O consumo de café no Brasil neste ano deve somar 22,9 milhões de sacas, de acordo com projeção da Euromonitor International apresentada na manhã de terça-feira (27) durante o 26º Encontro Nacional das Indústrias de Café (Encafé), em Punta del Este, no Uruguai. O número representa um crescimento de 3% a 3,5% sobre o ano passado.
De acordo com a Euromonitor, o Brasil responde atualmente por 16% do volume total de café consumido no mundo. Os números de consumo incluem as diferentes categorias de café – torrado e moído, grãos, cápsulas e solúvel -, dentro e fora de casa.
“O que é importante é que mesmo com a crise econômica, o consumo de café continuou forte. Enquanto todas as outras categorias [de bebidas]tiveram queda, o café foi resiliente”, disse Angelica Salado, analista sênior de bebidas da Euromonitor, empresa de pesquisa de mercado, no encontro promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
A demanda no mercado doméstico brasileiro representa um consumo médio anual per capita de 839 xícaras (de 40 ml), segundo a Euromonitor. Pelos números da empresa de pesquisas, excluindo as bebidas à base de café prontas para beber, o Brasil é o maior consumidor mundial de café atualmente, à frente dos Estados Unidos. A Organização Internacional do Café (OIC), o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e a Abic, que utilizam metodologias de cálculo diferentes da Euromonitor, consideram que o país se mantém em segundo lugar no ranking global de consumo.
Para Salado, os números de consumo no Brasil mostram que o que foi determinante para o crescimento da demanda não foi o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) do país e não foram os preços do café. “Foi a capacidade da indústria de responder às mudanças de mercado que manteve a performance positiva do café”, disse. Segundo ela, o lançamento de novos produtos, a busca de novos canais de distribuição é que permitiram a manutenção do crescimento.
O número de 22,9 milhões de sacas da Euromonitor equivalem a 1,1 milhão de toneladas. A empresa utiliza para os cálculos uma saca de 48 quilos, pois após a torrefação e a moagem o café verde perde umidade.
De acordo com a analista, as empresas fizeram gestão de seu portfólio para manter as vendas na crise. E essa estratégia deve continuar para que o crescimento se mantenha, defendeu. Ela acrescentou que o comportamento do consumidor sofreu mudanças em decorrência da crise – como a busca de produtos mais baratos da mesma marca. E essas “mudanças devem se perpetuar mesmo com a recuperação da economia”, avaliou. “Por isso buscar inovação para agregar valor é fundamental”, disse.
O estudo da Euromonitor mostra que o café torrado e moído vem perdendo participação para outras categorias nos últimos anos no consumo em geral, com um volume de 895 mil toneladas em 2018. Isso representa pouco menos de 80% do total e deve cair mais até 2023. Já o café em grão, cujo consumo alcançou 203 mil toneladas neste ano, ganha participação, que deve ficar mais perto de 20% do total em 2023.
Com um equivalente a 11 mil toneladas do total de consumo em 2018, as cápsulas estão crescendo em ritmo mais lento nos últimos anos. Mas, segundo Salado, até 2023 ainda deve ter um crescimento anual de 5% a 7% no consumo, dependendo da região do Brasil. A categoria representa 1,9% do volume de consumo total. “Ainda existe para avanço”, diz ela, citando a entrada na categoria de empresas tradicionais em torrado e moído — caso da alemã Melitta — como fator que pode continuar estimulando o crescimento.
Conforme a Euromonitor, hoje no Brasil 8% dos lares têm máquinas para café em cápsulas. Eram 5% em 2015 e devem alcançar 15% dos lares em cinco anos. Salado também vê potencial para crescimento na categoria de café solúvel, cujo consumo hoje é estimado em equivalente a 27 mil toneladas. A categoria concorre com cápsulas e torrado e moído, e a analista vê possibilidade de avanço por meio da diferenciação do produto.
Valor Econômico