ESPECIAL – O que esperar do agro capixaba em 2017?

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2017-materiaO Estado do Espírito Santo possui uma extensão territorial de 46.098,571 quilômetros quadrados, divididos em 78 municípios. Conforme contagem populacional, realizada em 2014, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), totaliza 3,885 milhões de habitantes. Está localizado na Região Sudeste, principal responsável pela economia nacional (respondendo por 56,4% do PIB do país). O Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo, que mede a soma das riquezas do estado, teve uma queda de 1,1% em 2015, segundo estudo do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

Assim como para muitos outros Estados, 2016 foi um ano cheio de desafio para o agronegócio capixaba, principalmente devido à crise hídrica e o longo período sem chuvas na maioria dos municípios capixabas. Foi um ano de bastante turbulência, tanto no aspecto da produção como na comercialização.

A Revista Campo Vivo fez um levantamento com executivos e lideranças do agronegócio capixaba para saber uma avaliação de 2016 e o que esperar do próximo ano em algumas das principais atividades agropecuárias do Estado.


Mamão
Por Rodrigo Martins, diretor geral da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex)

2016

rodrigo-pontini-martins-presidente-da-brapex-300Este ano foi marcado principalmente pelos recordes históricos de preço, jamais vistos no setor produtivo de mamão. Os picos foram atingidos nos meses de março, abril e maio deste ano, sendo que o mamão havaí chegou a ser negociado a R$ 6,00 o kg nas lavouras e o mamão formosa chegou a valer R$ 4,00 o kg. Esses números jamais foram alcançados antes. Por outro lado, só uma pequena parcela de produtores teve o privilégio e a sorte de aproveitar essa alta nos preços, isso devido a grande escassez de produção ocasionada principalmente pelas altas temperaturas e também pela falta de chuvas nas regiões produtoras de mamão.

Já no segundo semestre deste ano, estamos vendo uma baixa nos preços principalmente do mamão havaí, devido o aumento de produção temporária nas regiões Norte do ES e Sul da Bahia, entre os períodos que compreendem o final do mês de setembro até meados de novembro. Já o mamão formosa tende a permanecer com seu preço estável, sem muitas oscilações até o início do mês de dezembro, onde deveremos ter uma baixa na produção nacional que deverá se estender até o início de fevereiro do próximo ano. Quanto à qualidade, tivemos um ano muito bom, com boa aceitação da fruta tanto no mercado nacional, como também nas exportações. Com relação às exportações, destaques para os Estados do ES e RN que seguem como líderes de vendas para o mercado exterior com bons volumes e qualidade ímpar.

O que esperar de 2017?

Estamos com boas perspectivas para o próximo ano, principalmente pelas previsões de melhoras no clima, com a chegada das chuvas tão esperadas para as regiões produtoras. Esperamos um acréscimo na produtividade, e uma maior oferta de produto para este próximo ano. Destaque para o Sul da Bahia, onde a estação das chuvas começou primeiro e os produtores já iniciaram os plantios para a próxima safra, ou seja, previsões de maior oferta com boa qualidade. Por outro lado, não deveremos ter níveis de preços acima da média, o que poderá levar alguma parcela de produtores a migrarem para outras culturas no segundo semestre de 2017. Outro ponto a ser destacado é que as áreas de plantio nos Estados do RN e CE devem diminuir um pouco, levando-se em consideração de que essas regiões ainda sofrem com a falta de chuvas.


Avicultura
Por Luís Carlos Brandt, Gerente Executivo de Produção da Cooperativa Agropecuária Centro-Serrana (Coopeavi)

2016

frango racaoA produção de matéria-prima para fabricação de ração causou preocupação em toda a cadeia, sendo necessário buscar uma nova alternativa na Argentina para suprir a possível falta de estoque de milho. Com os estoques nacionais baixos, o preço do milho alcançou valores recordes, elevando assim o custo de produção para os avicultores. O milho representa cerca de 70% da matéria-prima utilizada para fabricação de rações. No gráfico abaixo é possível observar a oscilação do preço do milho durante este ano e a comparação com os anos anteriores.

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Além disso, o longo período sem chuvas também impactou negativamente na expansão da atividade em Santa Maria de Jetibá. A cidade concentra mais de 90% das atividades avícola de postura comercial e fica na Região Serrana do Espírito Santo, ou seja, possui um clima mais ameno e tem uma incidência de chuvas maior. Mesmo com esses fatores positivos, foi possível sentir os efeitos da crise hídrica, já que algumas fontes de água secaram e o volume hídrico disponível diminuiu significativamente. Em suma, a região estava em um ritmo acelerado de crescimento na atividade, mas a falta de água criou um estado de alerta para a expansão de aviários (produção de ovos).

