Evaristo de Miranda despede-se da Embrapa

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Depois de mais de quatro décadas, o pesquisador Evaristo Eduardo de Miranda aposentou-se e encerrou, em 31 de dezembro, sua carreira na Embrapa

Depois de mais de quatro décadas, o pesquisador Evaristo Eduardo de Miranda aposentou-se e encerrou, em 31 de dezembro, sua carreira na Embrapa. Miranda fez parte da história da Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Embrapa Territorial (Campinas, SP). Nesta última, foi chefe-geral por três mandatos, o último deles no período de 2015 a 2021.

Engenheiro agrônomo, com mestrado e doutorado em Ecologia, Miranda obteve sua formação acadêmica na França. Foi lá também que, pela primeira vez, ouviu falar da Embrapa. Estava trabalhando no laboratório de um instituto de pesquisa francês, quando chegou um visitante brasileiro, Eliseu Alves, fundador e, à época, presidente da Empresa. Miranda sempre conta que, depois de pouco tempo de conversa, Eliseu “decretou”, em bom “mineirês”: “Pode largar isso aí, ocê vai trabalhar na Embrapa!”. Aos 92 anos, Eliseu confirma a história: “Eu encontrei ele, gostei dele e contratei ele”.

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O ex-presidente não se arrependeu do convite e avalia que Miranda deu grande contribuição à Empresa e ao País com as pesquisas focadas na dimensão territorial da agropecuária. “Ele teve um papel fundamental em nos ajudar a entender o tamanho correto da região amazônica, do Cerrado e de outros biomas e mostrar que nós já estávamos desenvolvendo tecnologias adequadas para serem aplicadas nesses lugares”, afirmou Eliseu.

O atual presidente da Embrapa, Celso Moretti, avalia que, “talvez pela sua formação de ecólogo, Evaristo foi dos primeiros a nos trazer a visão da importância do equilíbrio entre a produção agropecuária e a preservação ambiental, que hoje temos muito clara. Em outras palavras, a visão que hoje predomina no agro brasileiro de que é possível produzir e preservar o meio ambiente”. Ele complementa: “Sua experiência e articulação, nacional e internacional, contribuíram de forma significativa para o estabelecimento e consolidação dos Centros de Pesquisa da Embrapa onde atuou. Evaristo liderou equipes que conseguiram transformar percepções em hipóteses verificáveis pela ciência, traduzindo um Brasil imaginado, e muitas vezes inimaginável, em números, mapas e fatos concretos sobre a real interface do mundo rural com o meio ambiente. Isso posicionou a Embrapa na vanguarda da sustentabilidade”.

Quando perguntado sobre o que aprendeu em sua jornada na Embrapa, Miranda responde: “Em qualquer bioma e para qualquer categoria de produtor, é decisivo o papel da ciência, da tecnologia e das inovações para o avanço da agricultura, de sua rentabilidade, competitividade e sustentabilidade, e para a melhoria da renda e da qualidade de vida do homem do campo”. Dentre as realizações de que se orgulha está a contratação e formação de equipes de pesquisadores em várias Unidades da Embrapa e a consolidação de conceitos e métodos em sistema de inteligência territorial estratégica (SITEs), a exemplo dos já desenvolvidos para temas como a Macrologística Agropecuária, a Aquicultura e o Bioma Caatinga. Ele também destaca ter dirigido programas nacionais de pesquisa e contribuído para a construção dos três centros de pesquisa da Embrapa em que atuou, nos primeiros anos de vida deles.

O atual chefe-adjunto de Administração da Embrapa Territorial, Luís Gonzaga Alves de Souza, esteve ao lado de Miranda nos períodos em que foi gestor de centros de pesquisa, a partir de 1997. Ele lembra o empenho do pesquisador para a construção da sede própria da então Embrapa Monitoramento por Satélite – hoje, Embrapa Territorial -, desde as negociações para obter a cessão do terreno até a superação das dificuldades financeiras. “Não tem nada aqui que não tenha sido pensado e planejado por ele, dos móveis à arquitetura”, contou Souza.

Hoje à frente da Embrapa Territorial, o chefe-geral Gustavo Spadotti diz: “Fico triste, como embrapiano, por perdermos um dos maiores nomes no nosso quadro. Mas o Agro não deve lamentar, pois Evaristo ainda dará muitas contribuições ao setor, agora de novas maneiras. Ainda tenho desejo de contar com seus préstimos como membro do Conselho Assessor Externo da Embrapa Territorial. Seria um privilégio ter esse mestre entre nossos conselheiros”.

Miranda conta que, agora, vai “seguir, no setor privado, na área de pesquisa e comunicação com o mundo urbano, sempre perto dos produtores rurais e das realidades do campo”. Para os que ficam na Empresa, deixou uma mensagem: “Aquilo que não encontram na Embrapa, devem dar a ela. Quem conhece um mínimo da área pública no Brasil, sabe o significado e o privilégio de pertencer à Embrapa e tem espaço para construir sua carreira excepcional.”

O pesquisador é autor de mais de 50 livros em português, inglês, italiano, francês, árabe e mandarim, além de 35 capítulos em 31 outros livros. Publicou mais de 1.300 artigos científicos e de divulgação aqui e no exterior.

Embrapa

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