Cafeicultor do Brasil reduz tratos nas lavouras por maiores custos e preços fracos

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Cafeicultores brasileiros devem investir menos em tratos culturais na safra 2019/20, a ser colhida no próximo ano, diante dos preços enfraquecidos da commodity e da alta dos custos com insumos por causa da apreciação do dólar, disseram integrantes do setor.

O movimento pode colocar mais pressão sobre a oferta no maior produtor e exportador global de café, pois a safra do próximo ano será a de baixa no ciclo bianual do arábica, após uma colheita recorde no país de cerca de 60 milhões de sacas neste ano.

Menos investimentos em fertilizantes e, especialmente, defensivos, poderiam prejudicar a produtividade das lavouras que começarão a ser colhidas no segundo trimestre de 2019, avaliaram especialistas em cooperativas de cafeicultores.

“O produtor está querendo cortar gastos porque o retorno está sendo menor”, alertou o agrônomo Celso Scanavachi, da cooperativa paulista Coopinhal, ressaltando a possibilidade de incidência de doenças por redução no uso de defensivos.

Uma safra menor no Brasil, que responde por mais de um terço da produção global, teria potencial de dar sustentação aos preços globais do café, que tocaram mínimas em mais de uma década em meados de setembro, em razão da supersafra brasileira e da apreciação do dólar ante o real, que agora se atenuou por questões eleitorais.

“Com a redução do investimento, a gente vai ter consequência de falta de café lá na frente”, acrescentou Scanavachi, também produtor, calculando que os cafeicultores da Coopinhal, com sede em Espírito Santo do Pinhal (SP) e mais de 500 cooperados, devem aportar até 30 por cento menos em adubos e defensivos.

O agrônomo e superintendente comercial da Cocapec, de Franca (SP), Ricardo Lima de Andrade, também não descarta menos investimentos nas lavouras, embora pondere que a situação financeira varia entre os produtores e que a própria cooperativa fornece apoio na hora de comprar insumos.

“Temos uma curva de preços do café em baixa e uma curva dos custos em alta”, disse, prevendo um poder de compra de insumos até 8 por cento menor para os produtores em meio a fertilizantes entre 50 e 60 por cento mais caros.

“Vou gastar mais sacas de café para comprar o mesmo insumo. Isso dá a sensação de perda de poder de compra”, afirmou ele, cuja cooperativa para qual trabalha possui mais de 2 mil cooperados. “Sem controle, as doenças adentram à lavoura. Isso é o pior dos caminhos, porque cai a produtividade.”

Em Minas Gerais, principal Estado produtor do país, os receios quanto à nova safra também existem. O gerente do Departamento de Café da Coopervass, de São Gonçalo do Sapucaí e com 2,7 mil cooperados, Leandro Costa, afirmou que, “de maneira geral”, o investimento diminuiu, mesmo com muitas operações de “barter” (troca de café por insumos).

“Podemos ter uma safra com mais defeitos, mais quebra. E também estamos preocupados com o volume a ser colhido justamente por causa dessa desanimada do produtor”, comentou ele.

No Espírito Santo, principal produtor de café conilon, a situação não é diferente. O presidente da Cooabriel, maior cooperativa da variedade robusta do mundo, Antônio Joaquim de Souza Neto, disse que as compras de insumos estão 50 por cento menores neste ano.

“O pessoal está muito desanimado… Não está querendo pegar o adubo porque o café está muito barato”, afirmou.

No mercado doméstico, as cotações da commodity estão em torno de 450 reais por saca de 60 kg, segundo o Cepea, da Esalq/USP, bem distantes dos mais de 560 reais vistos em 2016, no auge da crise de oferta desencadeada pela quebra de produção no Espírito Santo.

Há uma certa estabilidade na cotação do café no Brasil na comparação com a mesma época de 2017, mas os custos cresceram pela valorização de fertilizantes e defensivos denominados em moeda norte-americana, ressaltaram eles.

TEMPO BOM
Por enquanto, das condições climáticas os produtores não podem reclamar —o que eventualmente poderia aliviar o investimento menor nas lavouras.

Andrade, da Cocapec, afirmou que os cafezais na área de atuação da cooperativa, na Mogiana paulista e sul de Minas Gerais, tiveram duas floradas, uma em agosto e outra em setembro, e que os frutos já estão em desenvolvimento.

“Tivemos chuvas espaçadas aqui que, no nosso ponto de vista, foram adequadas para as floradas.”

Scanavachi, da Coopinhal, também comemora, lembrando-se que há um ano uma forte estiagem levantou receios quanto à safra que depois se confirmou histórica.

“Tem chovido bem, vai ter um percentual de pegamento bom, apesar de uma safra pequena. Não pode reclamar, não, porque a chuva deu uma normalizada. Toda a semana está dando uma chuvinha boa. Problema com estiagem não tem”, disse ele.

Agrolink

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