A alta da soja e a queda dos preços internacionais dos fertilizantes abriram uma boa oportunidade para a fixação da relação de troca pelo produtor, segundo Guilherme Melo, analista de agronegócios no Itaú BBA.
A pressão menor da demanda por fertilizantes provocou queda nos preços internacionais. Já a quebra na safra de soja, principalmente na América do Sul, fez o preço da oleaginosa subir.
Nesta sexta-feira (10), a soja chegou a ser negociada por valores superiores a US$ 12 por bushel (27,2 kg) na Bolsa de Chicago.
Antonio Carlos Ortiz, diretor da área de produtores do Itaú BBA, diz que a fixação da relação de troca provoca incertezas, porque preços e demanda podem mudar.
Mas, na avaliação dele, “é recomendável que o produtor considere a fixação agora”. Para Ortiz, o produtor deve “travar” parte dos insumos que vai utilizar e parte da soja que será vendida.
Em geral, a antecipação na comercialização de soja é de 30% da produção. Desempenho das lavouras e produtividade poderão determinar outros 20% a 30% durante a safra, com o restante ficando para vendas posteriores.
Para permitir que o produtor aproveite este momento de relação de troca historicamente favorável, o banco estabeleceu uma linha de crédito para a safra 2016/17.
Para Melo, as condições de preços nos próximos meses podem mudar e tornar a relação de troca menos favorável.
As indústrias de fertilizantes deverão adequar a produção com a demanda, que havia recuado.
Com isso, os preços atuais dos fertilizantes podem estar no melhor momento. Além de uma eventual alta com a adequação de produção das indústrias, a demanda pode crescer em algumas das principais regiões consumidoras.
Melo aponta o momento favorável da relação de troca. No início de junho do ano passado, o produtor adquiria 0,8 tonelada de DAP (matéria-prima intermediária para fertilizantes) com uma tonelada de soja.
Neste ano, a tonelada de soja compra 1,3 tonelada de fertilizante, aponta cálculo do Itaú BBA.
Milho
Além da soja, o milho também está em alta. Para Ortiz, essa elevação se deve a uma mudança consistente e estrutural nesse mercado.
Há uma convergência de preços entre os mercados externo e interno. O produto tem agora canais de liquidez e até de financiamento externo. “É saudável porque dá mais opções ao produtor.”
Esse novo cenário do milho está exigindo uma atitude nova das indústrias consumidoras, segundo Melo. Elas estão buscando “estratégias de aquisição do produto”, complementa ele.
A dança dos números na safra de grãos
As safras de grãos do Brasil, da Argentina e dos EUA são movidas a efeitos climáticos atualmente.
Diante disso, há estimativas para todos os gostos. A Céleres, por exemplo, mantém a safra brasileira de soja 2015/16 em 100 milhões de toneladas.
Para o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), serão 97 milhões de toneladas neste ano.
Acima de 100 milhões só em 2016/17, segundo o Usda, quando a safra brasileira atingirá 103 milhões.
Quanto ao milho, a grande questão é o potencial da safrinha, calculado em 48 milhões de toneladas pela AgRural, abaixo dos 50 milhões do Usda.
Já a Céleres apontou nesta sexta-feira (10) um volume de 49,5 milhões para o período. Com isso, a safra nacional de milho de 2015/16 recuaria para 78,4 milhões de toneladas, ante 87,2 milhões no ano passado.
A Argentina, afetada pelo excesso de chuvas durante a colheita, não ultrapassará os 60 milhões de toneladas de soja, como o previsto inicialmente, mas ficará em 56,5 milhões, segundo o Usda.
Nos EUA, a safra de soja fica em 103 milhões de toneladas, e a de milho, em 366,5 milhões. Em um período de queda nas expectativas de produção, o consumo cresce, encurtando os estoques mundiais, tanto de soja como de milho, aponta o Usda.
Folha de São Paulo