Uma das piores secas dos últimos anos deixa conseqüências negativas na agricultura norte capixaba
por Franco Fiorot
A falta de chuva durante quase sete meses (maio a novembro) provocou enormes perdas na agropecuária capixaba. No município de Linhares, do mês de maio até o final de outubro, choveu 57% menos do que a média desse período. Mas teve municípios no extremo norte capixaba que a situação foi ainda pior.
“Apesar de que em agosto e setembro choveu dentro da média, para fins agrícolas, não chove desde abril. A severidade da seca está muito intensa. Essa seca está superando aquela estiagem que nós tivemos em 2003”, afirma José Geraldo Ferreira, engenheiro agrícola e coordenador do Sistema de Informações Agrometeorológicas do Espírito Santo (Siag).
Cada produtor sabe da dificuldade que está passando com os efeitos da seca. O agricultor Florindo Petri, do Córrego Farias, no município de Linhares, viu a sua produção de coco diminuir com a falta de chuva.
“Houve queda de frutos durante esse período de estiagem e de altas temperaturas”, explica Petri.
Produção caindo e animais morrendo pela falta de água são os reflexos imediatos da seca na região. Mas tem agricultor que ainda vai colher o prejuízo.
As conseqüências da seca não são apenas imediatas, o período de floração do café, quando começam a nascer os grãos que serão colhidos na próxima safra, ficou bastante prejudicado.
Especialistas já prevêem uma queda na produção em 2008.
“Mesmo irrigando, vai haver uma queda na próxima safra. Calcula-se uma perda de 25% a 30% da safra do próximo ano (2008)”, afirma o agrônomo e especialista em solos e nutrição de plantas do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), José Antonio Lani.
O agrônomo explica que “normalmente, a floração do café é no mês de julho, dependendo do clima. Depois, a segunda florada é em agosto, que é a principal. Mas com esse período de estiagem e altas temperaturas está havendo o aborto de chumbinhos e frutos pequenos. Devido a alta temperatura, a planta acaba jogando grande parte dos grãos para fora”.
O pesquisador do Incaper recomenda a utilização de materiais genéticos mais resistentes à seca para tentar minimizar os impactos na cafeicultura.
“Tem alguns materiais mais resistentes, mas só agüentam até certo ponto. Se a seca for prolongada vai acabar acontecendo o aborto e redução na produtividade”.
A floração da plantação de goiaba do Florindo Petri também ficou prejudicada pela falta de chuva e altas temperaturas. O crescimento dos frutos atrasou e devido a seca ele vai ter que colher mais tarde.
“Nós devemos estar colhendo agora só em janeiro e fevereiro. Não afetou a qualidade da fruta, mas a produção abaixou um pouco”, diz Petri.
O que aliviou um pouco a situação do agricultor foi o sistema de irrigação que ele possui em sua propriedade. Com isso os prejuízos foram menores. Porém, nem todos têm essa oportunidade.
Antonio Lani fala que sem irrigação o produtor tem muito mais problemas e acredita que uma das alternativas é o armazenamento de água.
“O ideal seria criar um programa, federal ou estadual, de armazenamento de água e conservação do solo. Imagina um período desse de estiagem sem irrigação. A probabilidade do produtor não colher é muito grande”.
Mas até mesmo quem possui sistema de irrigação pode ter dificuldades. A cada dia que passa, a água fica mais escassa em todo o mundo. Na localidade Três Marias, no município de Linhares, é possível caminhar no meio de um braço do Rio Doce, aonde antigamente chegava a quase três metros de profundidade.
Para tentar evitar que nossa água se esgote, uma ajuda pode vir do próprio agricultor na hora de irrigar a plantação. O desperdício de água no momento de irrigar a planta ainda é muito grande.
“O maior problema da irrigação é que o produtor usa sem ter certeza se está usando corretamente. Existem diversas tecnologias de irrigação hoje para usar a água de maneira eficiente. É preciso que o produtor procure uma assistência técnica para ele saber a hora e quantidade certa de utilizar a água na plantação”, ressalta José Geraldo Ferreira.
Para ajudar no planejamento da sua atividade agrícola, o produtor pode contar com o Sistema de Informações Agrometeorológicas do Espírito Santo (Siag). O coordenador do Siag, José Geraldo Ferreira, explica que “para que o produtor tenha um panorama da questão da seca, o sistema está monitorando dados na Internet (http://siag.incaper.es.gov.br), trabalhando com a previsão do tempo, alertando quando vai chover, para que o produtor possa planejar suas atividades e evitar riscos na agricultura”.
Os prejuízos na economia estadual de uma das piores secas dos últimos anos fizeram com que o Governo do Estado criasse o Programa Estadual de Convivência com a Seca (PECS). O objetivo é ajudar os produtores no combate permanente aos períodos de estiagem que o estado enfrenta todos os anos.
O coordenador do PECS e subsecretário estadual da agricultura, Cleber Guerra, diz que nessa questão específica é preciso destacar primeiro uma atuação emergencial e depois uma atuação de médio e longo prazo. “Historicamente, tem se tratado a questão emergencial e depois que começa a chover há um certo relaxamento. O Governo do Estado está criando um programa de convivência com a seca e basicamente teremos ações preventivas de médio e longo prazo, com a construção de uma infra-estrutura hídrica e a alimentação de animais no período mais seco”.
Infelizmente, o ano de 2007 ficará marcado com uma das piores secas que a agropecuária capixaba já enfrentou.
“Na minha propriedade eu nunca tinha visto um período de estiagem tão grande”, afirma Florindo Petri.
Cada um de nós tem a sua parcela de culpa nesse problema. Agora, temos que mudar o futuro.
“O que nós precisamos fazer é usar de maneira consciente os recursos naturais. Usar de maneira racional a água e o solo, aí poderemos ter uma agricultura sustentável. É preciso pensar que tudo é esgotável, então se não souber usar vai haver a escassez”, alerta Ferreira.