ONU alerta sobre impacto de mudança climática

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Valência, Espanha – Em uma negociação política menos acalorada e maniqueísta do que as três reuniões realizadas no primeiro semestre, cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e representantes de 130 países encerraram ontem, em Valência, na Espanha, as discussões em torno do relatório-síntese sobre o aquecimento global com um novo recado contundente ao mundo: “as mudanças podem ser rápidas e irreversíveis”. A escolha do termo concentrou críticas de delegados norte-americanos ao longo da semana, mas acabou mantido.


 


O documento será uma das bases da Conferência do Clima, da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece em Bali, na Indonésia, em dezembro. Como o nome diz, o texto resume o trabalho detalhado em milhares de páginas pelos cientistas que compõem o painel.


 


As sessões plenárias de Valência não foram um novo campo aberto para debates exaltados entre países ricos e nações em desenvolvimento, ao contrário das expectativas. Escrito por representantes de 23 países – de graus de riqueza tão diversos quanto Estados Unidos, Serra Leoa, Alemanha e Bangladesh -, o rascunho começou a ser discutido na segunda-feira.


 


Como de praxe, as negociações aconteceram a portas fechadas. O término foi divulgado, em comunicado, na tarde de ontem. “A mudança climática antrópica (causada pelo homem) e suas conseqüências podem ser rápidas e irreversíveis”, dirá o relatório.


 


A definição de “irreversíveis” gerou protestos por parte de delegados dos Estados Unidos, cuja atitude ao longo da aprovação dos três primeiros relatórios – em Paris, Bruxelas e Bangcoc – foi marcada pela tentativa sistemática de minimizar as constatações científicas sobre o aquecimento global.


 


Especialistas ouvidos pela reportagem (que preferem não ser identificados em nome do sigilo exigido pelo fórum) ao longo da semana confirmaram que delegados norte-americanos contestaram o embasamento científico da suposta irreversibilidade do efeito estufa. Representantes de países europeus intervieram como contrapeso e garantiram a manutenção do termo.


 


Os norte-americanos também criticaram a afirmação de que “todos os países” serão afetados, mas a expressão também comporá o relatório, que deve ter 23 páginas. O IPCC reforça a idéia de que todo o planeta sofrerá o impacto do aquecimento, com diferentes graus de danos.


 


O texto foi considerado “muito equilibrado” pelo diretor do Observatório Nacional sobre os Efeitos do Aquecimento Global (Onerc), de Paris, Marc Gillet. “Não é um relatório ruim”, disse outro especialista.


 


Ele será dividido em seis capítulos. Mudanças Observadas no Clima e seus Efeitos abrirá o relatório, recuperando informações de paleoclimatologia e destacando o impacto de mudanças climáticas anteriores nas sociedades. O segundo capítulo, Causas das Mudanças, reforçará a posição do homem como responsável pelo agravamento do efeito estufa.


 


Amazônia


 


Mudanças Climáticas e seus Impactos em Médio e Longo Prazos sob Diferentes Cenários, o terceiro capítulo, vai se focar nas alterações previsíveis até o momento, com ênfase na elevação de 1,1°C a até 6,4°C na temperatura média da Terra até 2100. O capítulo trará um resumo das prováveis conseqüências sobre água, agricultura e desenvolvimento. As eventuais transformações causadas em ecossistemas como os da Amazônia, ameaçada de savanização, não serão mencionadas porque os relatores optaram por não destacar dados regionais.


 


Os tópicos seguintes, sobre mitigação do aquecimento, mencionarão fontes alternativas de energia consideradas viáveis pelo IPCC. Quando essa avaliação foi divulgada pela primeira vez em maio, menções reiteradas à energia atômica e o pouco destaque aos biocombustíveis geraram questionamentos entre delegados, cientistas e ativistas. A divulgação do texto completo acontece hoje, com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.


 


Um dos objetivos do quarto relatório é dar orientação para a rodada de negociações que será inaugurada em dezembro, em Bali (Indonésia), para dar continuidade à primeira fase do Protocolo de Kyoto e discutir os futuros esforços da luta contra o aquecimento global após 2012.


 


Em Jacarta, capital indonésia, ativistas foram às ruas ontem com um globo gigante cobrar do governo medidas imediatas para a redução das emissões de carbono.


 


 


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