O cafeicultor brasileiro vivencia um cenário de preços que não era registrado há pelo menos cinco anos. Com saca negociada abaixo de R$ 400,00 em diversas localidades e custos cada vez mais altos, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) levantou que a margem de lucro já está negativa.
De acordo com levantamento da maior representante dos produtores rurais do Brasil, na média do país, os preços de comercialização do café arábica, no último levantamento, estavam em R$ 398,00 por saca de 60 kg com custos de R$ 428,00. Ou seja, um prejuízo de R$ 30,00 por saca.
“Registramos que as margens estão muito estreitas para o produtor de café, em diversas praças. Os custos chegam a oscilar entre R$ 347,00 a até R$ 510,00 por saca, dependendo da tecnologia”, explica Maciel Silva, assessor técnico da Comissão Nacional de Café da CNA.
Os custos levantados pela Confederação são da safra 2018/19, que ainda está em comercialização, e uma contrapartida de preços que chegam a ficar abaixo de R$ 400,00 a saca. “O cenário é desesperador e já estamos em contato com o governo para resolução desses problemas do setor”, ressalta Silva.
No final de fevereiro e início de março, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica do tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, chegou ao menor patamar diário desde 30 de janeiro de 2014, em R$ 396,32 a saca. Na segunda-feira (11), a referência estava em R$ 401,91.
Os preços internos do café arábica têm seguido uma trajetória baixista desde o final de 2018, quando o Brasil colheu safra recorde total de 61,65 milhões de sacas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Mais recentemente, movimentos especuladores e outros fatores fundamentais têm pressionado ainda mais as cotações externas.
“O retorno das chuvas sobre os cafezais do sudeste brasileiro no decorrer de fevereiro e os bons volumes embarcados pelo Brasil ao longo deste ano-safra servem de pano de fundo para a pressão de fundos e especuladores sobre as já baixas cotações do café na ICE em Nova Iorque”, destacou em relatório o Escritório Carvalhaes.
Os futuros do café arábica na ICE Futures US encerraram a sessão desta terça-feira (12) com queda de mais de 100 pontos, a 96,00 cents/lb no vencimento maio/19.
Na safra comercial 2019/20, que está em desenvolvimento, o cenário de baixos preços deve persistir. “Já estimamos um aumento entre 5% a 6% nos custos de produção da safra atual. Vale lembrar que ela será de bienalidade negativa, então pode ser que esse número ainda aumente”, diz Silva.
Os baixos preços do café no mercado brasileiro não estão restritos ao arábica. No conilon, as margens levantadas, na média brasileira, chegam a ser ainda piores. “O custo operacional total estava em R$ 336,00 a saca em janeiro com preço médio de R$ 281,00 a saca. Ou seja, uma margem negativa de R$ 55,00”, ressalta Maciel Silva.
O Conselho Nacional do Café (CNC) e a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tiveram reunião para debater temas de interesse da cadeia produtiva do café, dentre eles o atual cenário de preços do setor.
“Estamos analisando as melhores maneiras para gerarmos sustentabilidade financeira à cafeicultura nacional. Vamos discutir todas as opções com o Governo e definir quais programas são plausíveis de realização”, disse Silas Brasileiro, presidente do CNC.
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