Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL CAFÉ (Edição 46 – Julho 2021)
Cada vez mais sucesso na cafeicultura
Ganhando cada vez mais espaço no mercado de café, com índices de produtividade satisfatórios, qualidade de bebida atraindo novos consumidores, o café robusta amazônica está provando que chegou para ficar. Com um acentuado sabor da floresta, corpo aveludado, gosto marcante, doçura natural e uma sutil acidez, o café vem do cruzamento natural das variedades botânicas conilon e robusta, da espécie canéfora. Originária de regiões equatoriais e tropicais da África, existem dois grupos de materiais genéticos distintos, de centros de origem “congolense” e “guineano”.
Do grupo “congolense” fazem parte o café robusta, caracterizado por ser originário de regiões de temperaturas elevadas e estação seca moderada. Já o café do grupo “guineano” é o conilon, também originado de temperaturas elevadas, com estação seca moderada a acentuada.
Os cafés do grupo robusta têm um porte mais elevado, uma enorme estabilidade de produção, maior tolerância a ferrugem dos cafeeiros e vários materiais resistentes à ferrugem do cafeeiro, tem as hastes mais firmes, frutos maiores, mas é menos resistente à seca.
Já os cafés do grupo conilon tem características de porte mais baixo e planta mais compacta, menor distância entre rosetas, maior tolerância a seca, porém menor tolerância a ferrugem.
De acordo com o engenheiro agrônomo, produtor, consultor e viveirista Roger Laiber Chiabai, o café robusta e o conilon são plantas de fecundação cruzada (alogama) e por isso se obtém grande variabilidade genética. “Novos clones e materiais genéticos são de reprodução sexuada, sendo necessário o plantio de sementes para gerar novos indivíduos. Após os novos indivíduos selecionados e separados, é aí que se faz a reprodução assexuada via propagação vegetativa (clonal). O resultado do cruzamento entre esses dois grupos que podem ser feitos via cruzamento direcionado ou espontâneo (obtendo-se assim novas plantas) dão origem a híbridos com a qualidade dos dois grupos, originando plantas de porte intermediário com maior tolerância à seca e com a principal característica de resistência a ferrugem, e até então resistência ao cancro das hastes e ou fusarium. Possuem ainda ótimas estabilidade de produção”, destaca Chiabai.
Trazendo a experiência do cultivo para as regiões do Espírito Santo, Roger diz que as lavouras mais velhas, onde ainda há clones em linha de híbridos com origem de produtores e pesquisadores de Rondônia e do Espirito Santo, já estão com seis anos, mostrando-se até agora que temos vários genótipos promissores com todos critérios de avaliação analisados, principalmente a estabilidade de produção no ciclo e a renda maduro x beneficiado. “Lembrando que temos experimentos em vários estados e espaçamentos e até a presente data, ainda não houve a ocorrência do cancro das hastes ou fusarium em mais de 98 genótipos em pesquisa”, ressalta.
Baseando-se em estudos do pesquisador Charrier e Berthaud (1988), o engenheiro agrônomo, Roger Chiabai, faz questão de enfatizar que “para evitar a incompatibilidade genética ou gamétofídica, as variedades clonais devem ser constituídas pelo agrupamento de, no mínimo, oito clones para garantir a polinização, a sustentabilidade da atividade e evitar risco da vulnerabilidade ou erosão genética, também garantindo uma alta eficiência na polinização com alta frutificação.
De acordo com Chiabai, além das avaliações que estão sendo realizadas com os clones selecionados pelos agricultores e pesquisadores de Rondônia também estão sendo estudados o comportamento de cultivares desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). “Por meio de uma cooperação técnica firmada em 2018 entre a Embrapa Rondônia, eu e o meu pai, o produtor e consultor Rogerio Emilio Chiabai, foram trazidas estacas para produção de 25 clones que foram desenvolvidos pela unidade da Embrapa em Rondônia. Esses clones estão plantados no município de Aracruz e São Mateus, e terão suas primeiras produções comerciais colhidas e avaliadas no ano de 2021”, explica.
Como a lavoura de café conilon é uma cultura perene, o seu melhoramento genético demanda um longo período experimental em busca de sustentabilidade, produtividade e outras inúmeras características agronômicas. O parque cafeeiro do ES está constituído, principalmente, de café conilon por cultivares melhoradas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Até o lançamento das primeiras variedades em 1993, a produtividade média do estado era de 9,2 sacas beneficiadas por hectare (sc/ben/há) e as lavouras com maior índice tecnológico não ultrapassavam 50 a 60 sacas. Já em 2014, a produtividade média estadual foi de 35,14 sc/ben/ha, mostrando que em pouco mais de 20 anos o uso de cultivares e lavouras mais intensivas proporcionaram um incremento de mais de 280% na produtividade média, com inúmeros produtores obtendo 120sc/ben/ha e atualmente 170sc/ben/ha proporcionando incremento médio de mais de 300% na produção, obtendo-se, então, médias de 100 a 120 sc/ben/ha no ciclo de 5 colheitas com a poda programada. “Toda essa inovação e evolução temos que enaltecer aos trabalhos de pesquisas geradas pelo Incaper, pelo Ceunes de São Mateus e ainda os produtores e a iniciativa privada, tornando nossa cafeicultura sustentável, viável e econômica”, destaca Chiabai.
