Nos últimos 24 meses o produtor de mamão teve sua rentabilidade expressivamente reduzida
Bruno Pessotti, Presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex)
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex) foi criada em julho de 2001 por seis empresas brasileiras exportadoras de mamão. Atualmente, a entidade representa os produtores e as empresas exportadoras de mamão no Brasil sendo reconhecida nacional e internacionalmente pelas ações de organização e fortalecimento da classe produtora, com o objetivo de conseguir benefícios para toda atividade.
Bruno Pessotti é o atual presidente da entidade. Jovem mas com larga experiência no setor mamoeiro, o empresário exportador de mamão concedeu esta entrevista à Revista Campo Vivo.
CAMPO VIVO – Como o setor do mamão tem enfrentado esse momento atual do mercado considerando as mudanças de hábitos devido a pandemia e aos fatores econômicos atrelados?
BRUNO – No início da pandemia em 2020, observou-se uma procura maior pelo fruto, possivelmente pelo temor de desabastecimento. Ainda no primeiro semestre de 2020, a demanda retornou para a quase normalidade e, na sequência, caminhou para o declínio determinado por fatores variados dentre os quais se pode listar a restrição de público nas lojas dos supermercados, grande canal de venda para os produtores de mamão.
Ao mesmo tempo, no campo, a produção mantinha seu ritmo. As vendas sofriam sensíveis reduções, pelo declínio da demanda, fazendo-se necessária uma nova estratégia de venda, incluindo promoções para permitir o escoamento da produção. Neste contexto, houve depressão nos preços de venda para a faixa média de R$ 0,90 (noventa centavos) enquanto os custos alcançavam a faixa de R$0,85 (oitenta e cinco centavos).
CAMPO VIVO – O fator logístico tem preocupado ainda? Como estão as exportações e a perspectiva do setor para os próximos meses?
BRUNO – A exportação de papaya se dá 100% pelo modal aéreo. Com a pandemia, obedecendo medidas sanitárias, houve uma sensível redução na oferta de voos comerciais, que é o modal mais utilizado. A redução no número de voos e, em alguns momentos, até a suspensão, teve um imediato e negativo impacto nas exportações. Em alguns momentos, no esforço de se realizar alguma entrega externa, fez-se necessário utilizar aviões cargueiros – com custo maior de frete e logística mais lenta de entrega.
Antes da pandemia, o frete por quilo estava cotado na faixa de € 0,76 (setenta centavos de euro) e hoje é de € 1,64 (hum euro e sessenta e quatro centavos).
Se na pandemia houve uma redução nas exportações por ter havido menor oferta de transporte, a realidade hoje é outra: redução nas exportações determinada pela menor oferta de frutos (queda na produção, tanto do mamão tipo formosa quanto do tipo havaí).
CAMPO VIVO – E no mercado interno qual o posicionamento do setor para enfrentar essas adversidades atuais?
BRUNO – Considerando a área plantada, é possível afirmar que será reduzida a oferta de mamão (tipos Havaí e Formosa). Nos últimos 24 meses o produtor de mamão teve sua rentabilidade expressivamente reduzida. Neste contexto, a redução das áreas de plantio é a primeira consequência. Somando-se a isto, vale acrescentar que houve redução na oferta de sementes do mamão tipo Formosa (sementes importadas da China).
CAMPO VIVO – O setor tem um know-how reconhecido de práticas adequadas de produção para acessar o exigente mercado externo, em especial dos Estados Unidos. Estão trabalhando para ampliar outros mercados no exterior?
BRUNO – Os produtores de mamão, nos últimos anos, têm adotado tecnologias avançadas, o que permitiu que mercados exigentes como os mercados europeus e norte americano fossem acessados. Hoje já estão sendo acessados também outros mercados como o mercado do Japão e dos Emirados Árabes.
CAMPO VIVO – Quais os desafios em investimentos em infraestrutura que o setor considera prioridade nesse momento?
BRUNO – Vale destacar a necessidade de uma logística aérea a partir do aeroporto de Linhares. Esta possibilidade representará, de imediato, um redução nos custos por quilo da ordem de R$ 0,45 (quarenta e cinco centavos de real), igualando com o frete que se paga hoje para atender o mercado de São Paulo. Considere-se, ainda, o ganho expressivo no “shelf life” (aumentando a durabilidade do fruto nos mercados finais).
Os produtores de mamão, nos últimos anos, têm adotado tecnologias avançadas, o que permitiu que mercados exigentes como os mercados europeus e norte americano fossem acessados
CAMPO VIVO – Produtores tem relatado preocupação com o futuro do setor devido aumento significativo do custo de produção do fruto. Como a BRAPEX analisa esse cenário?
BRUNO – Esta é uma questão de grande relevância e complexidade. Na atividade agrícola, diferindo de outros setores da economia, o produtor não é formador de preços, é “tomador de preços”. No contexto atual, observa-se uma grande elevação nos custos dos fatores de produção. E, ao mesmo tempo, um interessante momento de valorização de commodities como o café e a pimenta, importantes para a região. Assim, a reduzida rentabilidade no negócio “produção de mamão” tem levado os produtores para uma ruptura nos planejamentos de novas áreas de cultivo do mamoeiro, optando pela abertura de novas áreas com o café e a pimenta.
A consequência da combinação destes fatores será, inevitavelmente, redução na área de cultivo do mamoeiro. E o mercado já trabalha considerando um cenário de menor abastecimento de frutos para o ano de 2022.
Entrevista publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL MAMÃO DO BRASIL (Edição 47 – Dezembro 2021)