Na análise do Conselho Nacional do Café (CNC), a demanda atual pelo café, sobretudo os especiais, vive dois momentos diferentes.
Segundo Silas Brasileiro, presidente do CNC, apesar de a procura pelos cafés especiais ter reduzido em função do fechamento das cafeterias, os players têm aumentado a busca pelo café brasileiro, que atende com muita qualidade o produto a ser vendido nas gôndolas dos supConsumo do café cresce na quarentena e Nestlé aposta em bebida premiumermercados. “O varejo, aliás, registra avanço na comercialização, suprindo boa parte da ausência de negócios nas casas especializadas de café”, afirma.
Reforçando os números que ainda mantém o café brasileiro em destaque, Silas destaca que importantes cooperativas travaram os negócios futuros, deixando assim o Brasil bem posicionado no mercado. “Algumas comercializaram mais de 60% do café previsto a ser recebido, por exemplo”, afirma. Comenta ainda que neste momento, os negócios estão mais lentos. “Aguardando cotações rentáveis e podendo contar, em breve, com recursos recorde de R$ 5,71 bilhões do Funcafé, conforme trabalhamos para a antecipação da liberação desse capital agora no final de maio”, afirma.
Ainda falando na cadeia de cafés especiais, Silas destaca que o segmento de microtorrefações e as cafeterias independentes registravam até meados de maio uma redução média de 76% nos negócios. O mercado tem acompanhado, inclusive, que o cenário fora do Brasil para os mesmos segmentos apresentam as mesmas baixas.
“As lojas que ficam abertas, funcionam apenas com delivery e e-commerce, mas o resultado vem sendo bom apenas onde entregas e compras virtuais eram hábito. Onde não era cultural, nos cenários em que se preferia viver a experiência de entrar e degustar cafés especiais nas cafeterias, as ferramentas digitais pouco ajudam, já que essa mudança não ocorre imediatamente”, comenta.
Já sobre os estoques internacionais, Brasileiro destaca que acontece sim uma diminuição nos volumes, mas não com baixas tão expressivas. Segundo o presidente, o interesse nesse caso é justamente a procura crescente pelo café brasileiro, mais uma vez em função da qualidade adequada para comercialização no varejo.
Pós pandemia
Silas reforça que ainda é cedo para projetar novos cenários no pós pandemia, mas afirma também que o fato de o estágio do Coronavírus ser distinto nas diversas partes do mundo, acaba sendo ainda mais complexo desenhar como se comportará o mercado nos próximos meses. Vale lembrar que o mercado do café que já se apresenta volátil, com a pandemia se manteve em bons patamares de preços, mas precisa ser avaliado diariamente diante das incertezas que sonda todo o setor financeiro a nível mundial. “Ainda acho muito cedo para prognosticarmos quaisquer cenários. O que tenho por certo é que a população mundial seguirá consumindo café, principalmente do Brasil”, afirma.
No acumulado de janeiro a abril deste ano, os impactos foram maiores na Itália – 3º principal comprador – e no Japão – 5º principal comprador –, países onde o novo Coronavírus se manifestou “antecipadamente”. Esses destinos reduziram em 9,2% e 38%, respectivamente, as compras do café brasileiro. Destaca ainda apesar dos números chamarem atenção, por outro lado, Estados Unidos, Alemanha e Bélgica (1º, 2º e 4º maiores compradores no quadrimestre) ampliaram a importação do produto nacional. No total, o Brasil exportou 13,430 milhões de sacas de janeiro a abril de 2020, mantendo o nível registrado no mesmo intervalo em 2019.
Quanto ao mercado, Silas destaca que a expectativa é de que a comercialização dos cafés do Brasil sigam em um ritmo próximo ao normal. Logo que a pandemia foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) havia no mercado uma incerteza sobre os embarques, principalmente por uma possível falta de contêineres, que poderiam ficar presos nos portos chineses.
O assunto, no entanto, é tratado como superado para cafeicultura brasileira. “Os produtores também contarão com recursos recordes do Funcafé, o que permitirá que possam negociar sua produção nos momentos oportunos de mercado e não se vejam obrigados a vender logo na entrada da safra, a preços que poderão se apresentar aviltados, evitando a entrada de grande volume de café nessa época, o que manteria as cotações pressionadas”, comenta.
Também desde o início da pandemia, os fatores macroeconômicos do mercado têm se sobreposto aos fundamentos, cenário que Silas classifica como normal na pandemia. Falando em mercado futuro, destaca que será necessário acompanhar diversos fatores relacionados à economia. “Precisaremos acompanhar o desenrolar de diversos fatores relacionados à economia mundial, a commodities como o petróleo, a flutuação cambial e, internamente, o andamento das propostas políticas”, finaliza.
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