Em 2011 em cada cinco copos de suco de laranja consumidos no mundo, três eram produzidos nas fábricas brasileiras. Virar suco e sair do país era o destino de 70% da produção de laranjas do Brasil, que mantinha a liderança até então. O cenário mudou com a isenção de tarifas do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 2008, e fez o México assumir o protagonismo nas exportações de suco de laranja. Já o Brasil é taxado em US$ 415,86 por tonelada para acessar o mercado norte-americano.
O volume mexicano para os Estados Unidos saiu de 6% para 46% de participação do mercado. Nos últimos 28 anos as importações americanas de FCOJ (Frozen Concentrate. Orange Juice) mexicano cresceram absurdos 664%, saindo de 9.772 toneladas para 74.680 em 2019.
No mesmo período, as vendas do Brasil recuaram 50,7%, passando de 144.538 toneladas para 71.114 toneladas em 2019. Com isso, a participação brasileira que era de 89% em 1993, caiu para 44% no ano passado. “Quando observamos o período, as importações dos EUA continuam num patamar ao redor de 155 mil toneladas de FCOJ. O que mudou foi a entrada agressiva do México nesse mercado”, analisa o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto.
Com relação a taxação apenas no período entre 2008 e 2019 o FCOJ brasileiro foi taxado em US$ 548 milhões em imposto de importação, enquanto México deixou de pagar US$ 405 milhões graças à vigência do Nafta. Avaliados fatores como recebimento líquido do exportador depois de aplicadas as deduções de imposto de importação, custos de desembaraço e frete, marítimo no caso brasileiro e terrestre para os mexicanos, o que se vê é uma grande perda do valor do produto nacional.
Enquanto o suco mexicano tem um valor FOB US$ 1.378,75 por tonelada, o concorrente brasileiro recebe pela mesma tonelada de FCOJ 66° Brix US$ 894,95 – uma diferença de US$ 484,9 por tonelada em favor do exportador mexicano. “Do lado brasileiro, temos alguns esforços que tentam colocar o suco de laranja nacional no mapa dos acordos internacionais”, pondera o executivo, que cita como exemplo o acordo Mercosul/UE, finalizado em 2019. “O acordo prevê uma desgravação tarifária imediata de 50% que chegará a 0% num prazo de 10 anos. Mas não há prazo para que essa ratificação aconteça”, diz.
A CitrusBR ainda teme que a questão tarifária possa comprometer o desempenho do suco de laranja brasileiro em outros mercados. Para entrar na Europa, o suco do Brasil paga uma taxa de 12,2% ante 4,2% do suco mexicano. O Brasil, via Mercosul, também negocia acordo comercial com a Coreia do Sul para que a tarifa para o suco de laranja seja reduzida a zero conforme já acontece para o suco produzido na Flórida e que pouco abastece aquele país.
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