Enfrentando uma das piores secas dos últimos 40 anos, o setor agrícola capixaba já acumula uma perda de mais de R$ 3,6 bilhões ao longo dos dois últimos anos. A cafeicultura, a fruticultura e a olericultura amargam os piores prejuízos. Segundo informações da Secretaria de Estado da Agricultura (SEAG), somente a produção do café conilon, tendo como base a produção de 2014, registrou queda de 40% na produção, se comparada com a projeção para 2016, e 23% a menos em relação a 2015. Em valores, nos últimos dois anos a seca levou a uma perda de R$ 2,2 bilhões aos cafeicultores capixabas. O número de sacas colhidas reduziu de 9,9 milhões em 2014 para 7,7 milhões em 2015 e 5,9 milhões em 2016. Já a produção do café arábica não sofreu queda no período.
De acordo com o diretor técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Mauro Rossoni Junior, “estima-se que de 300 mil hectares de café que o Estado tem, perdeu-se 100 mil hectares com a seca, o que teoricamente, precisarão ser renovados. Por conta de déficit de informação, há quem acredite que esse prejuízo chegue a ser ainda maior”, destaca.
Para fazer um levantamento mais preciso de dados e saber com exatidão qual foi a perda, o Incaper está organizando tudo com base em atualização de imagens no Geobases, pois a partir de um banco de dados atualizados será possível ter uma sequência de informações de áreas plantadas. Além disso, o Instituto está finalizando uma proposta de um programa estadual de renovação da cafeicultura pós-seca. O programa será denominado de RenovarES. Durante sua execução, serão mais de 15 ações que variam de infraestrutura de pesquisa até capacitação de viveiros e técnicos particulares e públicos. “Após 15 anos de pesquisa, novas variedades tolerantes à seca serão disponibilizadas em 2017. Existe um programa de barragem em andamento, cursos de manejo de irrigação e ainda o aperfeiçoamento das técnicas de multiplicação de mudas clonais será um dos itens de prioridade para nós’, enfatiza Rossoni.
Para o produtor Antônio Carlos de Oliveira Rodrigues, que trabalha com café há vários anos, essa foi a pior seca que ele já viu. “Fiquei um tempo fora e voltei a trabalhar com o café desde 1988. Dessa época pra cá, eu nunca tinha presenciado uma seca tão longa como essa. Perdi toda minha safra de 2015 e 2016”, diz o produtor. E toda essa seca trouxe consequências drásticas pra sua lavoura também para a safra de 2017. O produtor já teve que eliminar parte da uma plantação localizada em Joeirana B, comunidade do município de Sooretama. “Em uma área de 20 hectares fiz o corte dos pés logo após a colheita de junho utilizando uma máquina. Sinto que essa área por ter sido cortada antes, vai reagir mais rápido do que outra área minha de 15 hectares que estou terminando de cortar agora”, ressalta o produtor.
Na área menor, que está terminando de ser cortada, o produtor fez a chamada “poda de recepa”, que é quando se deixa 30 centímetros do caule da planta para que haja estrutura de brotação novamente. “Eu olhava a planta e cada dia ela piorava, então comecei eliminar parte dela, mas a lavoura foi enfraquecendo mais ainda, então esperei a chuva e fiz o corte dos pés. Pra 2017 essa área não me rende mais nada. A expectativa é apenas que em 2018 eu tenha lucro com essa lavoura”, lamenta Antonio Carlos.
Devido a seca que atingiu o Espírito Santo, o cafeicultor já espera um prejuízo estimado em 80%. “Todas minhas áreas foram atingidas pela falta de chuva. Cheguei a fazer um poço artesiano, mas não consegui água. Então o jeito foi esperar pela chuva, que não veio e agravou ainda mais o problema. Arranquei uma lavoura de 35 hectares antes mesmo de colher, pois não via possibilidade de produzir nada. Em outras lavouras novas, esperei a safra acabar para colher o pouco que restava e em seguida fazer o recorte dos pés de café”, diz.
Após passar o auge da turbulência enfrentada pela seca e para que o produtor possa renovar sua lavoura, o Incaper realizará uma série de capacitações de novas técnicas para que os proprietários de viveiros de mudas de café deem conta da demanda dos produtores rurais. “Será uma revolução na forma de produção de clones e mudas. As novas variedades serão disponibilizadas após cada viveirista ser capacitado”, garante o diretor técnico.
Porém, muitas dessas renovações de lavouras dependerão tanto da vontade do produtor como do clima favorável e ainda da renegociação com as instituições financeiras. “Se a chuva vier e os bancos renegociarem as dívidas, melhorando a oferta de crédito, os produtores vão buscar a retomada gradual e a renovação das suas lavouras. Mas, para isso, o Estado tem que estar próximo a eles, orientando através de cursos, simpósios, palestras, oferecendo assistência técnica e extensão rural com foco na sustentabilidade. De certa forma, o produtor precisa, além de recursos, de carinho e atenção para se sentir seguro após passar por um período de estresse tão crítico igual desses últimos anos”, finaliza o técnico do Incaper.
Reportagem publicada na Revista Campo Vivo – Edição 32