Apesar deste cenário, a Coopeavi inovou e inaugurou uma estrutura para revitalizar a avicultura de postura para os pequenos avicultores: o primeiro Condomínio Avícola para produção de ovos do Brasil. O condomínio é uma iniciativa para padronizar a produção da cooperativa e também é uma nova alternativa de renda para os produtores associados. Além disso, algumas iniciativas foram tomadas para incentivar os produtores a seguir este caminho de padronizar e melhorar a qualidade na produção de ovos, como o II Concurso de Qualidade de Ovos e o Projeto Boas Práticas de Produção de Ovos, em parceria com a Embrapa.

O que esperar de 2017?

O cenário para 2017 assemelhará ao vivido neste ano. Tem-se uma expectativa de preços estáveis no milho, ou seja, o mesmo deve variar durante o ano no mesmo patamar de 2016 com altas mais expressivas e baixas menos expressivas, pois não há expectativas de elevação nos estoques de milho com as próximas safras (safra e safrinha). A estabilização do preço em patamares mais altos influencia diretamente no custo de produção e continuará a ser uma grande preocupação para os avicultores, por isso a busca de matérias-primas em mercados exteriores deve continuar a ser uma constante em 2017, principalmente, no primeiro semestre.

Por outro lado, um fator positivo é a expectativa de manutenção de alta no consumo de ovos per capita, seguindo a tendência dos últimos anos (gráfico abaixo). Para os pequenos produtores capixabas, o Condomínio Avícola Coopeavi, que começa a funcionar para os associados no primeiro semestre, surge como uma solução viável, pois oferecerá várias vantagens, com a produção toda automatizada. A produtividade maior e compartilhamento dos custos de produção são vantagens positivas, que será uma renda extra para os avicultores pequenos que já estão inseridos na avicultura e buscam ampliar a sua produção e ainda um investimento mais rentável para os iniciantes na atividade.

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Café
Por Marcus Magalhães, especialista de mercado de café e gerente de Agroecologia e Produção Vegetal da Secretaria de Estado da Agricutura (SEAG)

2016

img_1725O ano de 2016 foi desafiador com o agronegócio de um modo em geral no ES. A crise hídrica sem precedentes em nosso Estado colocou o mundo rural numa situação produtiva, financeira, emocional e econômica, inimaginável. A economia agrícola encolheu e deixou o campo e as cidades numa complexa situação. O café, carro forte da economia agrícola, sofreu um pesado revés. Uma quebra macro de 40% chegando em alguns municípios a quase 70%. É um ano para ser esquecido, mas de outro lado, um ano de grande aprendizado.

O que esperar de 2017?

Para 2017, em virtude ainda de um regime de chuvas aquém das expectativas, o sentimento geral é que para as culturas perenes, ou seja, o café, os tempos ainda serão difíceis. A safra deverá ser menor que a atual colhida e nem mesmo o aumento potencial dos preços vigentes, foi e será capaz de amenizar os problemas causados.

O Governo do Estado tem adotado ações estratégias de curto, médio e longos prazos para tentar estancar a sangria da crise, mas principalmente, criar bases mais sólidas para redimensionar os alicerces a fim de poder encarar melhor os desafios que estão à frente.

Projetos estruturantes como os de barragens, o Reflorestar e a uma nova conscientização que de que o uso do recurso hídrico tem que ser racional, nortearão as ações públicas que o Governo terá que assumir.

 


Banana
Por Fabrício Carraretto Barreto, sócio-diretor da Docebela

2016

bananana02O clima regulou a oferta. No ES, Norte de Minas e nos Estados do Nordeste, o calor e a seca causaram fortes quedas de produtividade e qualidade, principalmente no primeiro semestre, forçando positivamente os preços da banana prata neste período.  Já em SP e nos Estados do Sul, o frio foi um dos mais fortes dos últimos anos. A geada queimou a maior parte da banana nanica que seria colhida no segundo semestre. Em função disso, esta variedade bateu seu recorde de preço no segundo semestre.

O que esperar de 2017?

