Nutrição mineral e adubação da goiabeira em produção
Introdução
No Brasil, a goiabeira (Psidium guajava L.) é cultivada em três sistemas de produção bastante distintos, em virtude da dedicação que exigem do produtor, do planejamento da cultura, do capital envolvido e do destino da produção. Esses três sistemas podem ser definidos como cultura da goiaba para a mesa ou in natura, cultura de goiaba para a indústria e cultura mista. O sistema de cultura mista visa atender os dois mercados simultaneamente, tornando-se uma alternativa bastante interessante para os produtores, uma vez que os frutos de melhor qualidade são destinados ao mercado de fruta fresca, alcançando melhores preços, e o restante é utilizado para processamento, nas diferentes formas, de acordo com o tipo de fruto. A característica fundamental do modelo de produção mista é a utilização de um método de poda, denominado “poda de frutificação”, que possibilita a obtenção de frutos ao longo de todo o ano e, ainda, de três safras em dois anos (ciclo de oito meses), desde que associada à irrigação e a um correto programa de adubação.
A goiabeira é uma planta pouco exigente em relação à composição química dos solos, entretanto para a obtenção de resultados econômicos satisfatórios é necessário manter a fertilidade do solo em nível adequado, pois uma boa fertilidade incrementa a produtividade e a qualidade dos frutos. Por isso recomenda-se que sejam realizadas regularmente amostragens de solo e de folhas para avaliação da fertilidade do solo e do estado nutricional das plantas.
Diagnóstico nutricional
Em áreas onde serão implantados ou onde já se encontram implantados pomares, deve-se retirar, pelo menos, 15 a 20 subamostras para cada área considerada homogênea (com até 10 ha) para formar uma amostra de 0,5 kg que deverá ser enviada a um laboratório para análise química. Sendo a goiabeira uma cultura perene, com sistema radicular extensivo, é importante amostrar, além da camada superficial do terreno (0 a 20 cm), a subsuperficial (21 a 40 cm), a fim de conhecer possíveis limitações químicas.
Em pomares instalados, a amostragem deve ser feita na faixa de solo adubada (na projeção final da copa: 2/3 pra dentro e 1/3 pra fora). A época mais adequada para essa operação é próxima ao final do período de colheita de cada ciclo produtivo, o que garante bom espaço de tempo da última adubação e antecedência para o planejamento da seguinte. É importante também que, a cada três anos, seja observado o que vem acontecendo nas entrelinhas da cultura, fazendo-se, separadamente, uma amostragem também nesta área.
Sugere-se para a goiabeira o valor da saturação por base desejada de 70% (no mínimo 50% na linha de cultivo e 65% na entrelinha), e pH na faixa entre 5,5 a 6,5. O objetivo é suprir a demanda de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e a manutenção do pH que proporcione boa disponibilidade dos nutrientes. Se a calagem for recomendada pelo método do Al3+ e do Ca2++ Mg2+, deve-se levar em consideração o valor de Y, variável em função da capacidade tampão da acidez do solo, o valor máximo de saturação por Al3+ tolerado pela cultura (mt = 5%), e o valor variável em função dos requerimentos de Ca e Mg pela goiabeira (X = 3 cmolc dm-3).
O crescimento das goiabeiras é consideravelmente reduzido quando há deficiência de Mg, pois há redução da fotossíntese e da síntese de carboidratos nas folhas. A aplicação de calcário no pomar pode resultar na produção de frutos com menor acidez e com maior ratio, proporcionando, ainda, melhoria na qualidade dos frutos pós-colheita, com benefícios crescentes ao longo do período de armazenamento.
A amostragem foliar deve ser feita agrupando-se talhões com características semelhantes quanto a cultivar, idade, produtividade e solos homogêneos. Na época de pleno florescimento, coleta-se o terceiro ou o quarto par de folhas recém-maduras (com pecíolo), a partir da extremidade do ramo, em número de quatro pares de folhas por árvore, sendo um par por quadrante da planta, a cerca de 1,5 m do solo. Cada amostra deverá ser composta de folhas coletadas em pelo menos 25 plantas. Deve-se coletar folhas não danificadas e no mínimo 30 dias após a última pulverização.
