“A indústria do café contra o monstro das cápsulas”

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Em agosto de 2012 o Bureau de Inteligência Competitiva do Café publicou o relatório “Introdução ao Mercado de Café em Dose Única e Perspectivas para o Brasil”, que apresentou diversas informações e insights sobre o tema aos agentes da cadeia produtiva. Na página 12 fizemos uma breve observação sobre o desafio ambiental criado pelas cápsulas:

“O uso de plástico e alumínio nas cápsulas do sistema fechado é um problema para as empresas do setor. As críticas feitas por ambientalistas levaram alguns governos europeus a estudar a proibição do sistema. A pressão ambientalista pode forçar as empresas do setor a buscarem novos materiais.”

Quase quatro anos depois, a pressão ambientalista sobre as cápsulas é muito maior. O criador das K-cups, modelo de cápsula mais popular nos Estados Unidos, se declarou, recentemente, arrependido pela sua criação por conta do lixo que é gerado com sua utilização. Uma ONG norte-americana criou a campanha “Kill the K-cup” e até produziu um vídeo em que um “monstro das cápsulas” cujo corpo é formado por K-cups ataca uma cidade. No início do ano, a prefeitura da cidade alemã de Hamburgo proibiu a utilização de cápsulas nas repatições públicas.

Ainda não está claro se a preocupação ambiental reduzirá o consumo das monodoses, mas o que se nota é que a indústria do café está em busca de soluções para este desafio. O Relatório Internacional de Tendências do Café v.5 n.4 trouxe uma compilação de várias alternativas que foram desenvolvidas recentemente e que reproduzimos abaixo:

O WayCap é um projeto recente, que utiliza a plataforma Kickstarter para arrecadar fundos e produz cápsulas reutilizáveis compatíveis com as máquinas Nespresso. De acordo com os idealizadores do projeto, as cápsulas são feitas de aço inoxidável e podem ser reutilizadas infinitamente, proporcionando uma economia de aproximadamente 85%, comparado aos gastos na compra de cápsulas descartáveis.

A crescente preocupação da sociedade em relação ao meio ambiente é notável. O projeto, colocado na plataforma de financiamento em março, arrecadou cerca de nove vezes mais que o estipulado e atingiu seu objetivo bem antes do término do prazo. As cápsulas da WayCap são compatíveis com as máquinas Nespresso.

Outra proposta de cápsulas reutilizáveis vem da The Coffeeduck Company. As cápsulas produzidas pela empresa são feitas de plástico PP3 e livres de BPA, uma substância encontrada no plástico e que pode fazer mal à saúde. A marca produz cápsulas para as máquinas Nespresso e Senseo.

A empresa francesa Vegeplast também oferece outra opção aos consumidores. As Eco Capsule são recarregáveis, produzidas com plásticos de origem vegetal, criados a partir de amido de milho, fibras e gorduras de cereais e 100% biodegradáveis. As single cups produzidas pela empresa podem ser descartadas no lixo doméstico comum ou encaminhadas para a reciclagem de resíduos orgânicos. De acordo com o site da marca, a biodegradação ocorre em menos de dois meses. As cápsulas são compatíveis com o sistema Nespresso.

Após cinco anos de pesquisas em parceria com a Novamont, a Lavazza anunciou o lançamento de suas cápsulas sustentáveis. Produzidas com Mater-Bi®, um plástico biodegradável, as novas single cups poderão ser descartadas com resíduos úmidos e enviadas para compostagem industrial, onde as cápsulas e os resíduos de café serão reciclados e convertidos em adubo natural para o solo. De acordo com a empresa, as novas cápsulas visam a aplicação do princípio de “resíduo zero”, que difunde a ideia de que nada é jogado fora e tudo volta a ser um recurso.

As grandes multinacionais do café também trabalham para reduzir o impacto ambiental do produto. A meta da Nespresso para 2020 é de ter capacidade para reciclar 100% das cápsulas produzidas, enquanto a Keurig Green Mountain espera, para o mesmo ano, que 100% das suas cápsulas possam ser recicladas, algo que não ocorre atualmente devido aos materiais utilizados. Nesses dois casos, a efetiva reciclagem do material dependerá da conscientização dos consumidores, responsáveis por levar as cápsulas usadas até os pontos de coleta.

No Brasil, onde o mercado de café em dose única é mais recente, a preocupação ambiental com o lixo gerado por essa tecnologia ainda é pequena. Mas com o crescimento contínuo das vendas a discussão logo se intensificará e as companhias que atuam no país também terão que buscar soluções para este problema.

Eduardo Cesar Silva, Doutorando em Administração pela UFLA e coordenador do Bureau de Inteligência Competitiva do Café.
Angélica da Silva Azevedo, Mestranda em Administração pela UFLA e pesquisadora do Bureau de Inteligência Competitiva do Café.

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