Energia deverá ser o maior vilão dos preços em 2008

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A possibilidade de um racionamento de energia e o conseqüente aumento de preço, que já subiu 92% no mercado livre, devem ser a principal fonte de pressão sobre a inflação em 2008 que, depois de cinco anos, voltou a subir em 2007, segundo divulgou o IBGE na sexta-feira. No ano passado, o IPCA ficou em 4,46%, apenas 0,04 ponto percentual abaixo do centro da meta de 4,5% estipulada pelo governo.


 


Analistas de mercado avaliam que a atual insegurança no setor energético ameaça a manutenção da produtividade industrial e a trajetória de alta nos investimentos. Como o crédito – mesmo com aumento de alíquotas para operações financeiras-, deve continuar em expansão, na avaliação dos especialistas a demanda vai continuar forte em 2008. Um freio na produção, portanto, além de inibir novos investimentos, pode retardar a maturação do recursos aplicados nos últimos anos, o que geraria pressão inflacionária.


 


“É provável que tenhamos inflação um pouco maior em 2008, porque o problema este ano é energia. A dúvida é se as empresas vão continuar investindo, apesar do problema energético”, disse o professor de economia da Universidade de Brasília, Roberto Piscitelli. “Esse é o maior gargalo no momento. A dúvida é se os empresários terão um ambiente seguro para investir”. Para ele, o governo precisa dar uma sinalização muito clara ao mercado sobre a real situação dos reservatórios.


 


Os itens do grupo alimentação e bebida foram os que mais pressionaram a inflação em 2007, cujo resultado surpreendeu o próprio governo. O último relatório de inflação divulgado pelo Banco Central, em dezembro, previa aumento médio nos preços de cerca de 4%. Em 2007, os alimentos sofreram reajuste de 10,79% e, junto com bebidas, contribuíram com 2,21% no resultado do IPCA.


 


Em 2007, dois fatores contribuíram fortemente para que os alimentos pesassem na inflação: algumas economias, principalmente os Estados Unidos, desviaram milho do mercado para produzir etanol. Isso gerou uma reação em cadeia que influenciou o preço de vários outros grãos. No Brasil houve ainda alguns problemas de safra, como a do feijão.


 


Só em dezembro, o IPCA ficou em 0,74%. O preço dos alimentos foi responsável por 60% deste aumento. Com safra recorde no Brasil, o mercado já espera um arrefecimento no reajuste dos alimentos em 2008. No entanto, o economista do Banco Modal Tomas Goulart alerta para o efeito rebote do aumento dos alimentos.


 


“O grau de inércia da inflação (transferência para 2008) está entre 40% e 50% maior este ano, por causa do impacto dos alimentos sobretudo no final do ano passado. Já estamos vivendo em ambiente de inflação”, alerta. Para ele, se os preços dos alimentos repetirem o comportamento do ano passado, é possível que a inflação fique acima de 5%.


 


Essa avaliação de que este ano a alta dos preços pode ultrapassar o centro da meta fixada pelo governo, também de 4,5%, não é consenso porém. Outros economistas ouvidos acham que é muito cedo para arriscar previsões sobre o cumprimento da meta.


 


Eles temem, porém, que os preços dos alimentos se mantenham elevados, ainda que em patamares menores, já que a demanda mundial deve continuar crescendo, apesar das projeções menos otimistas da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento) divulgadas na semana passada, segundo as quais deve haver uma leve desaceleração na economia mundial.


 


No Brasil, a expansão do crédito associada ao aumento do emprego e da renda ainda devem, avaliam, manter o consumo. Nesse caso, outra preocupação é com a capacidade instalada da indústria que, confirmada uma crise energética, será insuficiente para atender à demanda.


 


Ao anunciar a compensação tributárias para a perda de arrecadação com a CPMF o ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu possível queda entre 1% e 1,5% na concessão de crédito. O governo aumentou as alíquotas do IOF e da CSLL. Isso seria, em tese, uma forma de contribuir para conter a demanda e a inflação, além de recuperar receita. “O peso do aumento das alíquotas é muito pequeno em relação aos demais impostos e taxas do mercado. Isso deve ter um efeito psicológico no momento, mas não vai inibir o crédito”, disse Piscitelli.


 


Um outro membro da equipe econômica avaliou como positiva a crise americana. Consumindo menos, os EUA contribuiriam para que a produção no Brasil não chegasse ao estrangulamento, já que a capacidade instalada está no limite da ocupação.


 


Ivo Chermont, analista internacional do Banco Modal, disse acreditar que o desaquecimento econômico em curso nos EUA não vai afetar a demanda no Brasil. Aquecida, entre outras coisas, pela liquidez provocada pela maior oferta de crédito e programas sociais que têm estimulado o consumo, a demanda doméstica no Brasil deve continuar em alta, avalia. Para os especialistas, a produção também vai se manter aquecida para atender outras demandas internacionais, como a da China, por exemplo.


 


Internamente, mais do que aumento de impostos, o efeito do anunciado corte de gastos do governo (custeio e investimentos) na inflação causa mais dúvidas, além do fato de que alguns especialistas não acreditem que o governo vá apertar o cinto. “O governo quer continuar gastando o que pretendia gastar em 2008 com a CPM”, disse Vicente Paulo Barros do Conselho de Economistas de Brasília.


 


 


Gazeta Mercantil – SP

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