Para 2017, salvo grandes influências climáticas, é esperado aumento da oferta com redução significativa nos preços médios. De uma maneira geral, o mercado tem respondido com grandes reduções de preço em função de pouco aumento de oferta. O desemprego e a redução do poder de compra das famílias têm provocado isso, associado a uma maior pressão dos varejistas, na busca de margens mais favoráveis.

A volta das chuvas pode ser um agravante fitossanitário para as regiões do ES e litoral da Bahia, em função da Sigatoka Negra, notadamente em pomares que não praticam a Mitigação de Risco.

 


Coco
Por Pedro Elias De Martins, proprietário da empresa De Martins Coco Verde


2016

mesachaA respeito da produção do coco em 2016, vejo que estamos encerrando o ano com muita queda devido a seca no Norte do Espírito Santo, onde mais se produz coco, indo até  o Sul da Bahia. E se agora o coco não flora, são seis meses para florar e chegar ao ponto exato de consumo. Muitas foram às lavouras de coco do Norte do Estado que morreram, então com isso vamos ter que fazer novos plantios que possivelmente só vão começar produzir daqui uns três ou quatro anos. Estamos com um problema hídrico muito sério. Os cocos não estão produzindo, estão ruins de mercado e existe ainda a necessidade da chuva. Nossa expectativa é que assim que vier a chuva, a situação melhore um pouco. Mas devido ao estresse que a planta já passou até agora, não podemos criar grandes expectativas.

O que esperar de 2017?

A previsão é de que venham chuvas suficientes para encher as represas que hoje estão todas vazias, então estamos nessa esperança, considerando que vai ser importantíssimo para o produtor que venha chuva em grande quantidade. 90% de todos os agricultores demandam de água para irrigar as plantações e a maioria deles ou tem pouco estoque de água ou já não tem mais nada.  Mas estou muito confiante de que, com certeza, virão dias melhores à partir de 2017 para nossa agricultura.


Frutas para indústria  (manga, goiaba, maracujá, etc.) 

Por Maurício Ferraz, Gerente de Planejamento e Desenvolvimento Agrícola na Leão Alimentos e Bebidas

2016

mauricio-ferrazO ano de 2016 foi um ano difícil para o Estado, quase três anos com chuvas abaixo da média. Com isso o produtor deixou de investir na cultura do maracujá e a área do Estado reduziu em mais de 70%. As culturas de manga e goiaba sofreram menos e a produção se mantém constante em relação aos anos anteriores.  

O que esperar de 2017?

Vamos continuar em busca de eficiência e produtividade, além de um forte planejamento de médio e longo prazo. No caso de um negócio sustentado em insumos agrícolas, um ponto de atenção sempre será a cadeia de suprimentos, cujo planejamento tem uma dinâmica própria, bastante dependente de variações climáticas e de engajamento do produtor rural.

Com a realização de contrato entre Trop Frutas do Brasil e produtores de goiaba, a tendência é de aumento da área cultivada com goiaba para os próximos anos e o mesmo deve acontecer com o maracujá a se confirmar com o início das chuvas. A cultura da manga deve continuar estável no Estado.

 



Pecuária de Leite

Por Marcos Corteletti, sócio proprietário do Laticínio Fiore

2016

dsc_0467Na produção sentimos cada vez mais o reflexo da escassez hídrica que culminou com a falta de pastagens e disponibilidade de volumosos de excelente qualidade. Se por um lado as reservas de pastagens, silagem e feno começaram a exaurir, por outro não tivemos capacidade de renovação destas e produção de volumosos, pois um dos componentes básicos estava em falta: a água. Consequência maior disto foi o aumento excessivo no preço destes volumosos e a escassez no mercado local. Quem teve possibilidade, importou de outros Estados, como o Paraná, porém seu custo de produção ficou fora do controle.

Na comercialização tivemos efeitos ainda mais desastrosos. No segundo trimestre o preço do leite atingiu patamares nunca visto em anos anteriores. Como num passe de mágica, com o produtor com seus custos lá no alto (Farelo de Soja, Milho, Silagem, Mão de Obra, Energia, Produtos Veterinários, etc…) o preço começa a despencar levando a atividade a quase a um colapso.

O que esperar de 2017?

Espera-se uma recuperação na economia nacional e com isto melhorar a situação financeira das famílias, consequência maior do consumo de lácteos. Este efeito poderá trazer uma estabilidade na atividade, aliviando anseios e equilibrando preços.

