Durante dois anos, centenas de fazendas de café robusta vietnamitas foram analisadas. A partir disso, pesquisadores encontraram novas evidências de que os sistemas agrícolas de monocultura (monocrop) estão liberando mais CO2 na atmosfera do que sequestrando.
Por outro lado, a pesquisa também descobriu que fazendas de café diversificadas – aquelas com outras espécies de plantas cultivadas ao lado do café – podem atuar como sumidouros de carbono, removendo quantidades significativas de CO2 da atmosfera.
A pesquisa e o relatório subsequente foram liderados pela IDH, The Sustainable Trade Initiative, da Holanda, com dados compilados pela firma holandesa Agri-Logic, envolvendo o trabalho de inúmeras empresas de comércio de café com interesses adquiridos no fornecimento de robusta, incluindo JDE Coffee, Lavazza, a subsidiária da Olam e da Ecom, Acom Vietnam.
“A mudança climática é uma ameaça que exige repensar urgentemente os sistemas agrícolas nos quais o café é produzido”, disse o diretor de Paisagens Globais da IDH, Daan Wensing, ao anunciar o relatório. “Esta pesquisa traz esperança de que comunidades e cafeicultores podem se tornar mais resilientes ao clima, e nosso café mais sustentável. Juntamente com o uso mais eficiente de fertilizantes e água, a diversificação pode estar na vanguarda dos esforços para tornar a produção de carbono positiva.”
Embora o relatório deixe clara a necessidade de cenários cafeeiros mais diversificados e biodiversos, bem como de treinamento e educação sobre o uso estratégico dos insumos agrícolas, ele não aborda quem deve pagar por tudo – e pede aos agricultores que paguem pelos projetos de resiliência climática em meio a uma crise global dos preços do café que podem ser difíceis de vender.
O Vietnã ganhou proeminência como o segundo maior país produtor de café do mundo em volume a partir da Guerra do Vietnã e durante os anos 90, ficando apenas atrás do Brasil. Produzindo principalmente o robusta, o setor cafeeiro do país foi definido por uma abordagem baseada em volume, muitas vezes resultando em desmatamento para sistemas de fazendas de monocultivo a céu aberto e a subsequente perda de biodiversidade. Também cria uma forte dependência de pesticidas, considerada uma das maiores fontes de emissões de carbono na produção de café.
Este ano, a principal região produtora do Vietnã, Central Highlands, enfrenta a perspectiva de uma seca que pode afetar a produção e a qualidade, e ressalta a necessidade de estratégias de mitigação da mudança climática combinadas com métodos de produção resilientes ao clima.
A pesquisa da IDH explorou a pegada de carbono de cerca de 300 fazendas nas províncias das de Lam Dong e Dak Lak. O relatório sugere que as fazendas de café monocultoras resultam em fontes líquidas de carbono, liberando uma média de 0,37 toneladas de CO2 por ano por tonelada de café produzido. Por outro lado, foram descobertas fazendas de café diversificadas como sumidouros de carbono, removendo 0,16 toneladas métricas de CO2 da atmosfera por ano por tonelada métrica. As implicações de carbono são imensas, dado o fato de que o Vietnã produziu cerca de 1,65 milhão de toneladas métricas de café em 2017.
Além do uso mais eficiente e estratégico de água e pesticidas, o relatório sugere que os agricultores poderiam adicionar plantas, como pimenta, abacate e outras plantas cultivadas, para criar mais biomassa e sequestrar mais CO2.
“A diversificação é um conceito crescente no Vietnã”, disse Wensing. “À medida que mais agricultores adotam esse e outros métodos agroflorestais, o número de fazendas que servem como sumidouros de carbono crescerá, tornando-se fatores cruciais tanto para a mitigação climática quanto para a resiliência”.
Daily Coffee News