Manejo da adubação
A adubação de produção é realizada a partir do 2o ou 3o ano de instalação do pomar, quando as plantas entram em plena produção. Deve ser aplicada ao redor da coroa, em volta de toda a planta, na projeção da copa, num raio de 0,6 m de largura e sob a área de molhamento da irrigação, de forma a tornar os adubos mais disponíveis para a maior quantidade de raízes.
Para goiabeiras com até cinco anos de idade, estudos realizados no Estado de São Paulo mostraram que há resposta significativa da planta com maior produtividade em relação ao aumento da adubação nitrogenada, em que 90% da produção máxima está associada à dose de 627 g de N por planta (aproximadamente 3,2 kg de sulfato de amônio ou 2,3 kg de uréia por planta por ciclo). Para plantas adultas (acima de 5 anos de idade), a dose pode variar de acordo com os resultados da análise foliar e da produção esperada, ficando em torno de 800 a 1.400 g de N por planta (equivalente a 4 a 7 kg de sulfato de amônio por planta ou 1,8 a 3,2 kg de uréia por planta por ciclo).
Do mesmo modo, há resposta significativa da planta com maior produtividade e maior peso médio dos frutos em relação ao aumento da adubação potássica, sendo que 90% da produção máxima observada está associada à dose de 290 g por planta de K2O (aproximadamente 500 g de cloreto de potássio por planta). Para plantas adultas, a dose pode variar de acordo com os resultados da análise foliar e da produção esperada, ficando em torno de 150 a 1.500 g de K2O por planta (equivalente a 260 a 2.600 g de cloreto de potássio por planta por ciclo).
Há evidências de que o fósforo ajuda a melhorar a produção e a qualidade dos frutos. As doses de fertilizantes fosfatados a serem aplicadas no solo dependem do teor de fósforo no solo. Tendo em vista a baixa mobilidade desse elemento, a adubação fosfatada deve ser feita, preferencialmente de forma localizada e em profundidade, devendo-se aproveitar a época de abertura das covas para adicioná-lo. Em plantas adultas, a quantidade a ser aplicada varia de 50 a 250 g de P2O5 por planta (equivalente a 250 a 1.250 g de superfosfato simples por planta).
A adubação orgânica em goiabais restringe-se principalmente à ocasião da implantação do pomar, nas covas de plantio, diante da limitada disponibilidade de adubos orgânicos. Entretanto, a adubação orgânica, sempre que possível, deverá ser efetuada, especialmente em solos arenosos, visto as reais vantagens desta prática. Assim, deve-se usar 35 a 40 kg de esterco bovino curtido a cada três anos em aplicação sob a copa da planta ou aplicações anuais de 25 litros por planta. Se o produtor preferir utilizar esterco de aves, as doses recomendadas devem ser 1/3 da quantidade recomendada do esterco bovino.
Deficiências foliares de zinco, cobre, manganês e magnésio têm sido encontradas nas plantas de goiabeira e, considerando a pobreza de alguns solos brasileiros, especialmente em zinco e boro e, as exportações desses nutrientes pelos frutos, é importante que estes também façam parte do programa de adubação de um pomar de goiabeiras. Assim, recomenda-se a pulverização de solução com ácido bórico a 0,06% (60 g para 100 litros de água) e de sulfato de zinco a 0,5% (500 g para 100 litros de água), devendo ser realizadas duas vezes ao ano, uma no início da primavera e outra após o florescimento.
Para que o produtor tenha maior eficiência no aproveitamento dos adubos recomenda-se que a calagem, a adubação orgânica e a adubação fosfatada ocorram entre o final da colheita até o início do florescimento do próximo ciclo produtivo. As adubações com nitrogênio e potássio devem ser realizadas a partir do florescimento das plantas, sendo que a quantidade total recomendada seja dividida em três parcelas iguais: a 1ª parcela durante o florescimento; a 2ª após 30 a 45 dias da primeira e a 3ª após 30 a 45 dias da segunda. È imprescindível a utilização da irrigação após a realização das adubações.
Luiz Augusto Lopes Serrano
Engº Agrônomo, D.Sc, pesquisador do Incaper
Artigo publicado na Revista Campo Vivo – edição 02
1 comentário
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