Quanto à produção, sentiremos alguns reflexos, citando como principal um menor volume de leite a produzir, pois tivemos em algumas regiões venda de matrizes e também pelo fato de que na maioria das fazendas existe um grande número de matrizes não gestantes que estenderão o intervalo entre partos, diminuindo assim o número de matrizes em lactação/ano.

Finalmente as chuvas chegaram e com elas vem a esperança de dias melhores com a possibilidade de reestabelecer os plantios, produzir alimentos e superar a crise. Entretanto entendemos que na Pecuária Leiteira só conseguirão bons resultados aqueles produtores que fizerem bons planejamentos, diminuírem seus custos, produzirem com sustentabilidade e em escala. A pecuária leiteira não aceita mais o amadorismo.

 


Piscicultura
Por Lucimary Soromenho Ferri, coordenadora do programa especial de pesca e agricultura do Incaper

2016

tanques-redeNa piscicultura do Estado, o Incaper auxilia os produtores a dominar as tecnologias de produção, orientando-os no que se refere à utilização de tanques rede (gaiolas) ou tanques escavados, por exemplo. De acordo com dados da Cooperativa de Aquicultores do ES (Ceaq), foram processadas 93,3 toneladas de filé de tilápia em 2014.

Entre as espécies de água doce, a tilápia é mais cultivada no Espírito Santo, pois possui um desenvolvimento bastante acelerado e excelente aceitação no mercado. O Incaper também defende a implantação de fazendas marinhas no litoral do Espírito Santo. O Estado apresenta características favoráveis à Aquicultura, tanto pela localização privilegiada, estando próximo do Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, como pelos aspectos climáticos favoráveis e ainda a disponibilidade hídrica.

O que esperar de 2017?

Infelizmente a crise hídrica verificada em 2016 provocou uma queda na produção, principalmente nos sistemas de produção que utilizam viveiros escavados e dependem da captação de água disponível nos rios e córregos, mais comuns na piscicultura da região Serrana do Estado e nos cultivos de camarão da Malásia no norte, em Governador Lindenberg e São Domingos do Norte, mais excessivamente.

Já o sistema de cultivo de tilápias em tanques rede, nas lagoas, característico do município de Linhares, as perdas ocorreram, mas foram menores, sendo que só Linhares produziu em 2016 cerca de 285 toneladas de tilápias por mês. Só a Associação de Produtores do Guaxe (APIGUA), a produção foi de 12 toneladas mensais.

A tendência é que em 2017 a produção melhore com a disponibilidade de água proveniente das chuvas. Os produtores voltarão a ter como captar água para abastecer os viveiros e fazer a renovação de água necessária para a oxigenação.


Silvicultura
Por Tiago de Oliveira Godinho, Engenheiro Florestal e pesquisador do Incaper e membro da Associação dos Engenheiros Florestais do Espírito Santo (AEFES)

2016

seringueira fariasA silvicultura, assim como outros inúmeros setores teve como principal ameaça em 2016 a escassez de água e os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, a falta de crédito agrícola também atingiu o setor.

O que esperar de 2017?

Segundo estudos do Centro de Desenvolvimento do Agronegócio (Cedagro), em 2012 o Espírito Santo tinha 393.321,55 hectares de área degradada, o que corresponde a 8,54% do território que temos no Estado. Nesse contexto, os Sistemas Ecologicamente Intensivos de Produção são uma boa opção de recuperação dessas áreas e também surgem como estratégias para vencer as mudanças climáticas.

O modelo produtivista tem mostrado seus limites quanto ao uso insustentável de recursos naturais e impactos negativos. Os Sistemas Ecologicamente Intensivos de Produção buscam maximizar as funcionalidades ecológicas e as regulações biológicas nos agroecossistemas, com o propósito de assegurar elevados níveis de produtividade sem prejuízo para o meio ambiente. Seria o uso de tecnologias que sejam, ao mesmo tempo, factíveis ao produtor, economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis.

Nesse sistema, busca-se criar condições para que os mecanismos naturais sejam intensificados, em vez de subsidiar diretamente a produção com fertilizantes e pesticidas entre outros insumos. Sendo assim os insumos são utilizados de forma racional, sempre associados às práticas agroecológicas, buscando-se com isso garantir ganhos na lucratividade sem comprometer o meio ambiente.

Matéria publicada na Revista Campo Vivo – Edição 32 – Dezembro 2016/Janeiro/Fevereiro 2017

Redação Campo Vivo

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