Nestlé, Sara Lee e Mellita miram o mercado de cafés sustentáveis. Diante disso, Brasil e Vietnã devem disputar a preferência como os maiores fornecedores. Atenta à crescente demanda mundial por produtos certificados, a Nestlé quer ampliar sua oferta e pretende, dentro de dez anos, ter 100% do café utilizado na produção do Nescafé originário do programa Código Comum da Comunidade Cafeeira, conhecido como 4C.
O Vietnã saiu na frente e foi o país a realizar o primeiro embarque de café sustentável – adquirido de modo a garantir a adoção de processos econômicos transparentes e eficientes que sejam comprometidos com as responsabilidades social e ambiental em todo o setor cafeeiro.
O segundo embarque foi feito pelo Brasil, que no mês passado exportou cerca de 200 toneladas do grão, que serão processadas na Europa. “A Nestlé não processa no Brasil porque a fábrica brasileira precisa atender a demanda local e ainda exportar”, explicou a responsável por aquisições de café em grão da Nestlé no Brasil, Linda Butler.
Segundo ela, a Nestlé usa 13 mil sacas por ano na produção do Nescafé – mais da metade do produto é fabricado nos países produtores e cerca de 15% desse montante é originário do Brasil. “Estamos agregando valor às comunidades locais, o próximo passo é adquirir 100 mil toneladas por meio de compra direta com os fazendeiros. Já estamos promovendo o mapeamento desses parceiros”, afirma.
Sobre as perspectivas para 2008, em função da demanda crescente, Butler diz que o abastecimento será parcial e que as compras que estão sendo feitas hoje deverão ser entregues no segundo semestre do próximo ano. “Queremos atingir um equilíbrio, mas sem metas”, disse. Ela afirmou ainda que a questão do preço deve mais bem discutida pelo setor. “Quando um varejista quer ter um produto sustentável dentro do seu estabelecimento, querem comprar a granel no melhor preço possível. O consumidor não está preparado para pagar um valor maior por este produto”, avaliou Butler.
Para o trader da Neumann Gruppe, Wolfgang Heinricy, no que diz respeito ao progresso do 4C no mercado, uma vez estabelecida a organização, o processo será um pouco lento. “É necessário um sistema singular com a agregação de todas as partes interessadas”, disse.
Segundo Heinricy, o Neumann Gruppe está se antecipando à demanda que haverá no futuro com a conscientização do consumidor. “Nossos clientes dizem que daqui cinco anos querem ingredientes sustentáveis. Temos que proteger nosso negócio, queremos garantir os próximos cinco, dez anos, atendendo todas as demandas. Os clientes constroem a fidelidade e querem confiança, não podemos decepcionar o consumidor”, analisou.
Heinricy alertou para o esforço geracional que terá de ser feito para atender a demanda. “Temos poucos anos, mas acho que temos condições”, disse. Ele ressaltou o fato de haver muitas fazendas no mundo que estão próximas ou adequadas a entrarem no 4C e por isso a disponibilidade pode crescer rápido. “Temos que manter o equilíbrio entre o que podemos comprar e a oferta do mercado”, avaliou.
De acordo com o trader, nesse contexto, as multinacionais são mais rápidas, liderando o processo, enquanto as indústrias locais estão em um processo mais lento em função do próprio mercado local que por falta de conhecimento ainda não demanda esses produtos em grandes quantidades. Ainda assim ele considera inevitável o caminho para a sustentabilidade. “Vocês brasileiros serão os primeiros a se beneficiarem”, afirmou.
No Brasil, as maiores cooperativas já se movimentaram para se adaptar ao programa. A Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) saiu na frente e foi a primeira a adquirir a licença oficial para estampar nas sacas o selo 4C. A Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec) também adquiriu o direito de usar o código 4C que possui validade até 2010.
O programa
O selo 4C foi desenvolvido para atender a demanda de grandes compradores mundiais por cafés sustentáveis, como a Nestlé, Mellita e a Sara Lee, que juntas representam 50% do setor mundial de café. O programa se propõe a promover a sustentabilidade da lavoura por meio de técnicas de responsabilidades social e ambiental na produção, no processamento e na venda dos grãos.
Hoje, cerca de 4,5 milhões de sacas de café de sete países produtores – Brasil, Vietnã, México, Guatemala, Uganda, Quênia e Costa Rica – estão em processo de verificação para avaliar se atendem aos critérios de responsabilidade sustentável propagados pelo 4C, volume que corresponde a 3,5% da oferta global.
O Brasil é o país que tem o maior número de grãos sendo avaliados para receber a certificação, cerca de 1,8 milhão de sacas. O País também se destaca em relação ao número de entidades que participam do programa – ao todo já são sete associações – enquanto o Vietnã participa com apenas uma.
Os cafeicultores associados ao programa recebem apoio direcionado à melhoria contínua de cultivo e do processamento dos grãos e as indústrias, por sua vez, financiam medidas de treinamento para os produtores e assumem os custos ligados ao trabalho de verificação que controla o avanço do processo de otimização e avaliação dos critérios observados pelo código.
DCI – Diário do Comércio & Indústria