A fazenda de Alessandro Oliveira, no pé da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (MG), conseguiu um feito e tanto: a produtividade gira em torno de 47 sacas de café por hectare mais que o dobro da média nacional. E o custo da saca fica em cerca de R$ 238, 40% menos que a média do país. Ele se mantém assim há 6 anos.
Tudo foi alcançado com boas técnicas de administração.
“Tínhamos uma produtividade boa, mas errávamos em outras coisas em que faltava conhecimento”, conta o produtor.
Foi assim que ele contratou o engenheiro Gustavo Veiga, especializado em planos de gestão para empresas urbanas e rurais. Desde então, Alessandro busca sempre gastar menos do que está planejado no orçamento, que é anual, e premia os funcionários com melhor desempenho.
“Uma fazenda, para ter sucesso hoje, tem que ter a parte agronômica muito bem estruturada, a parte de operação muito bem estruturada e uma gestão muito bem aplicada”, diz Gustavo.
Pilares da administração
Uma vez por mês, o engenheiro se reúne com Alessandro e com os gerentes de cada área para revistar as tarefas, produção e valor disponível para gastar. Com essa disciplina, conseguiram baixar as despesas de cerca de R$ 5 milhões para R$ 3,5 milhões.
Para gastar o mínimo necessário, o departamento financeiro da fazenda também pesquisa e negocia muito antes de fazer qualquer compra. Com números na mão, Alessandro se reúne todo mês com os funcionários para informar como andam as contas e a previsão de um bônus anual.
Neste momento, eles operam 10% abaixo do orçamento.
Para conseguir tirar esse planejamento do papel, a principal estratégia da fazenda é manter os funcionários motivados e bem treinados.
De acordo com a época do ano e a etapa do cultivo, os funcionários têm metas diárias para cumprir.
O gerente de cada área monitora tudo. Para pulverização e adubação, por exemplo, o controle é feito em hectare. Já a colheita é medida em volume de café colhido por dia em cada máquina.
Sempre que o funcionário bate a meta diária, ganha um bônus em dinheiro, pago no fim do mês, junto com o salário.
O operador de máquinas Valdinei Rocha que, nesta época, pilota as colhedoras, tem a meta de colher 4 carretas de café por dia. Ele é um dos campeões de bônus da fazenda: seu salário fixo é de R$ 1.340, mas recebe cerca de R$ 1.800 por mês.
Ao final da safra, se os gastos ficarem abaixo do orçamento, todo mundo recebe mais um bônus, que varia de 2,5 a 5,5 salários, dependendo do cargo.
Máquinas multifuncionais
Para conseguir cumprir metas em um negócio que sofre interferências externas, como a mudança do clima, aumentos no custo dos insumos e do preço produto no mercado internacional, a fazenda também usa de tecnologia e criatividade.
Uma das práticas adotadas foi reduzir o número de vezes que as máquinas entram na lavoura, investindo nas que são multifuncionais. Elas realizam mais de uma operação ao mesmo tempo, economizando no combustível, na manutenção dos equipamentos e na mão de obra.
Isso também é bom para diminuir o risco de compactação do solo.
Por questões ambientais, lá não se usa irrigação, então a água que cai no verão e fica armazenada no subsolo é bem aproveitada.
O capim tipo braquiária plantado nas entrelinhas da plantação de café, por exemplo, ajuda a melhorar a porosidade do solo, para que mais água seja armazenada.
E, para criar raízes profundas que alcancem essa água, os produtores capricham na adubação. São usados cálcio (na forma de gesso), boro e oxigênio. O gesso é aplicado uma única vez antes da implantação do cafezal. O boro é levado nas adubações regulares e o oxigênio já está no solo graças aos canais abertos pela braquiária.
Com planejamento, os adubos chegam no campo sempre na hora certa, e o controle de pragas e doenças é feito depois do monitoramento da lavoura. Agrotóxicos só são aplicados quando o prejuízo for maior que o custo da operação.
Globo Rural