Quase 90% do território capixaba está desnudo. Além de recuperar a cobertura florestal, em áreas de proteção permanente, é necessário melhorar a proteção do solo, com restos de culturas e adubação orgânica, construir caixas secas e adotar outras medidas de conservação de solo, de baixo custo, para aumentar a capacidade de retenção de água, visando alimentar o lençol freático.
Acreditamos que neste momento é fundamental fazer um levantamento da real situação dos lençóis freáticos, visando determinar as medidas protecionistas a serem adotadas em cada bacia hidrográfica. Recuperar a capacidade de retenção de água no solo é mais do que plantar árvores ao longo de córregos e rios. É preciso investir em práticas vegetativas, de adubação orgânica e construção de caixas secas, além de manejo adequado das áreas plantadas.
Não resta dúvida de que o elevado consumo de água na agricultura, na dessedentação de animais, no uso industrial e doméstico, sobrecarrega nossos mananciais, o que requer fortes investimentos em infraestrutura hídrica de captação e distribuição de água. Barragens são fundamentais para isso, inclusive para regularização da vazão dos córregos e rios, ao longo do ano.
Outro fator importante é o uso eficiente da irrigação. De toda água usada, apenas 10% é retido pela planta, sendo os outros 90% percolados, infiltrados, evapotranspirados ou escorridos superficialmente para os leitos dos rios e córregos.
O Estado do Espírito Santo está em situação de emergência contínua. O que era ocasional passou a ser frequente. Muitos de nossos Agrônomos já previam isso desde os anos 60, quando foram realizados os primeiros estudos sobre o zoneamento agrícola, pela Associação de Crédito e Assistência Rural do Espirito Santo (Acares), atual Incaper. Nos anos 70, começamos a construir barragens. Uma década depois, nos anos 80, foi escrito o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Prodac), que por crise financeira do Estado não saiu do papel. Nos anos 90, a ausência de políticas voltada para a agricultura, por conta do agravamento da crise nas instituições públicas do Estado foi praticamente uma década perdida em termos de recursos hídricos. Já nos anos 2000, ressurgiu a esperança com os Planos Estratégicos de Desenvolvimento da Agricultura (Pedeag), mas se esvaiu no discurso por ausência de estratégias e meios consistentes.
A culpa dessa calamidade hídrica que atinge o Estado não pode ser apenas do produtor. Dividir o ônus com a sociedade e especialmente com os governos não é favor para os produtores. Os erros das políticas públicas, do passado e do presente, explicam o alto custo atual da escassez hídrica que toda a sociedade está pagando. Uma pena.
Eng. Agrônomo Helder Paulo Carnielli
Presidente do CREA-ES