O comissário de saúde da União Européia (UE), Markus Kyprianou, apresentará amanhã medidas de “restrição e controle suplementar” na importação de carne bovina brasileira aos outros comissários europeus (espécie de ministros do bloco). No dia seguinte, as medidas serão votadas no Comitê Veterinário da UE, com a participação de representantes da Comissão e dos 27 Estados-membros, informou a porta-voz de Kyprianou.
O entendimento de várias fontes em Bruxelas é de que as novas restrições européias deverão ter como alvo a produção de gado, sendo portanto de maior impacto do que se limitadas a frigoríficos.
As “propriedades” impedidas de vender carne bovina para a Europa seriam indicadas pelo próprio governo brasileiro.
Para analistas em Bruxelas e em São Paulo, seria ingênuo de parte da União Européia impor exigência só sobre as indústrias, quando o problema é o rastreamento da matéria-prima. Ou seja, para funcionar, as restrições teriam de atingir a produção. “É um verdadeiro presente de natal de grego que os europeus dão ao Brasil. Isso vai causar confusão no país”, disse um analista.
A porta-voz do comissário Kyprianou não comentou essas especulações. Certo mesmo é que a UE não vai suspender totalmente as vendas de carne bovina do Brasil para o mercado comunitário. Fontes alertam que há riscos de o Comitê Veterinário adicionar restrições contra o produto brasileiro, ainda mais porque representantes de países-membros irão dar sua opinião.
Enquanto Irlanda e Reino Unido pressionam por endurecimento, há também os que defendem a carne brasileira, até pelo interesse como importador, como Luxemburgo, Suécia, Holanda, Portugal e Espanha.
O problema é que os que defendem a carne brasileira são bem menos enfáticos do que os que atacam o produto.
Produtores da Irlanda e da Inglaterra ganharam uma batalha contra a carne brasileira, mas continuam reclamando, porque Bruxelas não vai radicalizar como eles queriam. O presidente do comitê de Agricultura, o britânico Neil Parish, que liderou a campanha pela proibição total, já manifestou dúvidas sobre a eficácia de medidas que a Comissão Européia está preparando.
Para Parish, considerando que a principal preocupação é a rastreabilidade da carne, “somente o tempo vai dizer se as propostas da Comissão serão efetivas”.
Representantes brasileiros mantêm intensos contatos com os europeus, e Bruxelas está concentrando suas medidas nas falhas de monitoramento brasileiro, rejeitando na prática as reclamações de que a carne brasileira seria um perigo para o consumidor.
Muito também vai depender da reação no Brasil ao que Bruxelas anunciar esta semana.
Valor Econômico