cuidado fitossanitário no pós-colheita é ainda maior. O mercado internacional é bastante exigente, com uma série de restrições”, esclarece Queiroz.
Em 1992, quando o produtor Luiz Antonio Galavotti resolveu plantar mamão, Linhares tinha, nas palavras dele, “uma fruticultura fraca”. Até então só se falava em cacau e café. Mas mesmo assim resolveu, após avaliar o mercado, fazer a primeira roça de mamão e não parou mais. Hoje são 60 hectares do fruto cultivados no Distrito de Bebedouro.
“Naquela época em Linhares existiam alguns produtores isolados de mamão. Era uma novidade, porém a rentabilidade era muito boa, melhor que a do café e do cacau. Fiz algumas pesquisas para ver se dava lucro, investi e nunca mais parei. Na nossa região, o mamão é a melhor opção dentro da fruticultura”, conta Galavotti. Toda sua produção é vendida no mercado nacional. Além do mamão, Luiz Antonio também trabalha com coco, café, cacau e pecuária.
Pandemia do novo coronavírus prejudica exportação
Junto com a pandemia do novo coronavírus vieram também os prejuízos para os produtores de mamão que exportam a fruta. Devido sua perenidade, o mamão tem a via aérea como principal meio de transporte, cerca de 90% do total. A suspensão de voos internacionais em vários países consumidores fez o volume de exportação cair pela metade.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), com sede em Linhares, Bruno Pessotti, explica os impactos dessa suspensão para o setor.
“Praticamente toda exportação de papaya e formosa do Espírito Santo usa a logística aérea, grande parte nos voos comerciais. Antes da pandemia, o custo da tarifa era de US$ 0,80 o quilo. Como não está tendo voo comercial, devido à Covid-19, estamos voando nos cargueiros, porém com custo bem maior, em torno de US$ 1,70 o quilo”, salienta Pessotti.
Bruno acrescenta ainda que normalidade nas exportações só será possível quando surgir espaço nos voos comerciais, o que deve demorar. “Segundo um estudo das companhias aéreas, o volume de voos igual ao que tivemos em 2019 somente retomaria em 2023”.
Para Rodrigo Martins, produtor há 20 anos, essa é a pior crise já enfrentada ao longo de duas décadas de produção de mamão e 15 anos de exportação. “Já passamos por crises complicadas, mas nada parecidas com essa. O setor de aviação foi muito afetado, e precisamos criar outras alternativas, como o envio marítimo, que não é o mais adequado. Estamos pagando frete até três vezes mais caro. Por outro lado, nunca ficamos com a economia tão parada como ocorreu nesse momento de pandemia; tudo isso nos prejudicou”, ressalta Martins.
Rodrigo tem uma área plantada de 80 hectares e uma produção média em torno de 320 toneladas/mês. Trinta por cento desse volume é exportado e 70% são comercializados no mercado nacional.
Revista Safra ES
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