Passados quase dois anos do episódio de febre aftosa em Mato Grosso do Sul – estima-se que o foco ocorreu em 10 de setembro – o País ainda sofre embargos. Além dos dois estados diretamente envolvidos – Mato Grosso do Sul e Paraná – outros cinco foram afetados com a suspensão do status sanitário internacional e Santa Catarina com a restrição de venda de suínos para a Rússia. Estima-se que, neste período, os estados tenham perdido cerca de US$ 2 bilhões. A indústria de carne bovina foi menos prejudicada porque realocou suas vendas para estados não embargados. Mas a de suínos teve redução das exportações. Agora as atenções do País estão voltadas para o resultado da sorologia em Mato Grosso do Sul que pode devolver os status sanitários e encerrar, enfim, todas as restrições. A estimativa é que até o final deste mês será a real situação sanitária do estado. Com isso, o País pede o retorno dos status à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), na reunião que ocorre em Paris, entre 18 e 22 de setembro.
“A expectativa é boa. Podemos ter um resultado positivo sobre o nosso pedido”, disse o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Inácio Afonso Kroetz. Segundo ele, o governo deverá entregar à OIE um relatório atualizado sobre o que foi realizado em termos de sanidade nos rebanhos bovinos do Paraná e Mato Grosso do Sul. Ele acredita que o retorno do status possibilitará aos estados voltar a exportar para a União Européia e a Rússia. “A retomada da normalidade depende de Mato Grosso do Sul”, diz Antonio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). Segundo ele, a perda para o País foi a paralisação das negociações com os Estados Unidos para a venda de carne in natura.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, o Paraná e Mato Grosso do Sul sofrem com o embargo de mais de 50 países, enquanto cerca de seis nações restringem as exportações do Brasil.
O estado mais prejudicado – dos que não estavam envolvidos diretamente – foi São Paulo, que respondia por 60% das exportações brasileiras e hoje detém 22%. “Perdemos nossos dois maiores clientes: o Chile e a União Européia. E, com isso, mais de US$ 1 bilhão”, diz João Sampaio, secretário de Agricultura de São Paulo. O estado não registra foco da doença há 12 anos. Além disso, perdeu a oportunidade de parar de vacinar e ganhar outro status, assim como Mato Grosso, onde não há aftosa há 11 anos, e Goiás. “Vamos ter um atraso de cinco anos no nosso cronograma”, avalia o diretor da Agrodefesa de Goiás, Higino de Carvalho. No Paraná, os embargos trouxeram prejuízos de US$ 573 milhões, segundo cálculos do Sindicarnes.
Em Santa Catarina – único estado com reconhecimento internacional de livre de febre aftosa sem vacinação – o embargo russo continua e, pelos cálculos do presidente da Coopercen-tral Aurora, de Chapecó, Mário Lanznaster, 3 milhões de cabeças de suínos deixaram de ser exportadas, somando uma perda de mais de R$ 600 milhões em dois anos. “De lá para cá perdemos R$ 20 por cabeça abatida, tal foi a queda nos preços. Na Aurora, as exportações caíram pela metade e hoje só vendemos para a Rússia por meio da unidade de Sarandi (RS)”, diz. O diretor-executivo do Sindicarnes/SC, Ricardo de Gouvêa, afirma que, sem a Rússia, somente a abertura de grandes mercados da Europa, China e Japão para a carne suína poderia enxugar os excedentes.
Lanznaster lembra que quando ocorreu aftosa em Mato Grosso do Sul, o ministério só foi ao local duas semanas depois para discutir como ia matar os animais – foram 45 dias de debate. “Quando ocorreu a doença na Inglaterra, há 20 dias, em 24 horas o Reino Unido abateu e incinerou os animais e a Comunidade Européia estabeleceu 90 dias de embargo”, compara Lanznaster.
Gazeta Mercantil