A estiagem prolongada tem sido cruel para o setor cafeeiro do Espírito Santo. Com queda na safra e nas vendas para o mercado externo, muitas empresas exportadoras e armazéns estão fechando as portas e vários produtores têm erradicado as lavouras por falta de perspectivas de uma recuperação.
Ainda que os efeitos do El Niño já comecem a dar trégua à agricultura, a colheita de 2017, assim como a deste ano, estará comprometida. A previsão é de que a chuva volte a cair com força no território capixaba apenas em outubro, o que não será suficiente para mudar o cenário do ponto de vista produtivo.
Para os especialistas nesse mercado, a safra e as vendas só devem voltar ao patamar de 2014 – um dos melhores períodos para essa cultura – em 2018 ou mesmo em 2019. Isso só vai acontecer se no período, não houver mais nenhum revertério climático.
Há dois anos, o estado produziu 9 milhões de sacas de café conilon. Na safra deste ano, foram 5,5 milhões. O prejuízo estimado ultrapassa os R$ 2,5 bilhões ao se contabilizar as perdas para produtores, exportadores e outros integrantes dessa cadeia, como o comércio.
“É o terceiro ano seguido de seca no Espírito Santo. Em algumas regiões, está chovendo menos da metade do que ocorre em época de condições normais”, explica o secretário de Estado de Agricultura, Octaciano Neto.
A estiagem persistente tem prejudicado, inclusive, quem usa o sistema de irrigação. “Mas demanda por água é tão alta que nem as áreas irrigadas, que correspondem a 7% do território, saíram ilesas”, acrescenta.
O presidente do Centro de Comércio do Café de Vitória (CCCV), Jorge Luiz Nicchio, diz não ser possível estimar quantas, mas muitas empresas não resistiram à seca.
“Quando há uma chance de a situação mudar, os empresários decidem segurar por mais um tempo, mesmo com a queda nas vendas e na produção. Mas as expectativas ruins para o setor não permitem a manutenção de investimentos. Por isso, podemos ver vários armazéns sendo fechados”, explica.
A crise no ramo de café teve ainda um elemento a mais. Vários produtores aproveitaram o período de dólar alto para exportar todo o estoque.
“Nós enxugamos o mercado interno e ficamos sem reserva quando as estimativas para a safra deste ano não se concretizaram”, explica o diretor social do CCCV, Eduardo Bortolini.
A inesperada valorização do real frente ao dólar, ressalta Bertolini, causará mais perdas. “Enquanto o dólar estiver nesse nível, ficará difícil viabilizar novamente a exportação”.
G1