A carta que o arcebispo de Vitória Dom Luiz Marcilha Vilela escreveu a seus fiéis (e aos homens de boa vontade) acertou ao afirmar que o momento político é delicado (acho mesmo grave). Mas se equivocou no diagnóstico das agruras por que passa a sociedade brasileira e ao afirmar que o País vive uma “crise de amadurecimento democrático”. Concitou os católicos a terem cautela para que não caiam em um “retrocesso de cunho golpista” ou um “parlamentarismo forçado”.
Abraçou a causa de setores do Governo e do PT que consideram que a proposta de impeachment seria um golpe à democracia, por não vislumbrarem razões legais para o impedimento da presidente. Como, se a eleição de Dilma se beneficiou do dinheiro da corrupção, tendo o tesoureiro de seu partido preso? De qual democracia se está falando? Daquela que propugna pela corrupção?
Cometeu um sério deslize também ao afirmar que “apesar de grandes empresas continuarem investindo bilhões (para ele a crise e a fuga de investimentos não ocorrem) com o olhar positivo no médio e longo prazo nota-se, uma grande insatisfação popular por causa de problemas de ordem econômica, política e, sobretudo ética”. Disse, ainda que “não se pode esquecer os avanços que nosso país tem feito democraticamente, como por exemplo, o desmascaramento de tanta corrupção. A corrupção é um problema que está ha muitos anos na sociedade Brasileira como uma epidemia”. Sinceramente, comparar o mensalão e o petrolão e suas variantes como uma endemia não é adequado, nem na dosimetria da penitencia pela gravidade do pecado.
Configura-se um exagero revelar o pecado da corrupção, histórico e endêmico na sociedade brasileira, do qual a Igreja nunca tocou em profundidade, para equiparar ao momento atual, de corrupção sistêmica, profunda, organizada em quadrilha, abrangente, que tenho certeza nunca o Venerável Arcebispo ouvira coisa igual no Brasil.
Acho que o ilustre arcebispo confundiu processo endêmico de corrupção, de levar vantagem individual, como na lei do Gerson, típico e historicamente lastreado em todo o Brasil, com um processo sistêmico, gestado e orquestrado no seio do Governo, cuja quadrilha é liderada pelo PT, para dilapidar o patrimônio Público, surrupiar dinheiro para a sustentação de um processo de continuidade de poder? Ou Vossa Reverendíssima desconhece este projeto de poder do PT? Seguramente, este não é o conceito de ganhos democráticos defendidos pelo venerável arcebispo.
Inegavelmente, na sociedade brasileira, temos a cultura endêmica da corrupção. Sempre fomos complacentes em relação às pequenas transgressões, sempre houve corrupção, aqui como em toda parte. Para redimir-se, cada cidadão deve se arrepender constritamente, desses pecados, cada um individualmente e a seus tempo, e assumir perante o altíssimo, o compromisso de não mais cometê-los.
No caso do mensalão e petrolão, dentre outros, a abrangência e os efeitos alcançam uma magnitude maior. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus e à lei dos homens. Envolve um consentimento suficientemente deliberado, premeditado, sendo ao mesmo tempo uma escolha pessoal e grupal (ação de uma quadrilha). A ignorância eventual de esse ou aquele membro, a prática conjunta e o endurecimento do coração, refratário ao delito, não diminuem, antes aumentam o caráter voluntário do pecado e do crime. Não seria o caso de um pecado venial (corrupção endêmica) estar sendo equiparado a um pecado mortal (corrupção sistêmica e de quadrilha)?
O Arcebispo poderia ter sido muito mais claro em sua carta: Dizer que muitos clérigos e, em especial, as comunidades eclesiais de base, no movimento da opção pelos pobres, confiaram ingenuamente no PT e nos movimentos sociais de esquerda, que prometiam um Brasil mais justo e humano para todos.
Utilizando-se do espírito cristão e humanitário da Igreja, desde sua fundação, o PT nos lega quadrilhas de corruptos, vergonha e um País sem rumo. Rompeu-se com o pouco de moral e ética que alguns e raros políticos do passado nos deixaram como exemplo.
A Igreja, num gesto que é lhe é próprio, procura sempre convencer, reconhecendo e corrigindo seus falhas e equívocos, como símbolo do perdão, o que repercute na alma do cristão e alcança a todos, pelo exemplo que dá no plano individual e no das organizações humanas. Não tenho dúvidas, para recuperar a ética na sociedade só as instituições da Igreja, da escola e da família.
Sinceramente, não se pode esconder no discurso do PT de combate à pobreza, doando tostões, os desvios de grandes fortunas como as de instituições e empresas públicas, no Mensalão, na compra da Refinaria de Pasadena e, há 12 anos, montando o mais sórdido esquema de corrupção na PETROBRAS.
Institucionalizou-se na Petroleira o corpo corruptível mais perverso de que se tem notícia neste país, escondendo-se no ufanismo do pré-sal, do Petróleo é Nosso, revoltando Getúlio Vargas, e ofuscando o mal, fazendo proselitismo com os pobres.
Com que autoridade os petistas continuam falando de pobreza? Depois de tanto roubo? Tiveram oportunidade, em 12 anos, de fazer a diferença em favor dos brasileiros, mas aprofundaram-nos na desesperança. O medo não foi vencido. Ao contrário foi ampliado.
Por que a Igreja se omite neste momento? Por que é benevolente com uma quadrilha de corruptos que enganou a ela mesma? Esta é a razão da minha frustração, de minha indignação e do meu sofrimento. Como Cristão e católico, consternado, sou a favor do perdão, que o peço na lei Deus, mas defendo o pagamento de penas, na lei dos homens, pelos graves delitos cometidos. A Igreja não pode ficar contra o povo. Não são suficientes os 92% de reprovação do governo e da Presidenta? Ainda que não venha o impeachment, é preciso que a igreja seja clara, como o foi Jesus em seus sermões, em suas parábolas. Do contrário, o que será dos católicos que não concordam com a visão do Arcebispo? Onde buscarão apoio, orientação espiritual para sanar suas inquietudes? Asseguro-lhes que continuarão na luta, pela ética, contra a corrupção e pela democracia. Não esperarão serem queimados no fogo do inferno.