A produção da primeira safra de feijão pode ser a primeira afetada pelo fenômeno climático La Niña. As chuvas irregulares estão ocorrendo justamente em áreas onde o grão é semeado. Segundo meteorologistas, a partir de agora, a fase torna-se crítica para as principais lavouras brasileiras, pois boa parte da safra encontra-se na chamada floração.
Pelas estimativas da Céleres, cerca de 18,1% das áreas de milho estão em floração. No caso da soja, o índice é de 60%. A estimativa do governo – sem problemas climáticos – é de uma colheita de 135,8 milhões de toneladas de grãos.
“Agora é que vamos entrar no período crítico, que pode afetar a produção. Mas nenhum cenário, por enquanto, mostra quebra de safra”, afirma Paulo Etchitchury, da Somar. Segundo os dados da empresa, a umidade no solo está baixa no Rio Grande do Sul – índice médio de 40% -, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – com algumas regiões entre 30% e 40%.
O meteorologista diz que já existem indícios de problemas nas lavouras de feijão localizadas em parte de Goiás e Minas Gerais. Nestes estados há regiões com umidade de 100%, enquanto outras estão com, no máximo, 60%. De acordo com ele, no Nordeste as chuvas irregulares também podem afetar o potencial de produção deste grão. O algodão também é uma lavoura que pode ser afetada pelo clima. De acordo com o meteorologista da Somar, no Sudoeste daquele estado tem produtor replantando algodão. “Até então as coisas vinham bem. Mas agora algumas regiões, por irregularidade da chuva, dependendo da fase da lavoura, tem problemas”, afirma. Na Bahia, a umidade no solo varia de 20% a 40%.
O meteorologista Marcelo Pinheiro, da ClimaTempo, afirma que atualmente o maior problema é para os agricultores do Norte de Minas Gerais e Oeste da Bahia, onde as chuvas estão escassas. Segundo ele, há bons volumes de chuvas no Centro-Oeste, onde algumas áreas – como Lucas do Rio Verde (MT) – já estão colhendo soja. Ele acrescenta que no Sul não há relatos de problemas específicos.
Previsões
Etchitchury diz que é preocupante a irregularidade das chuvas no Rio Grande do Sul, em áreas secundárias de produção de soja e milho. As estimativas é que as precipitações continuem baixas até fevereiro. No Paraná a previsão é que as chuvas diminuam nesta segunda quinzena do mês, mas naquele estado as reservas hídricas estão maiores que as gaúchas e que as do Oeste de Santa Catarina.
Pelas projeções da Somar, a Bahia continua em situação crítica, sem previsão de chuvas abundantes. “As precipitações estão no limite, principalmente nas áreas de lavoura de soja – Oeste do estado”, afirma. Segundo ele, até o final do mês há previsão de chuvas, “mas nada tranquilizador”.
Problemas
Se as previsões se confirmarem e o País vier a ter uma quebra de safra de feijão, o consumidor brasileiro terá de continuar pagando mais caro pelo grão. De acordo com a Safras & Mercado, a Bahia tem 312,9 mil hectares cultivados com o grão, Goiás tem 48,1 mil hectares e Minas Gerais, 199,7 mil hectares. Ou seja, cerca de 40% das lavouras de feijão da primeira safra encontram-se em estados que têm tido problemas de chuvas irregulares.
Rafael Poerschke, analista da consultoria, explica que na Bahia o grão está entre a floração e a germinação. De acordo com ele, em Minas Gerais há informações de mesmo aqueles que plantaram com pivô tiveram de replantaram a cultura por causa das chuvas irregulares. A previsão da Safras & Mercado é que a produtividade média brasileira fique em 1.585 quilos por hectare e que, por conta da redução da produtividade e da área, a colheita seja 4,8% menor. Poerschke diz que os dados da empresa ainda não computam uma eventual quebra da safra.
Segundo ele, o que ocorre atualmente é que a “colheita ficará desconjuntada”, ou seja, entrando espaçadamente, dependendo do estado. Apesar de prever preços mais elevados, ele não acredita que voltem aos patamares de dezembro.
Gazeta Mercantil