Marcelo Curitiba, pesquisador da Embrapa de Rondônia, explicou que são dois os grupos de genótipos: o primeiro se refere a primeira variedade lançada pela Embrapa Rondônia, em 2013, denominada de “conilon BRS Ouro Preto”, composta por 15 clones com características de plantas da variedade botânica conilon. E o segundo grupo de clones são híbridos produzidos por meio de cruzamento direcionado ou espontâneo entre plantas das variedades conilon e robusta e que foram registradas de forma individualizada. “Por apresentarem características distintas do conilon e mais próximas aos robustas, esses clones são denominados de robustas amazônicos”, explica o pesquisador da Embrapa.
O produtor Aldrin Marcio Lubiana cultiva o robusta amazônico há cinco anos e afirma que notou diferenças entre esse tipo de café e o que já cultivava antes. “Percebi que essa qualidade é mais resistente a ferrugem e o crescimento de alguns clones é muito maior e mais produtivo, porém tem alguns outros vários clones que testei e não tive resultado positivo, então não plantarei mais. Os clones que gostei bastante e pretendo continuar investindo são esses: Bio2, Bio3, Bio4, Bio5, Bio7, Bio8, Bio10 e Bio 17”, diz o produtor.
Na propriedade de Lubiana, localizada no município de Nova Venécia (ES), ele cultiva o conilon, o robusta e o híbrido, que é o cruzamento dos dois. “Os robustas e os híbridos são mais resistentes a ferrugem, porém os amazônicos geralmente são mais precoces e alguns deles com maturação desuniforme, então assim que maduram os frutos caem. Como em alguns clones isso não acontece e a produtividade é muito superior, tenho optado por plantar somente híbridos, pois ele tem um resultado muito superior que o conilon. Tem um gasto bem semelhante em relação aos investimentos e um pouco mais alto na adubação, pois produzem mais e precisam serem adubados de melhor forma, mas ganhamos essa diferença no custo de produção pela alta produtividade”, destaca Aldrin.
O Pesquisador e coordenador estadual da cafeicultura do Incaper, Paulo Sergio Volpi, contou que em 2019, junto com o grupo Gtec Conilon, membros do Instituto realizaram uma viagem chamada “Missão Amazônica” com o objetivo de conhecer mais sobre essa espécies de café direto na região amazônica. Nessa missão foram realizadas visitas em algumas propriedades rurais, e junto com pesquisadores da Embrapa Café, os técnicos e pesquisadores trouxeram alguns materiais genéticos daqueles clones plantados naquela região para serem testados e avaliados no estado. Esses clones estão instalados hoje na Fazenda Experimental do Incaper de Marilândia.
“Temos hoje em experimento 29 genótipos em uma lavoura que está com 24 meses (a primeira colheita). Então os primeiros resultados dessa pesquisa ainda estão sendo coletados em campo, por isso nós não temos ainda uma definição de qual vai ser o comportamento desses materiais em termos de produtividade. O que temos até agora ainda não serve de base para indicar que essa variedade seja plantada em grande quantidade ou não, pois as pesquisas seguem em andamento”, pontuou o pesquisador.
Para Paulo, é necessário que se avalie ainda as diferentes condições climáticas da região Amazônica com o Espírito Santo, sejam elas de solo, chuva, ou qualquer outro fator climático para ter mais detalhes sobre a produtividade dessa espécie. “Como órgão oficial, temos a obrigação de dar um resultado mais assertivo para os produtores capixabas. Então para dar uma garantia mais exata se vai dar certo ou não fazer um investimento nessa variedade em questão de produtividade, nós só poderemos passar daqui 3 ou 4 colheitas”, frisou.
O pesquisador ainda fez questão de esclarecer que esse foi um ano agrícola muito bom, pois o volume de chuvas foi grande. Ao mesmo tempo, Paulo destacou que é preciso avaliar como seria se não tivesse sido assim. “O que nós vamos avaliar também é: será que nos anos mais secos, com menos chuvas, o Robusta vai ser mais sensível a falta d`água? Nós ainda não temos também essa resposta, mas o que temos é uma preocupação muito grande de tomar uma decisão de indicar esse material genético sem conhecer melhor a qualidade, então por isso a nossa cautela. A base da nossa cafeicultura é familiar, os produtores vivem da renda desse café, então é muito sério colocar essa confiança e incentivo no produtor para que ele faça grandes plantios de uma variedade que ainda não estamos completamente adaptados. Por forma de precaução, para que não aconteça algo muito ruim e inesperado, só teremos mais embasamento para falar sobre o assunto daqui uns 36 meses, em média”, concluiu o pesquisador.
Todos esses materiais que hoje estão na Fazenda Experimental do Incaper, em Marilândia, além de serem utilizados para avaliação de produtividades no plantio, serão testados para verificação de qualidade de bebida, onde serão coletadas amostras e colocadas às cegas para provadores avaliarem.
Redação Campo Vivo